AS AVENTURAS DE DUDU E A SEITA DO DIABO PARTE 6

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Dudu não demorou muito no banho. Colocou uma calça comprida para que Fanny e sua avó não vissem o esfolado do joelho. Apesar de ter descido mais tarde para o café, Dudu ainda encontrou as duas sentadas, calmamente, conversando. Vovó Joana, quando o viu, abriu um largo sorriso, dizendo:

- Querido! Pensei que estivesse doente! Custou tanto a descer que eu já estava preocupada.

Tentando sorrir também, Dudu sentou à frente de Fanny. Cauteloso, ele respondeu:

- Acho que me cansei muito ontem, ajudando o seu José no jardim.

- Ah, mas ele gostou muito de você – assegurou Joana, sempre sorrindo.

- Que bom – retrucou Dudu, sem ter mais nada inteligente para dizer.

Fanny e Joana terminaram logo o café e saíram para os seus afazeres. Quando ambas se dirigiram para o lado de fora da casa, Dudu respirou fundo e afastou o prato e a xícara. Não tinha fome alguma. Apesar das duas estarem se comportando normalmente, era nítido que toda aquela situação estava um tanto forçada. Fanny, vovó Joana e Dudu pareciam sorrir demais, demonstrando uma calma que não sentiam, aparentando uma normalidade que não existia.

Os olhos de Dudu se cravaram no corredor escuro que levava à outra ala. Lá atrás daquela porta havia uma sala, certamente. Se Dudu conseguisse entrar, poderia descobrir mais coisas que ligassem sua avó à morte do vovô Oscar. Talvez ele tivesse morrido quando descobrira que tanto a empregada como a sua mulher estavam mortas. Pobrezinho, talvez houvesse sido sacrificado.

Dudu ficou surpreso com o curso macabro dos seus pensamentos. Mas a curiosidade ainda era maior que o seu medo. Ele se levantou e correu até a janela para verificar onde estariam Fanny e sua avó. Não estavam à vista. Dudu deu meia volta e, resoluto, encaminhou-se para o corredor. Desta vez, ele estava apenas iluminado por um candelabro.

O trajeto até a porta, no fim do corredor, foi feito com suas pernas completamente bambas. A cada passo, Dudu olhava para trás, imaginando que Fanny poderia aparecer a qualquer instante. Mas, ao contrário de todos os seus temores, Dudu conseguiu chegar rapidamente e sem pensar duas vezes, girou a maçaneta da porta. Para seu total espanto, ela abriu com um rangido que quase fez tremer as fundações da casa.

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Dudu ficou olhando para a peça escura, segurando a maçaneta da porta. Jamais esperava que a porta fosse abrir. Achou que ela estaria trancada como da outra vez. Entretanto, alguém esquecera de fechá-la à chave. Quando Dudu acendeu a luz, deparou-se com as túnicas pretas jogadas sobre um sofá vermelho.

Lentamente, Dudu entrou e fechou a porta. Lá dentro o ar estava abafado e empoeirado. A peça não passava de uma sala antiga, provavelmente construída no tempo da avó de Joana. As janelas estavam fechadas com madeiras, pregadas. Talvez para garantir que ninguém enxergasse nada do lado de fora. Nas paredes, haviam retratos pintados de Fanny e vovó Joana. De vovô Oscar não havia nada. Mais adiante, um altar. Espantado, Dudu imaginou que aquele seria o altar onde se realizavam os sacrifícios. Ao lado deste, um caldeirão. Sim, certamente para depositar o sangue dos sacrificados.

Dudu aproximou-se das túnicas. Eram aquelas mesmas que Fanny e Joana estavam vestindo, lá na clareira. Apesar de Fanny estar morta, a túnica era de verdade, mas o garoto não se sentiu animado para tocá-la. De repente, a qualquer momento, Fanny poderia lembrar que não tinha trancado a sala e ir lá verificar. E se Dudu fosse descoberto? Ou ficasse trancado lá? Dando meia volta, ele resolveu sair o mais depressa possível daquele lugar. Não ficaria mais nem por um segundo naquela sala demoníaca e muito menos naquela fazenda. Dudu tinha certeza que o próximo a ser sacrificado seria ele próprio.

Ele saiu da sala, batendo a porta, que rangeu horrivelmente. Nunca aquele corredor pareceu tão escuro e tenebroso. O candelabro não estava mais aceso, o que só reforçou todos os temores e pressentimentos de Dudu. Alguém precisava salvá-lo daquela ante-sala do inferno que era a fazenda da vovó Joana, aquela belzebu. Dudu precisava desesperadamente de um telefone.

Felizmente não havia sinal de Fanny e vovó Joana na sala, quando ele saiu totalmente pálido do corredor escuro. Dudu correu até o telefone para ligar para seu pai. Ele teria que dar um jeito de vir buscá-lo o quanto antes.

Mudo. Não era possível! O telefone estava mudo! E o pior de tudo, é que só existia um único telefone em toda a fazenda. Dudu olhou a sua volta, furioso. Estava à mercê daquelas duas, de uma seita inteira. E se todos eles resolvessem invadir a fazenda à noite, para sacrificá-lo em algum ritual satânico? Dudu nem precisou fechar os olhos para visualizar uma cena de filme de terror. Imaginou-se lutando contra um bando de loucos encapuzados até ser posto, inconsciente, em cima de um altar, com o caldeirão do lado, onde seria depositado o seu sangue. Seguramente, Fanny daria um jeito de pôr alguma coisa na sua comida para fazê-lo adormecer. Deveria ter sido assim com o pobrezinho do vovô Oscar.

Mas Dudu não se entregaria tão fácil. Nada mais o prenderia naquele lugar. Se não havia telefones que pudessem ajudá-lo a chamar alguém para lhe socorrer, só lhe restava uma única alternativa: fugir da fazenda a pé. De preferência, correndo.

... CONTINUA ...

Patrícia da Fonseca
Enviado por Patrícia da Fonseca em 14/03/2010
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