AS AVENTURAS DE DUDU E A SEITA DO DIABO PARTE 4

7

Para sorte de Dudu, ele perdeu a hora do café da manhã. Quando se deu conta o sol estava alto. O garoto deu um pulo da cama e vestiu-se rapidamente. Já eram dez horas. Será que sua avó se importaria com tanto atraso assim?

No entanto, quando Dudu desceu, encontrou a casa vazia. A cozinha estava impecável e até parecia que ninguém havia se alimentado por ali. Sentindo o estômago roncar, ela estava pensando o que faria para comer quando escutou uma voz grossa:

- Sua avó pediu para lhe avisar que vai passar o dia na cidade com a Fanny.

Dudu levou um susto. Quando se deparou com o jardineiro, ficou mais aliviado.

- Seu José… não sabia que estava por aqui.

- Hoje é meu dia de vir, senhor Dudu.

- Quer dizer que minha avó e Fanny não estão? – perguntou ele.

- Só voltam ao anoitecer. E você terá que fazer suas refeições sozinho.

- Quem se importa? – perguntou ele, lembrando do jardim. Na certa, ainda deveria ter algum vestígio da terra remexida na madrugada passada – Seu José, eu posso lhe mostrar uma coisa?

Em passos rápidos, nem tentando disfarçar sua ansiedade, Dudu foi até o local, seguido por seu José. A terra parecia intacta. Nem parecia que Fanny estivera cavoucando por ali, com a ajuda de uma pá. Elas deviam ter voltado mais tarde para deixar a terra bem lisinha. Seu José perguntou:

- Algum problema, menino?

- Olhe bem para este lugar – e Dudu apontou para o chão – Parece que alguém fez um buraco aqui alguma vez?

- Não, senhor – respondeu seu José, estranhando a pergunta – A impressão que tenho é que ninguém nunca mexeu aí.

- Está certo – disse ele, desanimado, olhando em volta, pensando no que poderia fazer para preencher seu tempo.

Porém, o dia de Dudu foi tranqüilo. Passou praticamente todo o tempo ajudando seu José, embora a vontade de cavar novamente o buraco fosse grande. Ao final da tarde, quase caindo a noite, as duas chegaram de carro, com compras e bem animadas. Cumprimentaram Dudu como se nada tivesse acontecido e entraram dentro da casa, conversando sem parar. Aproveitando da distração delas, Dudu se refugiou no seu quarto, ficando por lá até a hora de descer para o jantar.

8

Dudu foi ignorado completamente durante o jantar, mas nem se importou com isto. Estava morrendo de fome, já que passara o dia todo só comendo sanduíche. Depois, antes mesmo de Fanny recolher os pratos, Dudu pediu licença e subiu. Não estava com a mínima disposição de conversar com nenhuma das duas e se sentia exausto de tanto ajudar o jardineiro. Assim que colocou a cabeça no travesseiro, fechou os olhos e dormiu.

Já havia passado um bom tempo, quando Dudu abriu os olhos de repente, saindo de um sono profundo e sem sonhos. Alguma porta batera, em algum lugar. Intrigado, ele levantou da cama, ainda sonolento e abriu a veneziana, bem lentamente. Tinha quase certeza de que as encontraria novamente no jardim.

Mas não. O jardim estava deserto. Tudo estava parado, não havia vento, nem as folhas mexiam. Um movimento mais à direita chamou a atenção de Dudu. E ele teve que forçar os olhos para ter certeza de que estava enxergando bem. Duas figuras, vestidas com longas túnicas pretas e as cabeças cobertas por capuzes, caminhavam em direção ao bosque. Dudu quase berrou, pois pensou que fossem bandidos. Depois, pelo jeito de andar, deduziu que era vovó Joana e Fanny. Para aonde estavam indo aquelas duas loucas, tarde da noite?

As mulheres caminhavam firmes e resolutas em direção ao bosque. Quem diria, pensou Dudu. Certa vez, sua própria mãe dissera que vovó Joana levava uma vida muito tediosa na fazenda. Só que Lucia desconhecia o lado negro daquela senhora de pouco mais de 60 anos. Assassinato, saídas noturnas… O que mais faltava Dudu descobrir sobre a vida misteriosa da sua querida vovó?

Sem pensar duas vezes – pois se raciocinasse bem, Dudu teria ficado enfiado embaixo das cobertas – ele colocou uma roupa, calçou seus tênis e saiu do quarto, correndo, mas silenciosamente. Nunca tinha entrado no bosque, nem mesmo de dia. E agora, se vira obrigado a sair em plena noite, para verificar o que vovó Joana e Fanny estavam aprontando.

Felizmente era noite de lua cheia. Quando Dudu alcançou o lado de fora da fazenda, elas já haviam entrado no bosque. Mas o luar era suficiente para iluminar entre as árvores.

Dudu não sabia bem para que lado ir. Quando reparou que existia uma certa trilha entre as árvores, o menino resolveu seguir por ali. E se voltasse por aquele mesmo caminho, com certeza não corria o risco de se perder e nem de andar em círculos. Quando a lua se escondeu atrás das nuvens, Dudu controlou um princípio de pânico. Uma lanterna estava começando a fazer falta. Ele deu mais alguns passos, com as pernas bambas. A sua frente, a escuridão aumentava. Olhou para trás e a trilha já nem aparecia por causa das nuvens encobrindo a lua. E agora?, perguntou-se ele, apavorado. Se não conseguisse encontrar o caminho de volta, teria que passar a noite no bosque.

Vozes. Antes que o pânico se instalasse no peito de Dudu, ele ouviu algumas vozes não muito distantes. Neste momento, as nuvens se afastaram, clareando o caminho. Aguçando o ouvido, Dudu chegou à conclusão de que era uma cantoria. Certamente, era onde vovó Joana e Fanny deveriam estar. E não muito afastado dali.

Encorajado pela pouca luminosidade, Dudu caminhou mais alguns passos, na direção das vozes e dobrou à esquerda. Logo percebeu que à frente de algumas árvores, havia uma clareira. Um movimento bem no meio dela atraiu sua atenção. Várias pessoas de preto, e em círculo, estavam evocando alguma coisa. O capeta, deduziu Dudu.

Passo por passo, Dudu se escondeu atrás de algumas folhagens, de onde achou que poderia ver alguma coisa. Infelizmente, não era possível entender direito o que aquelas pessoas falavam. De mãos dadas, elas ouviam o que talvez fosse o líder, falando coisas que Dudu não conseguiu entender. Os outros repetiram as mesmas palavras. A túnica e o capuz impediam que Dudu conseguisse identificar quem era vovó Joana no meio daquela gente. Eram aproximadamente quinze pessoas. Quinze pessoas adoradoras do diabo. Dudu ficou todo arrepiado. O que seu primo diria se soubesse que ele estava ali, tarde da noite, observando um grupo de loucos chamando o demo? Que aventura, suspirou ele, desejando estar na sua cama quentinha. Um ventinho frio começou a soprar. Os cabelos de Dudu voaram para seu rosto. Quando ele afastou a mecha que cobria seus olhos, a pessoa que parecia o líder da seita o encarava através das folhagens em que ele estava escondido. O luar apareceu com força total e Dudu ficou mais visível do que desejava. Por alguns segundos, os olhos dele e do líder ficaram cravados um no outro. Depois, sem pensar duas vezes, Dudu deu meia volta e saiu correndo dali.

...CONTINUA...

Patrícia da Fonseca
Enviado por Patrícia da Fonseca em 27/02/2010
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