Nina & Caio, Parte IV
Acordei com o despertador tocando. Definitivamente minha vida não é nada fácil, não mesmo. Por exemplo, em pleno sábado, um sol lindo lá fora, eu tenho que acordar cedo. Ah, tá, você não entendeu o porquê de “o sol lindo” estar relacionado com não acordar cedo? Simples, sol lindo é sol quente, o que é um aviso divino para que eu me mantenha trancada no delicioso e gelado ar condicionado do meu quarto. Acho que eu não deveria morar no Brasil. Devia morar na Islândia. Um sol a mais de 30ºC, antes das oito da manhã – isso em horário de verão, na verdade antes das sete da manhã – não é pra mim.
Desliguei o despertador e levantei da cama. Afinal, tenho que ir à luta. Um longo dia me espera!
Tomei logo um banho gelado, para que o sono fosse embora, coloquei um short jeans e uma regata. Tá, eram 7:20. Eu iria arrumar a minha cama depois– se a Ju não tivesse na cama ao lado, completamente apagada, eu faria isso agora – então era só tomar café da manhã, pegar meu notebook, verificar meus e-mails, fuxicar um pouco o Orkut do Caio(ainda bem que o meu não acusa!), e começar a fazer a minha pesquisa para o trabalho. Depois eu mando a minha pesquisa pra Ana ir fazendo a parte dela. Aí já vão ser umas 10:00. Ligo pro salão, marco hora lá pras 16:00. O que me dá 6 horas para ir em Nova Friburgo, visitar a vovó no hospital e falar com o papai que tá lá com ela. Talvez dê tempo de passar em casa pra almoçar com a mamãe. Tá, é isso que eu ia fazer.
Abri os e-mails, nada de importante. Enquanto eu estava vasculhando o Orkut do Caio, Marina levantou. Ela colocou o café para ser feito na cafeteira e sentou-se ao meu lado.
- Nossa, você já levantou! Isso é ansiedade?
- Não, Mari, muita coisa pra fazer mesmo.
Nisso meu celular começa a tocar. Quando que eu vou ter um pouco de paz, santo Deus? Peguei o telefone e atendi. Era o Marcos, meu supervisor no jornal, dizendo que eu deveria ir para lá agora. Ele está louco? Eram 07:50!
- Nina, uma multidão de ativistas do GreenPeace interditaram a Ponte-Rio-Niterói! Vai pra lá.
- Mas, hoje eu não posso!
- Pensei que você estivesse lutando para subir de carreira em algum lugar. Você não quer ser jornalista, cobrir matérias? É isso que a gente faz. Passo aí pra te pegar em vinte minutos.
- Mas, Marcos, você não entende. – fiz uma voz tristonha. – A minha avó está entre a vida e a morte. Essa noite meu pai me ligou dizendo que ela havia piorado. Ela quem me criou. E como se fosse minha mãe. Eu vou lá falar com ela hoje. – agora fingi uma voz desesperada de choro – Se eu for com você, ela pode morrer sem ter falado comigo! E aí, eu posso virar uma suicida!
Acabou que o Marcos entendeu e me liberou.
- Pensei que a sua avó já estivesse fora de perigo. – Mari me disse.
- Ah, mas ela está. Deve ter alta essa semana. – respondi rindo, mas com os olhos fixos no computador.
- Você não presta! – ela resmungou rindo e foi em direção à cozinha.
Nesse exato momento o interfone tocou.
Marina atendeu e falou com cara de surpresa para quem estava na portaria:
- Uhum, ela tá aqui.
Então ela passou pra mim e sussurou “Caio”.
O quê? O Caio estava lá embaixo? Mas são oito da manhã? Será que ele desistiu? Será que aquele não era ele, agora ele acordou desesperado e veio pedir desculpas? Quero dizer, ele pode ter um irmão gêmeo do mal que eu não conheço ou então um espírito maligno pode ter se apossado de seu corpo! É isso, nada de Caio para a pobre Nina aqui.
- Oi - respondi meio que chocada.
- Ah, Nina, são oito horas. Está pronta?
O quê? É isso? Esse idiota, imbecil, desgraçado veio aqui às oito da manhã? Quem ele pensa que é? Quem ele pensa que eu sou?
- Ah, peraí. – olhei em direção à janela e vi que a Marina estava pendurada olhando pro carro dele lá embaixo. Soltei o interfone e fui parar ao lado dela. Foi aí que eu vi aquele carro azul marinho dele lá embaixo. E também foi aí que eu simplesmente desmaiei.