Nina & Caio, Parte V
Acordei deitada no sofá. Bem, e o rosto do Caio estava ali olhando pra mim. Tá, eu deveria estar sonhando. Mas eu pisquei de novo, esfreguei os olhos e lá estava ele, lindo como sempre, olhando pra mim, naqueles olhos simples e castanhos. Engraçado que as pessoas sempre idealizam olhos azuis ou verdes como os mais bonitos. Mas os olhos simplesmente cor de avelã do Caio eram, sem dúvida alguma, mais bonitos que qualquer par de olhos azuis ou verdes.
- Nina, você tá bem?
- Quê?
- Eu perguntei se você está sentindo alguma coisa.
- Ah, to sim.
- Sério, o que você sente? – ele perguntou preocupado.
- Não, o “to sim” quis dizer que “sim, eu estou bem”. – expliquei ainda meio confusa
- Talvez seja melhor levá-la ao hospital. – foi o que eu ouvi uma voz de mulher falar.
Mas que diabos de voz de mulher era essa que não estava em meu campo de visão?
Caio me levantou para que eu pudesse ficar sentada no sofá. E foi aí que eu vi Marina ao meu lado.
- Eu já disse que estou bem! Mas que droga! – e me levantei.
O problema é que assim que eu me levantei tropecei. E quase caí. Mas aí o Caio me segurou e não deixou que eu caísse de costas no chão. Sexy, não? Bem, seria sexy se minha cabeça não estivesse explodindo de dor. Ah, e claro, também o fato de Caio chegar aqui em casa às oito da manhã também não ajudou muito. E por falar nisso...
- Hei, Caio!
- Que foi?
- Que diabos você está fazendo aqui às oito da manhã?
Eu sei que não deve ser muito certo virar pro cara que você curte e perguntar que diabos ele está fazendo na sua casa. Mas são oito da manhã em pleno sábado, então acho que eu estou nesse direito.
- Eu falei pra você que ia passar aqui às oito.
- Mas da manhã? E se eu tivesse dormindo?
- Por isso eu te avisei, caramba. Você pensou que fosse o quê, oito da noite?
Ótimo, agora eu estou indo encontrar meu chefe e me juntar aos ativistas do Greenpeace que estão lá no vão central da Ponte. Talvez eu decida me jogar de lá.
Quando a gente não sabe o que fazer, tem que improvisar, certo? Pois é aí que entram os meus planos B, C, D e aí por diante. Comecei a tossir. Tossir, tipo assim, muito mesmo.
Sentei de volta e olhei pra janela.
- Calma, Nina. – Caio começou a falar, mas eu não parei de tossir, acho que não estava preparada para ouvi-lo – Olha, eu acho melhor a gente ir ao hospital.
E foi mais ou menos a essa hora que Fernanda chegou lá no apartamento.
- Oi, gente. Caio, que legal que você está aqui!
Como assim, “Que legal que ele está aqui”? Quem tem que achar bom ele estar aqui sou eu. Ela passa a noite fora com o namorado dela e quando chega vem em cima do cara que EU gosto e fala que é “legal” ele estar aqui? Qual é a dessa cachorra afinal? Eu ainda não entendo como ela e Marina podem ser primas, fala sério.
- Fê, acho que o legal é você ter chegado agora. – disse Marina. – Nina bateu com a cabeça, desmaiou. Sei lá, você já tá quase se formando. Deve entender.
- Claro, claro.
Odeio Fernanda se sentindo a inteligente. E daí que quando ela passou pra Medicina foi em segundo lugar na classificação geral? Não to nem aí.
Ela ficou me fazendo umas perguntas idiotas sobre o que eu sentia e tal. Depois disse pra eu não dormir, que podia ter tido uma concussão.
Mas a minha teoria diz que ela estava errada. Ela, Caio e Marina. Porque creio que meu desmaio foi devido a causas emocionais. Bater a testa na janela não causaria um desmaio. Eu sou cabeça dura. Figurativamente e literalmente.
- Eu não tive uma concussão, que droga! Minha cabeça nem tá doendo direito! – gritei.
- Ok, ok, não está mais aqui quem falou. – Fernanda disse e foi lá pra dentro.
E realmente segundos depois não estava, amém.
- Eu tenho ainda muito o que fazer. – resmunguei.
- Ótimo, então você está pronta? – Caio me perguntou.
- Pronta pra quê?
- A gente ia sair, esqueceu? Perdeu a memória, foi? – ele soltou uma ironia.
Foi aí que eu me lembrei:
- Ah, tá. Eu...não sei. Mas acho que estou.
Ótimo, ele não me ama mesmo. Porque senão ele estaria aqui às oito da noite e não às oito da manhã. E quanto a vovó? Ela estava bem. E o trabalho o resto do grupo que fizesse. Eu sempre carrego todo mundo nas costas, hora da vingança.
- Só deixa eu trocar de roupa, ok?
- Por quê? Você está linda!
Linda, eu? Caio disse que eu estou linda? O que esse cara quer comigo afinal? Matar do coração?
- Tá, então, eu já vou.
Peguei minha bolsa e saímos.
Dentro do elevador que eu comecei a pensar sobre onde a gente estava indo.
- Caio, onde que a gente vai agora?
- É uma surpresa para você.
- Ah, tá.
O mais engraçado é que eu estava tão confusa com as coisas que aconteceram nos últimos minutos, que nem me preocupei em ficar ansiosa. Eu só queria me livrar dos problemas. Queria que o dia acabasse logo, com tudo resolvido da melhor forma possível. Seria pedir muito? Talvez para a Nina aqui seja, né?
Ele abriu a porta do carro pra mim, o que eu acho uma atitude extremamente machista, porque tem subentendida uma mensagem que os homens fortes e mulheres frágeis, ridículo.
Mas eu não falei nada, porque existem coisas muito mais sérias a serem discutidas e eu não tava a fim de falar nada.
- Deixe-me vendar seus olhos.
- O quê? Você tá louco?
- Ah, você não vai implicar, vai?
Na verdade eu ia, mas eu não tinha nada a perder. Ou tinha?
- Tá, tudo bem. – ele vendou meus olhos com uma faixa – Vai demorar? – perguntei com um sorriso. Acho que já havia sido muito mal humorada por hoje.
- Não, daqui a pouco a gente chega.
- Tá legal.
E comecei a rir com aquela situação toda.