Nina & Caio, Parte VI - Final

Eu saí do carro um tempo depois feito uma idiota. O que, se você pensar, não é motivo pra me criticar, afinal, eu não estava enxergando absolutamente nada.

- Cuidado pra não cair, Nina.

- Eu não vou cair. Eu to bem. – eu falei enquanto saía do carro guiada pelo Caio.

Eu odeio ser guiada pelas pessoas. Mas o fato é que quando você é guiada pelo cara que você curte, a situação muda. Um vento passou nos meus cabelos, que eu deixei soltos e trouxe para a minha cara. E eu não fiquei falando nada, porque se eu abrisse a boca, eu ia acabar comendo cabelo. Eca.

Quando ele finalmente tirou a faixa dos meus olhos eu pude olhar onde estava. E a paisagem linda a minha frente. Eu já conhecia o lugar, uma vez tinha vindo aqui com os meus pais, quando tinha 10 anos. É, há muito tempo.

Mas são coisas que não dá esquecer. Como o verde das árvores, o céu muito azul, as criancinhas brincando e os casais de namorados. E claro, principalmente os caras que saltam de asa delta. É tão legal, eles parecem...pássaros, sei lá. E mesmo eu não gostando muito de pássaros(podem me apedrejar, mas eu acho eles sem graça,) é muito legal.

- Imagino que você já tinha vindo aqui antes. – foi o que o Caio falou.

- Pra ser sincera, já. Mas eu era pequena. Me lembrava pouco. Eu gosto daqui.

- É, meio a sua cara. Sempre quer estar por cima, no controle, sabe?

Nós rimos.

- Não necessariamente. – eu disse. – Mas dá uma certa sensação de poder ver tudo de cima, você não acha?

- Uhum, dá um pouco, nem tanto. Eu não estou me sentindo o Super-Homem.

- O problema é com você então. Eu me sinto a Mulher Maravilha. – brinquei. – O engraçado é que eu gosto tanto daqui, e nunca mais voltei. E é tão perto de casa. Como a gente se acomoda às coisas, não?

- Então, preparada para a surpresa?

- Como assim? – eu falei meio desligada, olhando para Baía.

- Eu pensei que você sonhava em voar de asa delta.

O quê? Eu ia voar de asa delta? Há! Era essa a minha surpresa? Fala sério, o Caio não é um amor? Óbvio que ele é. Tipo, nem a minha mãe nunca deixou eu voar de asa delta. Ela dizia que era coisa de maluco gastar dinheiro pra pular de um lugar alto pra caramba e sentir medo. O lance é que a minha mãe nunca entendeu que eu não tenho medo de altura. Eu gosto. E depois, com o tempo eu acabei me esquecendo dessa vontade.

- Como você sabia?

- Ah, Nina, você falou outro dia, quando a gente estava saindo da faculdade, não lembra?

Eu virei pra olhar pra ele. O tempo todo eu estava olhando em direção a cidade do Rio.

- Eu não lembrava de ter te falado isso. Eu to sem palavras, sério.

Tipo, quanto que era pra voar de asa delta? Barato não deveria ser. Não mesmo. E eu nem era namorada dele nem nada. Tipo, mesmo se eu fosse namorada dele(vai sonhando, Nina) ele pagaria um salto de asa delta pra mim, pagaria? Porque eu não conheço ninguém que tenha ganho um vôo de asa delta do namorado.

Logo depois a gente saltou dali. Foi muito bom. Eu senti aquele poder que eu tinha contado para o Caio mais cedo. A paisagem do Parque da Cidade de Niterói é realmente deslumbrante. E quando você sai dali voando é realmente muito bom. Mas eu acho que não consegui aproveitar a emoção de voar tipo, 100%. Porque eu ainda estava preocupada sobre o porquê do Caio ter preparado essa surpresa pra mim.

Mas eu não quis perguntar nada sobre isso. Sei lá, não me deu vontade. Ou eu só estava meio chocada com tudo, tanto faz.

O resto do dia foi legal. Peraí, correção: MARAVILHOSO! O sol estava menos quente que nos outros dias típicos e a gente ficou ali, conversando e tomando água de côco. Sentados onde os caras da asa delta saltam, mas agora eles não estavam aqui porque não tinha mais vento suficiente pra isso nesse horário.

Legal é que daqui de cima a gente não percebe que a Baía de Guanabara é um monte de esgoto. Parece que é uma baía limpa. Uma ilusão que é boa da gente ter de vez em quando. E um pássaro pousou do nosso lado. E eu, que não gosto muito de pássaros, achei aquele bonito. Com penas verdes e vermelhas. O assunto parou e nós dois ficamos admirando aquele passarinho. Eu percebi que mesmo eu achando os pássaros sem graça, ele poderia voar quando bem quisesse, sem precisar de asa delta. Invejei ele.

- Deve ser legal ser um pássaro né? Poder voar quando quiser. – Caio disse como se estivesse lendo minha mente.

- E também poder pousar nos cabos de eletricidade sem levar um choque mortal. – completei.

Caio deu uma risada e o pássaro saiu voando. A gente se olhou. E foi aí que ele me beijou. Algo meigo, se você não é eu. Mas se você é eu, é algo extremamente, altamente fofo. E mágico. Porque eu duvido que outra pessoa conheça um cara ao mesmo tempo tão gato e tão legal quanto Caio, que leve ela pra voar de asa delta. Duvido mesmo.

Acho que eu poderia ter ficado ali pra sempre, sentindo a brisa marítima, beijando o Caio, e ouvindo aquelas musiquinhas irritantes que os pássaros cantam.

Poderia se nesse momento, eu não ouvisse:

- Nina?

E foi aí que, espantada, olhei pra trás e dei de cara com Marcos. É, o meu chefe que queria que eu fosse pra Ponte cobrir o manifesto dos ativistas do Greenpeace.

Ele olhou zangado pra mim e falou:

- Segunda-feira você pode ir lá no jornal buscar suas coisas. Você não trabalha mais com a gente.

Mas, por mais estranho que pareça, eu nem liguei. Aquele jornal é muito chato mesmo.

- Tá, tudo bem. – disse sorrindo.

E voltei a beijar o Caio.

Luma Beatriz Peril
Enviado por Luma Beatriz Peril em 21/01/2010
Código do texto: T2042837
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