Os Cavaleiros - parte 12
Caminhei rapidamente pelos degraus até a porta da casa de libra. A noite já amordaçava o crepúsculo quando cheguei.
Achei o lugar estranho... Parecia que aquela casa zodiacal nunca fora realmente habitada por alguém. Pois em todas sasas que eu havia entrado eu sentia a presença de uma pessoa e ali, nada havia.
Mas nesta, apesar do jardim ser impecável, o chão estar praticamente um espelho e a mobília estar limpa, não havia presença humana, nem um resquício que seja de miasma ou energias.
Em compensação não havia cargas energéticas negativas que me impedissem de entrar. Parei na soleira da porta, encostei o rosto no batente e fiquei observando os detalhes rebuscados daquela construção antiga.
Existiam quadros de centenas de anos expostos nas paredes e muitas obras de arte antigas em pequenos pedestais de mármore.
Parei os olhos no meio da sala de recepção . Praticamente em frente da entrada, para recepcionar quem quer que fosse entrar ali, estava uma caixa dourada com o emblema de Libra.
Comecei a rir.
- Isso é pegadinha, né? – falei em voz audível. – É pra atiçar minha curiosidade?
Corri até a frente da caixa de ouro e a olhei atentamente. Como uma criança diante do brinquedo pedido ao papai noel.
- Bem, como a curiosidade matou o gato... consequentemente, vai pegar a Nisa também – falei ao tocá-la.
Desejei em meu intimo retirar a armadura dali no momento em que toquei o emblema de Libra, esculpido em ouro maciço em todos os lados da caixa. Em segundos um ruído de travas saído do objeto foi ouvido e a armadura estava na minha frente, completamente montada.
Sentei ao chão e sorri completamente extasiada com a beleza de ver mais uma daquelas obras de arte.
Esta era um tanto diferente das outras. Ali estavam acoplados seis tipos diferentes de armas brancas que ornavam o equilíbrio da balança. Pelo que eu tinha lido, não existiam armas no mundo desses cavaleiros, não deviam existir armas.
De qualquer forma era linda. Mexi nas balanças e a armadura balançou com o pequeno desequilíbrio.
Comecei a contar os artefatos de luta e lembrar seus nomes: Tonfá: uma especié de porrete com apoio para os braços, Tridente , Espada, Escudo , Nunchaku e Barra Tripla , que era como um bastão dividido em pedaços unidos por uma corrente.
Eu ainda não tinha visto uma armadura que estivesse danificada ou mesmo sem brilho. Acho que a única coisa que os cavaleiros faziam em suas vidas naquelas 12 casas eram limpa-las, já que não tinham nada pra fazer.
- Pensamento maldoso esse.....- falei comigo mesma e ri baixinho ao tocar o tridente.
Ainda sentada no chão, em frente aquela peça brilhante, tentei lembrar de alguma coisa que me disseram sobre o cavaleiro de libra.
Em algum momento um dos cavaleiros que conheci havia me dito que o cavaleiro da casa de libra não vinha ao santuário porque era idoso.
Olho pra cima e coloco a mão no queixo pensando em voz alta:
- Espera aí..... eu conheci um idoso que foi cavaleiro! Seria o mestre ancião? Ah... – sorri comigo mesma como quem resolve uma charada.
Agora sim estava explicado a quantidade de detalhes que ele havia me dado sobre os cavaleiros quando visitei a China e o conheci. Na verdade, foi ele quem mais me atiçou a curiosidade de vir até aqui, na Grécia, para conhecer esse povo louco que se achavam protetores de uma deusa que nem existia direito.
Fechei os olhos e vi uma projeção de sua figura, sentada em uma rocha próximo àquela cachoeira maravilhosa na China.
Dohko, o Cavaleiro Dourado de Libra, lutou na última Guerra Santa no ano de 1743. Ele ficou com o encargo de vigiar o selo que aprisionava Hades e seus seguidores. Para esse fim Atena concedeu ao cavaleiro de libra a técnica do envelhecimento retardado, que permitiu que o coração dele batesse em um ritmo menor que de qualquer ser humano. Assim, em 243 anos, Dohko envelheceu o equivalente a apenas 24 anos e desde então, manteve-se fixo e em vigília nos Cinco Picos Antigos de Rozan, na China.
- Você hein..... velho doido! – falei sorrindo.
Sentia que aos poucos eu estava a vontade para usar minhas habilidades de telepatia com aqueles cavaleiros.
Ouvi a risada do ancião quando percebeu minha comunicação. Seu riso me era inconfundível
- Você, menina Nisa, achava que eu fosse revelar tudo assim, sem te aguçar a curiosidade de ver quem eram os cavaleiros de Athena? Acho que tenho muitas respostas para suas perguntas, mas fica melhor se você mesma as achar, né?
Fiquei surpresa em ouvir a voz do velho responder minha telepatia.
- De qualquer forma está sendo um prazer andar por aqui. Vejo que não sou tão diferente assim como eu pensava ser. Agora que vi as habilidades dos cavaleiros – cocei os cabelos sabendo que ele me ouvia.
Sorri comigo mesma pois eu, sinceramente, havia me encontrado ali.
- Mas ainda é... não sentiu como alguns cavaleiros reagiram quando sentiram o grau de sua psique? – ele gargalhou sabendo todos os detalhes sórdidos.
- Na verdade só um cavaleiro maluco não reagiu bem a minha visita. – comecei a rir lembrando das cenas junto com o velho que estava a milhares de km de distância - Outro se espantou e os demais me sondaram o bastante para me confiar muitos conselhos e dicas.
- Boa sorte em sua cruzada, menina. – a voz rouca do ancião se despedia de mim.
- Obrigada. - Fiz um gesto de agradecimento unindo as mãos e a imagem dele em frente a queda de água de Rozan se desfez em minha mente.
Passei alguns instantes ali deitada no chão em cima de um tapete chinês.
Um aroma delicioso veio até meu nariz.
Olhei para uma mesa a minha direita. Estava divina, posta com um peixe assado e saladas.
Sorri e falei:
- Bem, não se faz desfeita quando se é chamada para comer na casa de alguém! – me levantei em um pulo do chão e procurei um local em que pudesse lavar minhas mãos.
Naquele instante vi uma pessoa em pé há alguns metros de mim. Era outro criado como o que eu tinha visto na casa de Gêmeos.
Provavelmente quem mantinha a organização daquele lugar, gostava de ser gentil comigo.
- Olá!! – Cumprimentei
- Boa noite. A refeição é para a... – interrompi a fala dele, sabendo o que falaria.
- Não me chame de senhora... que disso eu não tenho nada!! – cortei sua frase ao meio e toquei a garrafa de vinho que estava em suas mãos. – Obrigada, mas não bebo... prefiro água. – sorri para ele.
- Tudo bem – O menino de roupas brancas de cabelos negros esvoaçantes sorriu, virou as costas e buscou uma jarra de cristal com água.
Serviu-me e saiu de forma que eu não notei.
Hospitalidade estranha. Onde já se viu receber uma pessoa em sua casa sem ao menos o proprietário estar em nela?
Lavei minhas mãos, sentei a mesa e me servi.
Após comer, voltei ao tapete macio e me deitei para descansar. Não sabia que horas da noite eram.
Nada podia acontecer, não é?
Cai no sono.