Nina & Caio, Parte I
Eu já estava saindo da faculdade. Essa rotina de trabalhar durante o dia e cursar Jornalismo à noite era bastante cansativa. Se bem que não era bem trabalho. Era apenas meu estágio. Mas eu trabalho mais do que os funcionários efetivos daquele jornal, então o que eu faço durante o dia pode ser considerado trabalho. Quero dizer, eu acho.
- Quer uma carona para a república, Nina?
Era o Caio que me chamava. Ele é um amor mesmo. Mas eu acho que ele mal sabe que eu existo. Na verdade ele até sabe que eu existo. A diferença é que não do jeito que eu sei que ele existe. Nem que eu seja apaixonada por ele. Isso é patético. É só algo diferente.
- Você vai pra lá agora? Porque eu não quero te atrapalhar, você sabe.
- Deixa de bobeira, eu vou para Icaraí de qualquer jeito. Vamos logo, é perigoso você andando sozinha por aí.
Entrei no carro e agradeci. Logo em seguida ele me deu um beijo no lado esquerdo do rosto. Deve ser por isso que ele me vê como um amigo. Você não leu errado. Deve ser algum amigo homem, porque ele não se interessa por mim. Afinal, quem se interessaria por uma garota que vai ao Maracanã quase todo domingo ver qualquer jogo? Seja Vasco, Fluminense, Flamengo ou Botafogo, eu estou sempre lá. É o espetáculo do futebol. Além do fato de eu não usar maquiagem ou fazer escova.
Mas se for para Caio se interessar um dia por mim, vai ter que ser do jeito que eu sou. Sem maquiagem e respeitando meu futebol, ele é sagrado. Ei, mas o que eu estou falando? Eu nem estou apaixonada por ele, não é mesmo? Pois é, porque eu não estou.
No meio do caminho, o celular dele tocou. E ele atendeu no trânsito. Isso é ilegal. Mas foi sexy. Meu Deus, o que eu sou? Uma vândala? Uma bandida? É, acho que é isso que eu sou. Ou estou me tornando.
- Tá, eu estou indo pra aí. – ele disse na linha. E depois voltando-se para mim. – Que droga!
- Que foi? – eu só quis manter a conversa, porque, bem, eu já tinha problema demais para saber o dos outros.
- Eu vou ter que voltar pro campus pra pegar uns papéis com o Gustavo. Mas fica tranqüila que eu te deixo em casa primeiro.
- Não precisa se preocupar comigo, eu posso me virar. Quero dizer, eu posso pegar um ônibus, você sabe que eu não quero te atrapalhar...
Foi aí que eu percebi que o carro parou. Em frente ao apartamento que eu estava dividindo com mais três amigas. O que não faz dali uma república, pelo menos ao meu ver. Mas a Ju, uma das meninas, se refere assim. E por conseqüência, o Caio, que é veterano em Direito, estuda com ela.
- Obrigada. – eu disse enquanto tirava o cinto de segurança. – Valeu mesmo, Caio.
Mas antes de eu sair do carro, ele olhou pra mim rindo e disse:
- O que você pretende fazer amanhã?
Vejamos, amanhã é sábado. Tenho que visitar a vovó que está no hospital devido a seu terceiro infarto. Depois tenho que passar no jornal pra ver se tem alguma coisa que eu possa fazer. E tenho que fazer um trabalho surreal para quarta-feira. Tipo, super tranqüilo, não?
- Eu? Não sei. Por quê?
- Quer sair comigo?