Odisséia – Caminho do meu coração

O caminho parece infinito...

Como cheguei aqui?

Tenho que ir em frente

Lembro-me que cheguei até aqui por um motivo,

Mas qual?

O que exatamente eu estava buscando quando iniciei essa jornada?

Sigo em direção a uma única estrada

A placa me avisa para voltar

Mas voltar de onde e para onde?

Lembro-me dos dias de sol

Das vezes que me peguei cantando feliz ao pensar em você,

De quantas vezes sorri por te ver sorrindo

De todos os sonhos que tive com você,

Mas nessa estrada solitária tudo é frio

Tudo é vazio

Aqui é tão escuro

E só agora que parei foi que percebi como cheguei aqui

Com lentos passos despreocupados,

Pensado saber para onde ia

Tentando me enganar

Esperando por flores e pelo sol

Mas ignorando a vegetação morta e a escuridão total

Agora não tenho tempo para dormir

O ar é tão pesado que me puxa para baixo

Com uma força anormal

É tão estranho não saber para onde voltar,

Vasculhar minha mente procurando um motivo para querer retornar,

E não achar nada lá,

Talvez tenha chegado a um ponto irreversível

Para onde mesmo leva essa estrada?

Só posso ver um ponto vazio

Bem ao longe

Sinto que antes ali existia vida

Algo que pulsava e gerava um sentimento chamado amor,

Quanto tempo faz isso?

Lembranças tomam minha cabeça sem permissão

E a mente vai clareando lentamente

Criando algo conhecido como esperança

Será possível?

Possível que em meio aquele vale escuro de perdição um sentimento como esse brote?

Ele vem estampado com seu rosto,

O ar outrora estranho e duro agora é doce como seu perfume,

Sim, definitivamente é esperança,

Forte como os raios de sol de um dia de verão

Os pés encontram uma razão para seguir nessa estrada,

E lentamente a marcha continua,

A morte aos poucos vai cedendo lugar à vida

O buraco que estava distante agora vai chegando mais perto

A estrada parece ter um fim

Será essa a solução de tudo?

Achar um propósito em um caminho que só segue em frente?

Agora estou tão perto daquele buraco que posso tocá-lo

A presença de algo vivo permanece cravada ali

Mas o que está faltando?

Seu rosto continua firme ao meu lado

Mas pouco a pouco a percepção vai se aguçando

O corpo treme em choque com a verdade que vem em forma de raio

Ali devia ter um coração

Ali deveria estar o meu coração...

Batendo,

Gerando vida

Mas em seu lugar só havia um amplo buraco

Então esse era o propósito?

Aos poucos tudo começa a escurecer

Para onde foi à esperança?

Onde está a imagem do seu rosto que estava me fazendo seguir em frente?

O frio está voltando

Impregnando meu corpo

E o ar agora está ainda mais pesado,

Outro choque percorre meu corpo,

A percepção novamente em ação

No buraco onde deveria bater meu coração havia um vidro,

Eu pude ver tudo lá fora

Pessoas conversando comigo

E eu respondendo automaticamente

Vivendo sem estar vivo,

Como um mero personagem,

Ouvindo risadas forçadas,

Frases sem nexo,

Vi-me no escuro,

Buscando conforto em um quarto silencioso,

Aquilo do lado de fora era o que eu me tornei?

Como escolhi isso pra mim?

Eu tinha que voltar, deveria haver um jeito de recomeçar,

Mas a estrada atrás de mim sumiu

E constatei que estava preso,

Preso dentro de mim mesmo

Criei um doce caminho ilusionista até esse trágico fim

Trai meu coração e entreguei-o em uma bandeja,

E agora me tornei um mero prisioneiro

Essa era a condenação por amar tão fervorosamente?

Sentei-me no que restou da estrada

Que não tinha retorno e nem lugar para seguir

Então era isso?

Eu ia me tornar um espectador da minha vida

Ia observar tudo de camarote

Um corpo sem coração,

Mas aos poucos uma luz foi tomando forma

E logo seu rosto resplandeceu em minha prisão perpetua,

Ficou logo claro como seria

Teria de ver-me fingindo viver

Fingindo sorri

Enquanto nada pulsava sob meu peito,

E saber que meu coração lhe pertencia

Era algo que já havia lhe dado

Algo que já havia decidido antes mesmo de pensar nisso

Foi algo feito sem pensar

Isso foi feito no momento que soube que te amava,

Mas aquilo não parecia tão ruim

Não visto dessa forma

Seu rosto estava presente

E eu sinto que sempre vai ser assim

O preço que paguei foi um coração

Mas quem precisa disso?

Eu posso viver assim,

Posso aprender a observar

Posso tornar-me um bom ator e fingir que estou bem

Enquanto a verdade aqui é forte

Aqui dentro tudo é real

Mas não te culpo

Talvez eu já soubesse como ia ser

E preferi ignorar

Foi algo que você me tomou sem querer

Algo que você nunca vai usar

Porque talvez não saiba que ele agora vive em você

Foi assim que você escolheu

Do lado de fora eu te vejo

Você está sorrindo

Não está consciente do que acontece aqui dentro

E lá fora eu finjo sorrir também

Finjo finalmente ser feliz

Mas daqui de dentro

Na platéia exclusiva

Uma lagrima pende em meu rosto...

Jean Pereira
Enviado por Jean Pereira em 12/01/2010
Código do texto: T2024453
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.