AS AVENTURAS DE DUDU E A SEITA DO DIABO (8)

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Em menos de meia hora, Dudu desceu para o almoço, decidido a não se alimentar. Encontrou as duas sentadas, aguardando por ele. Desconfortável, Dudu sentou-se, mal as encarando. Mas murmurou:

- Não estou com muita fome, não.

Fanny retorquiu:

- Depois de toda a sua caminhada, não é possível que não esteja com fome. Olha que macarronada eu fiz especialmente para você.

Nunca Dudu vira uma macarronada tão cheirosa e apetitosa. Sua boca encheu de água e a barriga roncou alto. Porém, quando lembrou que poderia haver ali uma boa dose de veneno, ele perdeu imediatamente a fome. Disse, sussurrando:

- Acho que vou ficar aqui, vendo vocês comerem.

Vovó Joana sacudiu os ombros, dizendo:

- Bem, faça o que você achar melhor.

E para surpresa de Dudu, tanto vovó Joana como Fanny atacaram a macarronada como se aquela fosse a última travessa da face da terra. Não parecia haver veneno algum, senão elas não estariam comendo tão vorazmente. Dudu, ao ver tanta comilança, começou a ficar tonto de fome. Então, dando o braço a torcer, disse:

- Pensando bem, acho que vou provar um pouquinho deste macarrão.

No final do almoço, Dudu foi obrigado a deitar-se no sofá de tanto que comeu. Também Fanny e vovó Joana ficaram atiradas num canto, sonolentas. Nem pareciam as duas mulheres malignas que haviam matado vovô Oscar por dinheiro. E Fanny, deitada na rede, roncando, estava longe de ser um fantasma morto há mais de vinte anos. Dudu não entendia mais nada. Mas seus pensamentos de fuga não haviam ainda abandonado sua mente.

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Dudu passou o resto do dia na biblioteca, onde encontrou romances sobre seitas demoníacas e assuntos do tipo. Eram livros do vovô Oscar e Dudu nunca imaginara que ele um dia havia se interessado tanto pelo assunto.

Já eram mais de sete horas da noite quando Dudu abriu a porta da biblioteca e se deparou com Fanny e vovó Joana junto à porta de entrada da casa. Com os olhos brilhantes, vovó Joana virou-se para o neto e disse:

- O filho de um grande amigo do seu avô está chegando. Teremos companhia para o jantar.

Dudu suou frio. Obviamente era alguém da seita, disfarçado de amigo do vovô Oscar. Então, um homem alto, magro e muito simpático irrompeu porta adentro, abraçando e beijando vovó Joana nos seus cabelos branquinhos. Com Fanny ele foi carinhoso, mas não tão efusivo. E quando Dudu foi apresentado, Roberto o segurou pelos ombros e declarou que não sabia que vovô Oscar tinha um neto tão parecido com ele.

Todos os quatro – Roberto, Fanny, Joana e Dudu – ficaram na sala, sentados no sofá, conversando amigavelmente. Dudu, porém, mal abria a boca. Respondia, de vez em quando com um “sim” ou “não”. Estava preocupado demais em observar naquele homem, algum traço que indicasse que ele também era da seita. Entretanto, pelo rumo que a conversa tomava, era nítido que não. Roberto chegara a ficar com lágrimas nos olhos várias vezes ao falar em vovô Oscar e como se ressentira de não poder estar presente ao enterro e prestar-lhe as suas últimas homenagens.

Joana parecia muito contente com a visita de Roberto e Fanny, apesar de estar um pouco enciumada, também. Roberto contagiava a todas elas com seu bom humor e vivacidade e Dudu deu graças aos céus por ele ter aparecido lá justo naquele dia em que sua cabeça poderia estar a prêmio. Se ele realmente não fizesse parte da seita, Dudu estava ganhando mais um dia de vida, já que vovó Joana acabara de convidá-lo para passar a noite por lá e ele aceitara. Quem sabe Roberto não o ajudaria a fugir de lá?

De repente, Fanny pediu licença para ir ver o jantar e vovó Joana foi atrás para dar um auxílio para a amiga. Restaram na sala apenas Roberto e Dudu. Ele sorriu para Dudu e, educadamente, disse:

- Você pode me dar licença um instante? Preciso fazer uma ligação no meu celular.

Dudu balançou a cabeça, com os olhos brilhando. Roberto possuía um celular! E ele era tão educado, que até podia o emprestar o telefone para ele por alguns instantes. Mas Roberto saiu para a varanda, falando sobre negócios e, pelo jeito não voltaria muito em breve. Vovó Joana e Fanny continuavam na cozinha, tagarelando. Foi então que Dudu viu o laptop de Roberto em cima da mesa.

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- Por favor, Fabrício! Leia minha mensagem!

Dudu aproximou-se do laptop disposto a enviar um e-mail para Fabrício, pedindo socorro. Se fosse rápido o bastante, poderia fazer antes que Roberto retornasse da varanda ou que as bruxas viessem da cozinha.

Mas Dudu nem havia tocado no laptop quando Roberto voltou, sorridente. Ao vê-lo rodeando seu computador, ele perguntou, amável:

- Você quer acessar a internet?

Ele mal acreditou no que estava ouvindo. Um pouco envergonhado por ter sido pego quase em flagrante, Dudu respondeu, gaguejando:

- Sim… eu, sim… eu preciso… mandar um e-mail… para meu primo.

Muito simpático e gentil, Roberto ensinou Dudu como operar o laptop, deixando-o totalmente livre para fazer o que bem entendesse. Definitivamente, Roberto não pertencia à seita demoníaca alguma e sim, a alguma ordem de anjos celestiais. Aliviado, Dudu agradeceu várias vezes seguidas e logo se acomodou para enviar o e-mail. Nervoso, por alguns instantes ele esqueceu o endereço de Fabrício e teve que consultar no seu catálogo de endereços. Vovó Joana e Fanny continuavam na cozinha. Roberto conversava novamente com alguém pelo celular. Dudu estava totalmente livre para mandar sua mensagem pedindo ajuda.

O assunto do e-mail foi bem sugestivo: Socorro. Atropelando as palavras, Dudu escreveu: “Por favor, mande papai vir me buscar. Estou correndo sério risco de ser assassinado por vovó Joana e Fanny. Elas fazem parte de uma seita demoníaca e acho que estão mortas. Encontrei o túmulo de Fanny em um cemitério abandonado no bosque. E elas mataram vovô Oscar por dinheiro. Parece que ele tinha uma grana escondida por aqui. É melhor que a polícia venha junto com papai”.

Dudu estava relendo o e-mail quando ouviu a voz de Fanny, insuportavelmente irritante, perguntar:

- Mas o que você está fazendo no computador do seu Roberto, menino?

Arregalando os olhos, Dudu respondeu:

- Ele me deixou usar.

Roberto, que a recém havia terminado de falar ao celular, explicou, inocentemente:

- Dudu apenas queria mandar um e-mail para seu primo.

Vovó Joana acabava de sair da cozinha quando ouviu a frase, ficando pálida, de repente. Fanny deu alguns passos na direção de Dudu, como se quisesse conferir o e-mail que Dudu mandava para Fabrício. Rapidamente, o garoto teclou em “enviar” e sua mensagem foi direto para a caixa postal de Fabrício. Sem querer, ele deu uma risada gostosa, que era quase um escárnio. Desta vez, Dudu ganhara. E estava salvo.

... CONTINUA ...

Patrícia da Fonseca
Enviado por Patrícia da Fonseca em 27/03/2010
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