Os Cavaleiros - parte 17
Um jardim se estendia a meus olhos desde o primeiro degrau em direção a casa de peixes. As muitas cores de rosas e outros tipos de flores enchiam os olhos e o nariz de aromas e cores.
A caminhada estava agradável, calma, serena. O aroma doce das plantas aliviava toda tensão que eu tinha no corpo.
Muitas vezes os olhos não sabiam qual direção tomar para apreciar as cores ao meu redor. Hora era o céu que disputava com um show de cores ao entardecer, hora era o vento que movimentava pétalas soltas que voavam ao seu capricho pousando em meus pés e cabelos.
Parei novamente para observar as flores, me abaixei e toquei um ramo de rosas brancas. Seja quem fosse que as cultivava, o fazia muito bem e com amor.
- Que fofo!! Não tinha parado para pensar que as casas zodiacais poderiam ficar mais belas quando enfeitadas com a natureza. – respirei mais profundamente para sugar o ar perfumado.
Sentia que alguém me observava. Aquela sensação já não era mais anormal após tantas experiências.
Voltei a caminhar e vi um canteiro com pequenos botões de papoulas... não hesitei em tocar um deles com minha mão e fazer com que todas desabrochassem ao mesmo tempo.
- Uma visão digna de um Deus.... – sussurrei comigo mesma.
Estiquei mais o olhar para um tipo de campo estreito, entre rochedos e escadarias a minha frente. Ali vi uma pessoa colhendo rosas. Apurei a visão... seria um Homem? Ou Mulher de túnica?
Balancei a cabeça tirando a segunda hipótese da cabeça, já que ouvira que era proibido mulheres por ali.
Saltei o muro que dividia as escadas e o jardim, arranhando o braço em uma roseira e me aproximei olhando fixamente para a pessoa a minha frente. Mas ela parecia tão absorta em seus afazeres que apenas me notou quando colhi o botão que se precipitava ao chão após a poda.
Sorri ao encarar o jardineiro de túnica azul clara, adornada de pequenos peixes dourados. Ele usava sandálias leves da mesma cor e tinha o andar de pluma. Não acreditei na androgenia daquela pessoa. Eu não esperava ver um homem de traços tão femininos em meio a um santuário tão machista.
Pensei comigo “que pessoa exótica”.
- Lindo jardim...– comentei ao devolver a rosa a ele.
- Obrigada ilustre visitante! – sua voz era angelical.
Em um gesto rapido, ele se virou e me estendeu um imenso buquê de rosas vermelhas e amarelas que estavam em uma cesta apoiada no pilar de mármore próximo.
- Nossa.... o.. obrigada!!! – fiquei boquiaberta.
Ele tomou minha mão e vagarosamente subiu me puxando pela escadaria que levava a entrada da casa de Peixes. Ele usava uma pulseira de diamante com símbolo zodiacal de peixes que surgiu quando estendeu a mão e a manga da túnica cedeu um pouco.
- O sol a essa hora da tarde é bem ardido, não faz bem para a pele. Mas daqui a pouco a noite fará as honras. – falou me olhando de canto de olho enquanto parávamos na varanda da casa e ele me segurava a mão delicadamente.
Meu olhar fora guiado para os aposentos internos. Observei a arrumação do lugar ao qual ele me guiou: era tudo impecavelmente mobiliado e enfeitado com flores de diversas espécies.
O moço de cabelos azuis claros, íris em mesmo tom, lábios finos e sorriso delicado percebia cada um de meus movimentos e olhares.
- Mu enviou algumas mensagens telepáticas para todos os cavaleiros. Por isso você era esperada por nós. – ele apontou uma cadeira de vime com estofados negros de veludo, colocada ao lado de uma mesa onde havia uma jarra de cristal e 2 copos identicamente luxuosos, suando por estarem cheios de refresco gelado. - Mas me diga, o que faz em um lugar como este? Qual sua busca?
Me sentei confortavelmente e peguei o copo que me fora servido.
- Estava fazendo um estudo sobre vocês. Mas, sinceramente... agora já não sei mais nem por onde começar a escrever. – as imagens de Miro e Camus me passaram na cabeça.
Meu olhar ser perdeu quando o pousei na janela, as demais 11 casas eram maravilhosas vistas lá de cima da casa de peixes.
- As doze casas mudam todos que as atravessam. – ele acompanhou meu olhar pelo local que eu havia peregrinado e completou - mas são tão poucos que passam aqui!! – senti um tom de deboche que não tinha sentido em nenhum dos outros que conhecera ali.
-Ah..... Sou Nisa, - estendi a mão para ele - mesmo que já saiba meu nome, fico meio encabulada em usar minhas habilidades de leitura de mente para conhecer pessoas.
- Sou Afrodite, muito prazer em conhecê-la pequena princesa.- fez uma reverência se ajoelhando na frente da cadeira onde eu estava e beijou minha mão.
A cena me fez rir um pouco
Princesa?? Há muito não ouvia isso.... Era um passado que nunca fora presente para mim.
- Não exagera cavaleiro! – finalizei o refresco e me levantei olhando as rosas que ganhara.
O olhar dele seguia meticulosamente cada piscar meu.
- Seja menos séria por favor.... sei que andou brincando por ai. Dava para ouvir a bagunça das casas de capricórnio e gêmeos daqui onde estamos agora!
Comecei a rir.
- Realmente eu não fui muito discreta ao passar em muitas casas zodiacais. – senti o rosto ficar vermelho - Posso chamá-lo de Dite?
Ele tirou a túnica que usava nos ombros e ficou a minha frente usando apenas uma regata branca e uma calça de linho fino e leve que lhe marcava bem a musculatura delicada do corpo.
- Claro! Não me incomoda..... mas toma cuidado com os apelidos com os demais cavaleiros, eles costumam odiar isso...
Ri pensando nas mil possibilidades de apelidos que podem ser dados por ali.
- Pior que eu também sou assim, apesar de adorar fazer piadas, não sou fã de recebel-as – olhei para ele com curiosidade... – Você é bem raro... é uma pessoa com senso de humor neste lugar, é cavaleiro e, de quebra jardineiro!!
- São dons minha cara.. – ele abriu uma das mãos e gesticulou para cima exibindo um anel de cor anil maravilhoso.
Enruguei a testa em tom de gracinha
- Como você pode ser um cavaleiro, sendo assim, tão.... "diferente"? - gesticulei para o jardim
- Gosto de dizer que "acidentes" acontecem.... E na hora da luta sou outro Afrodite, acredite. –, virou-me as costas, tirou uma rosa roxa que estava desabrochada por completo, a despedaçou entre as mãos e lançou as pétalas em cima de mim.
Fiquei olhando a dança colorida ate pousarem no chão.
- Acredito como deve ser... na verdade, não imagino vocês em luta. São pessoas tão iluminadas que fica estranho pensar em morte, sangue e armas em suas mãos. - suspiro enquanto retiro as pétalas de meus cabelos
Sorri olhando ao meu redor e pensei "E amadura de peixes, onde está?"
Por instantes parei para pensar em todos que eu havia conhecido naquelas casas. Todos com dores íntimas que apenas eu sentia, todos com o peso das responsabilidades de suas escolhas de vida. Todos com um fim trágico a se concretizar, cedo ou tarde.
Nunca deixaria de me revoltar com essa idéia de defensores de sei lá quem. Afinal, todos eles eram homens com poderes maravilhosos sendo usados apenas como armas ou meros guardiões de um Deus infeliz caprichoso.
Como uma deusa precisaria de pessoas para sua defesa?
Apesar de tudo que corria em minha mente continuei a falar com ele até que sem querer deixei escapar:
- Fala sério.... – pensei alto e o olhar de Afrodite pousou em mim seriamente. - Dite para quê uma deusa precisa de cavaleiros para defendê-la?
Enquanto ele se sentava no parapeito da janela começou a me responder calmamente com um sorriso no rosto:
-Uma deusa pode ter todos os poderes do mundo, mas sempre precisara de amigos leais. – arrumou uma mecha de franja que voava em seu rosto.
- Mas vocês são somente cavaleiros protetores, ou... algo mais ? – olhei curiosa
-Não - ele sorriu meigamente - nós além de protetores, somos amigos e uma prova de nossa amizade é defendê-la até a morte. - retomou a seriedade com essa frase. – Quem não desejaria amigos assim? Você não gostaria?
- Não - respondi prontamente - Não gostaria de ter amigos mortos sem poder fazer nada. Isso não me apetece em momento nenhum de minha existência... Desculpe.
Abaixei a cabeça.... Lembrei da dor do amigo Aioria e da sabedoria de Shaka.... tudo seria perdido se morressem em uma batalha inútil.
Peguei o buquê de flores há tinha deixado de lado e olhei o ultimo lance de escada alem da sala.
Fui ate a janela e dei um beijo no rosto do cavaleiro.
Comecei a subir as escadas floridas até o salão de onde dizem estar a própria Athena.
O sangue fervia em minha veia, naquele instante minha vontade era de esbofetear essa tal deusa humana.
(Participação do amigo Lucas Ramos!! Valeu LU!!! Ti amoooo meu lidinho!)