As aventuras de Dudu e a Seita do Diabo Parte II

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Apesar do comentário sem graça de Fanny, Dudu passou um dia muito agradável. Remexeu na horta junto com o jardineiro que aparecia a cada dois dias, caminhou várias vezes até a entrada do bosque, mas não teve coragem de entrar, e desvendou a biblioteca do avô Oscar. Quando se deu conta, a noite já havia chegado e ele subiu até o quarto para tomar um banho e se arrumar para o jantar. Praticamente não vira a avó depois que os pais partiram. Percebeu que visitas chegaram, portanto a velha se distraíra o tempo todo. Tudo parecia estar perfeitamente bem.

Faltando dez minutos para o jantar ser servido, Dudu desceu as escadas para se encontrar com a avó. Ficou surpreso pela sala estar às escuras. Porém, ele escutou vozes na cozinha. A voz de vovó Joana era doce e em tom baixo. A de Fanny, já era mais esganiçada e arrogante. As duas conversavam. Riam, inclusive. Achando tudo muito suspeito, Dudu desceu as escadas lentamente. Talvez fosse possível descobrir alguma coisa sobre a morte de vovô Oscar.

- E eu quero uma grande festa – disse vovó Joana, empolgada, cortando os tomates para a salada - Daquelas que eu dava quando era solteira ou quando Oscar viajava.

- Minha mãe sempre comentava das suas festas famosas – retorquiu Fanny – Ficaram na história.

- Bem, agora você verá de perto porque elas sempre fizeram sucesso. Já vou começar a planejar uma.

Dudu, sentado nos degraus, mal podia acreditar no que estava escutando. Velha sem vergonha! Nem bem o marido morreu e já estava pensando em organizar festas. O que aquele homem não deveria ter sofrido nas mãos dela!

- A sala é grande – prosseguiu Joana – Tem espaço para dançar e beber a vontade. Mando matar um terneiro e a comida está garantida.

Fanny deu uma gargalhada, antecipando seu prazer.

- Mal posso esperar! Suas festas eram conhecidas por quilômetros!

Dudu não agüentou e começou a subir os degraus de volta para o quarto. Mas antes, ainda escutou o que a avó estava dizendo:

- Sou muito rica, Fanny.

O jovem subiu as escadas correndo, fazendo um barulhão. Na cozinha, Joana completou o que dizia, com os olhos brilhantes:

- Sou muito rica de saúde e tenho muito que viver ainda.

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Dudu se fechou no quarto. Sentou em frente ao espelho, tenso. Assustou-se com sua própria imagem. Estava branco como cera. Parecia um defunto. Morto como vovô Oscar. Aquele pensamento o deixou quase em pânico, mas ele se controlou, fechando os olhos com força. Velha maldita, pensou Dudu. Dera um jeito de matar o marido e herdar toda a fortuna dele. Mas que fortuna? Dudu sempre ouvira dizer que vovô Oscar nunca tivera muito talento para ganhar dinheiro. No entanto, algum dinheiro ele teria deixado, senão vovó Joana não o teria assassinado.

Apesar da sua terrível descoberta, Dudu sabia que precisava manter a calma. E de mais indícios também. Não podia simplesmente ligar para a mãe e dizer que descobrira que vovó Joana matara vovô Oscar por causa de uma herança. E essa herança era por direito de Lucia também. Respirando fundo, Dudu tentou se concentrar, dizendo a si mesmo que teria que descer para jantar, como se nada houvesse acontecido. Provavelmente vovó Joana não matara o velho sozinha. A ajuda de Fanny teria sido providencial no assassinato. Ela era mais jovem, mais forte e mais rápida. Vovô Oscar era um homem alto e possante. Não deveria ter sido fácil acabar com ele.

A não ser que tivesse sido com uma boa dose de veneno. Um veneno poderoso e silencioso, que não deixasse marcas, caso algum médico resolvesse fazer uma autópsia. Que duas bem espertas, pensou Dudu, espantado. Por quanto tempo não teriam ambas ficado se esgueirando pelos cantos da fazenda, planejando o assassinato? Que coisa mais macabra!

Batidas na porta fizeram com que Dudu desse um salto no banco da penteadeira.

- O que é?

- O jantar está servido e sua avó está lhe esperando!

Era Fanny.

- Pode descer! Diga que estou terminando de me arrumar – mentiu Dudu.

Bem, era preciso enfrentar as feras assassinas. Foi neste momento que o garoto começou a sentir saudades de casa.

Patrícia da Fonseca
Enviado por Patrícia da Fonseca em 17/02/2010
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