Os Cavaleiros - parte 14

As paredes de Sagitário me chamavam para entrar. Aquela casa zodiacal parecia conter uma energia diference das demais.

Entrei balbuciando um nome e sentindo a presença de alguém que me trazia saudades.

- Amigo Aioros.... – toquei as paredes com uma das mãos sabendo que ele estaria me ouvindo, onde quer que estivesse.

As imagens de tudo que havia ocorrido no santuário voltaram à minha mente.

As guerras que os cavaleiros de ouro travaram em outras épocas, os tempos de paz e politicagem para decidir o quem seria o mestre do santuário eram vistas por mim como em um cinema.

Fiquei apoiada em uma pilastra de entrada relembrando de cada palavra da conversa que tive com Aioros na primeira vez que fui aquele lugar.

Rever tudo aquilo também me fez pensar no quanto todos aqueles homens eram vulneráveis a armadilhas humanas, sádicas e perversas.

Apesar de estarem escalados quase como deuses e terem poderes muito acima de qualquer humano, eles ainda eram pessoas com sentimentos, famílias, dores, amores e desejos.

Voltei o rosto para olhar dentro da casa zodiacal novamente. Algumas lágrimas brotaram de meus olhos quando vi a armadura de sagitário ali, montada, envolta de uma energia incrível e apontado sua flecha para quem quer que seja o visitante inusitado.

- Uma recepção... –caminhei quase que hipnotizada na direção da armadura.

Aproximei o rosto do arco e fixei meus olhos na lança que estava vertiginosamente fazendo uma pontaria.

As paredes estavam desenhadas com teias de aranha e o chão permanecia empoeirado. Era o primeiro lugar que eu via sujo e maltratado.

- É senhora armadura, você nada pôde fazer para proteger Aioros naquele dia de caçada. – acariciei a ponta da flecha - Todos estavam mesmo convictos que o cavaleiro de sagitário havia traído seus maiores votos.... e no final, ele foi o mais fiel a vida de cavaleiro.

Virei o corpo em direção a porta de saída e dei alguns passos.

Ouvi o ruído de algo tilintando na parede de pedra maciça, era o som da flecha caindo ao chão. No mesmo instante senti o baque de meus joelhos cedendo a força de uma gravidade que me obrigava a ficar ali.

Permaneci ajoelhada na frente daquela armadura, sentindo um nó imenso na garganta, levei as mãos ao rosto e deixei a mente esvaziar por algum tempo.

De meu rosto brotavam lágrimas doídas e cortadas pelos sentimentos que senti ao tocar naquela peça dourada a minha frente. Voltei a encarar a armadura embaçada pelo meu choro.

Olhei para o teto sentindo as lágrimas correrem pelo meu pescoço.

- Lamento amigo Aioros. Eu sei a verdade. Mas ninguém aqui acreditaria em uma estrangeira com hábitos estranhos como eu. Posso ter certeza de tudo que você fez agora, mas ainda é em vão, porque não sei quem ordenou sua morte, nem os motivos. Ainda penso em como você a aceitou seu fardo tão dolorosamente, tão fervorosamente... você, foi de longe, o maior de todos dourados os que já vi. Pelos simples fato de ter duvidado da verdade que parecia correta. Mas não era...

Senti o ódio que Aioria exalava pelo irmão falecido. O atual cavaleiro de Leão, carregava a vergonha de ter um irmão desertor... apesar daquilo tudo parecer uma farsa.

Fiz uma prece para os dois irmãos que estão separados pela carne e pelos sentimentos.

Aioria e Aioros mereciam de reencontrar, para acertarem as suas duvidas e as historias.

Senti que não era mais prisioneira de nenhuma energia. Me levantei, limpei os joelhos e ao virar de costas para a armadura novamente, senti um vento mover meus cabelos, um clarão breve e um zunido em meus ouvidos.

Aquela sensação e brilho eu sabia reconhecer. Era um dos golpes dos cavaleiros de ouro.

Na parede logo a minha frente estava uma flecha fincada.

Aquela arma fora atirada em mim ou para mim?

Fiquei olhando a flecha reluzente por alguns segundos, até que parasse de brilhar e mostrasse algo.

Onde a flecha se fincou havia um buraco, pelo qual dava uma visão privilegiada da casa de Capricórnio.

Fiquei olhando o buraco com uma interrogação na testa.

- O que você quer me mostrar? - Olhei em sua direção e vi a próxima casa zodiacal -

Há algo que eu deveria saber?

Um vento bateu no lugar levantando uma leve poeira que existia no chão. O céu estava sendo desenhado com algumas nuvens brancas aquela manhã.

- Não.... isso não quer dizer nada. Eu acho que continuar a caminhada será melhor.- sussurro para mim mesma e saio da casa de sagitario.

A impressão que de sempre haverá alguém ali dentro me perseguia enquanto trilhava a próxima escadaria, rumo a casa de mais um ser de chifres....

Sorri ao pensar naquela frase.

- Verei mais um chifrudo zodiacal! Capricórnio!