Caiu do céu

Era a minha última noite antes do primeiro dia de aula. Claro que eu não queria trocar de escola. Eu ia entrar no segundo ano do ensino médio e queria me formar com meus amigos no ano que vem. Mas papai me trocou de escola porque houve um escândalo com drogas onde eu estudava. Fala sério, desde quando eu me envolveria com isso? Papai precisa confiar mais em mim.

Enquanto eu dormia, um sonho me veio. Esse lance de sonho é estranho. Eu estava, tipo, atravessando a rua e um ônibus vermelho vinha em minha direção. Eu não moro em Londres. Moro no Rio. Isso não tem nada a ver. O ônibus me jogava longe como se eu fosse aquela loirinha de Premonição. Acordei assustada.

Durante o café da manhã vovô me perguntou sobre o que meus sonhos me contaram durante a noite. “Vou ser massacrada.”, respondi. Vovô ficou preocupado com a possibilidade de me ver morta, decidiu ler minha mão. Alguém precisa contar a ele que essas coisas não funcionam. “Não se preocupe, um anjo vai proteger você, Mila.”, ele disse. Fingi que acreditei e fui para a escola.

Papai me deixou perto do lugar. Parecia a pior escola do mundo. Quero dizer, a estrutura parecia boa. Mas dava para perceber que eu não iria me adaptar nem tão cedo. Não mesmo.

Da porta do prédio escola, vi papai seguir com seu carro na direção do centro da cidade. Ao voltar com o olhar para o outro lado da rua, vi um pequeno cachorrinho só. Decidi ir até lá. O cachorro era branco, mas estava tão sujo que parecia marrom. Se tem uma coisa que mexe comigo é um animal abandonado. E aquele estava quietinho, dormindo.

O plano era simples. Pegar o cachorro, levar para casa, dar um banho e levá-lo ao veterinário. O bom é que para isso eu teria que perder o primeiro dia de aula. EBA!

Eu estava cruzando a avenida, quando fui puxada com força por alguém. E quando eu já estava pensando: “Droga, um assaltante logo hoje...” vi um ônibus vermelho passando veloz. Um ônibus vermelho? No Rio de Janeiro?

“Vê se toma mais cuidado da próxima, ok?”

Me virei assustada. E lá estava ele. O anjo, quero dizer. Não, não estou brincando. Só não era aqueles anjos loirinhos. Era um anjo moreno, que nem aqueles da arte barroca em Minas Gerais.

“Tá, eu vou tomar.”, respondi. Procurei pelo cãozinho com os olhos, mas não o vi. Estranho. “Nunca vi um ônibus desses no Rio, você já?”. “Não. Coisa estranha...”, ele respondeu enquanto parecia confuso.

“Desculpe, sou nova por aqui. Mila, prazer”, disse estendendo a mão de um jeito engraçado. “Ah, também me transferi esse ano. Gabriel.”, ele segurou minha mão e me ajudou a levantar.

“Animada?”, ele perguntou. Balancei a cabeça negativamente. “Ótimo, acho que temos as próximas cinco horas livres.”, ele disse com um sorriso encantador. “Um sorvete?”

“Parece interessante.” Foi o que consegui responder.

Talvez trocar de escola não fosse ruim.

Luma Beatriz Peril
Enviado por Luma Beatriz Peril em 02/03/2010
Código do texto: T2116316
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