INFÂNCIA
Num belo domingo de sol, pela manhã, ia eu comprar o pão para tomar café, quando de repente olhei para o poente e deparei-me com aquela árvore imponente e enorme, talvez centenária, no alto do morro, não sei a que espécie ela pertence, a única coisa que sei é que toda minha infância me passara pela cabeça. Comecei a recordar dela.
Lembrava-me que toda vez que eu pegava a pipa para soltar lá estava ela para atrapalhar, minha pipa sempre ficava agarrada em seus galhos, a vontade era de cortá-la para nunca mais ela estragar as pipas e linhas, que achava tão caro na época, eu e os meus amigos catávamos sucatas para vender, e com o dinheiro daquela venda comprávamos linha para soltar pipa, e a linha tinha que ser “Corrente”, senão nós não queríamos, porque tinha uma tal de linha “Lipasa”, que nós odiávamos, pois ela embolava à toa.
Mas, às vezes, dava graças a Deus por ela estar lá, oferencendo-nos uma sombra enorme e fresquinha para descansarmos depois de brincar de polícia e ladrão, que era uma brincadeira muito boa, a gente corria todo o morro e sabíamos que ela estaria lá para nos proteger do sol. Tive naquela manhã de domingo uma sessão nostálgica , quando todas essas lembranças vieram-me à cabeça, como fiquei feliz em revê-la, sei que ela sempre esteve ali no seu local observando-me e balançando os seus galhos, como quem acenasse para mim, para que pudesse vê-la, mas o automatismo em que vivemos cegou-me diante daquela bela criação da natureza que acompanhou toda a minha infância.
Como me fez bem notá-la novamente: recordar a minha infância, de muitas brincadeiras na rua e de toda criançada reunida, não tínhamos horário para acabar com as traquinagens, nossas mães gritando do portão_ é hora disso e daquilo_ ficávamos com muita raiva, porém, sempre obedecíamos e íamos para casa. Isso que é ter infância!
Hoje, na era da informática muitas crianças não conhecem uma simples brincadeira de rua, só sabem falar de jogos eletrônicos, “playstation” e muitos outros, ficam horas na frente de um computador na companhia da solidão dos seus amigos virtuais dentro dos seus quartos, enquanto as ruas fervilham de crianças brincando e sorrindo.
Certa vez, um professor me contou que estava num restaurante no interior do Rio de Janeiro e viu uma criança chamando seus pais aos gritos _ papai, mamãe, venham ver isso _ e os pais correram assustados pensando que fosse alguma coisa grave, quando eles chegaram viram que era um simples galinha. O que ele achou inusitado foi que uma criança de 10 anos nunca tivesse visto uma galinha.
O computador veio para tornar a vida mais fácil, diminuindo os esforços do dia-a-dia, ele também tira algumas crianças das ruas deixando suas mães mais tranqüilas, vendo seus filhos dentro de casa. Até que ponto isso seria bom? Porque essas brincadeiras tecnológicas estão produzindo crianças doentes com problemas de saúde, que antes eram exclusivos de pessoas com mais de trinta anos de idade, porque essas crianças “internáuticas” ficam horas sentadas em frente aos “PCs” sem o mínimo esforço físico e ainda comendo guloseimas. Isso acaba prejudicando-as também na terceira idade, pois é quase certo de elas terem mais enfermidades do que as outras crianças. Certamente, elas não serão pessoas completas, pois perderam uma parte de sua infância para o mundo virtual.
Por conseguinte é muito importante que os pais saibam dosar o tempo de seus filhos em frente aos micros, dando a eles a oportunidade de conhecerem a infância de verdade, em que elas possam interagir e conhecerem suas diferenças tanto cultural quanto social, para aprenderem a se respeitarem, e assim tornarem-se pessoas melhores, sabendo onde termina o seu direito e começa os dos outros, e ainda não terem nenhum tipo preconceito social e étnico.
AUTOR: LUIZ CLAUDIO MACHADO