Os Cavaleiros - parte 7
Cap 7 – Guia de Touro
Eu comecei a sentir de longe a energia do próximo local que iria visitar. Me parecia ser bem seguro e amigável.
Trilhei meu caminho quase correndo de ansiedade.
Quando estava nos últimos degraus para tocar na entrada da casa de touro, fui recebida por um homem moreno jambo, muito alto mesmo, de cabelos curtos quase raspados, extremamente musculoso e de braços cruzados na soleira da porta.
Ele estava a paisana, vestia uma calça preta, tênis escuro e uma camiseta pólo.
- Aff.... você é segurança de danceteria militar no Iraque? - olhei incrédula para a estatura daquele homem e enruguei a testa de forma engraçada.
Ouvi uma gargalhada forte sair da boca dele e pensei comigo: “ufa! Deu certo a tática de fazer alguém rir antes de me conhecer!”
- Se eu perder esse emprego de cavaleiro, pode ser um futuro promissor para mim, pequena desobediente! - Gargalhou novamente, se inclinou levemente para igualar a minha altura e me encarou com um sorriso.
- Prometo que faço meus contatos! – pisquei divertidamente.
Meu interlocutor deu um passo para trás abrindo caminho para que entrasse na segunda casa.
- Você é bem expansiva garota... senti seu cosmo de longe – ele voltou a sua posição original de braços cruzados e pernas semi abertas, agora de costas para a entrada.
- E eu tenho isso é??? - olhei ao meu redor - Ué, pra mim isso era coisa de quem tinha treino especial, no máximo eu tenho aura.... e olhe lá!!
Ele sorriu amigavelmente.
– Tudo possui energia e cada um da o nome que desejar a ela. Não se prenda tanto aos nomes que damos que você se encontrara melhor.
O riso dele ecoou entre as demais casas.
Fiquei em silencio pensando em que havia me dito, me sentei na beirada de um braço de sofá de madeira.
- Entre, conheça a casa de Touro pequena ovelha saltitante. Seja bem vinda ao meu recanto. - ele abriu os braços a apontou ao seu redor
Olhei para ele sem entender a piada.
A casa zodiacal de touro não tinha muitos ornamentos, era basicamente composta de moveis rústicos e armas medievais penduradas na parede.
O único ornamento luxuoso do local era a armadura montada próxima ao centro da sala. Um touro dourado reluzente que me chamou atenção.
O nome daquele homem truculento de 2 metros de altura e 130 quilos era Aldebaran. Sua essência era calma e passiva.
Descobri que ele havia se tornado cavaleiro de ouro aos 7 anos de idade, por provar que uma pessoa pode ter uma defesa tão ou mais poderosa que qualquer ataque.
De fato, aquele imenso homem, era reconhecido entre os seus como o mais forte fisicamente. Dotado de uma resistência fora do comum, embora demonstrasse pouco o seu poder em público.
Ao longo de nossa conversa ele se mostrou uma personalidade bastante sincera e despachada, adorava rir de meus trocadilhos sem se preocupar com as aparências. A forma protetora dele conversar comigo e me aconselhar a atravessar as casas zodiacais mostrou que gosta de estar em companhia de alguém que ele possa tratar como criança.
- Bem... acho que alem de segurança de festas barra pesadas, você daria um ótimo professor!!
Perguntei sobre informações geográficas do santuário. Eu havia notado que estava longe do centro turístico. Ele prontamente começou a narrar em tom de guia enquanto caminhava ate uma janela apontando os locais que descrevia:
- O santuário que você vê é um perímetro coberto de sagrados campos de força que o mantém incólume dos olhos de seres humanos comuns. Pouco antes deste local se encontram alguns monumentos da Grécia Clássica, o que faz com que muitos turistas o visitem durante o dia. No entanto este caminho torna-se cada vez mais íngreme conforme se aproxima do santuário, tornando o mesmo inacessível para homens comuns. Já que o caminho se converte em uma seqüência infindável de rochedos e desfiladeiros.
- Ta explicado porque quase ninguém conhece esse lugar! – cocei a cabeça raciocinando.
- Ultrapassado todo este percurso de caminhos de pedra, você chega ao santuário de Atena. Ao término da passagem formada pelos desfiladeiros do Santuário, tem dois caminhos possíveis. Um deles guiará diretamente aos pátios principais do santuário, outro levará ao cemitério dos cavaleiros.
Arregalei os olhos com curiosidade.
- Cemitério... – repeti baixinho procurando entre as rochas que ele me mostrava algo que indicasse uma referencia.
- Logo após esta passagem você verá pátios que são divididos em inúmeras sub-localidades. Ali normalmente se encontram os cavaleiros de hierarquia abaixo da elite e os soldados rasos. Ali também existe a área de treinamento das amazonas, o alojamento dos cavaleiros, a sala das torturas e o templo do assistente do regente.
Engoli a seco as descrições que me eram feitas. A voz do cavaleiro de touro ecoava didaticamente pelo recinto:
- Este caminho foi o que você fez para chegar ate aqui: – ele desenhou no ar usando a paisagem como mapa - Você atravessou apenas o pátio principal, que constitui basicamente de um enorme terreno íngreme, dotado de uma subida cada vez mais acentuada rumo a montanha sagrada das doze casas.
Enruguei a testa. Era incrível o caminho visto por aquele ângulo.
- Reparei que no meio deste caminho havia um prédio que parecia um museu.. o que era? Estava trancafiado e havia tantos guardas que mal pude parar para tirar uma pedra das sandálias.
Ele pensou um pouco e me deu a resposta:
- Você passou pela biblioteca oficial do santuário, onde assuntos administrativos de menor porte se resolvem. Os cavaleiros de prata e bronze geralmente ficam neste local aguardando por ordens de seus superiores.
- Credo... isso por que tratam de assuntos de pequeno porte!
Ele sorriu.
- Você já viu grande parte disso que eu contei, mas guarde os pontos importantes disso tudo:
O Coliseu: você passou por ele antes de entrar na primeira casa zodiacal. É uma arena próxima à casa de Áries. É utilizada para treinamento e para lutas entre aspirantes a cavaleiros.
A entrada do santuário: íngreme, chata, poeirenta e cheia de pedras. Por esta estrada você passa pela morada dos cavaleiros de bronze e biblioteca. Caso não use as vias comuns, o caminho pode ser feito de forma VIP por meio de escadas.
As 12 casas: Áries, Touro, Gêmeos, Câncer, Leão, Virgem, Libra, Escorpião, Sagitário, Capricórnio, Aquário e Peixes.
A casa do mestre: Local onde vive o Grande Mestre, líder dos 88 Cavaleiros. Não se pode chegar ao Templo de Atena sem antes passar por lá.
O templo de Atena: é o maior tesouro do santuário, ali esta a estátua de Atena e os aposentos da própria deusa.
- Quer dizer que estou hospedada onde ninguém jamais esteve? – pisquei assustada quando terminei de ouvir aquela parte da explicação.
O homem moreno olhou em duvida:
- Você esta na casa do mestre? – e apontou para a penúltima construção da colina, depois da casa de peixes.
Fiz sinal que sim com um movimento de cabeça e os olhos dele se arregalaram
- Bem menina... não é a toa que você obteve concessão de passagem por nós. – ele ainda estava espantado mas sorria pra mim de forma confortável.
- O que existe depois do templo de Atena? - me pendurei em uma imensa janela e olhei na direção do caminho que eu seguiria.
Aldebaran respirou e se sentou em uma pesada cadeira pela primeira vez naquela longa conversa.
- É uma colina muito alta e de difícil acesso, no topo há uma construção semelhante a um templo. Uma espécie de oráculo usado para interpretar as estrelas e prever o futuro. Chamamos de Stal Hill.
Apurei os olhos para a paisagem.
- Uau... Montanha da estrela... é um nome bem sugestivo. – fixei meu olhar no local e senti um arrepio. – Ali parecem ter almas... muitas alias!
- O que você sente alem de Star Hill é o cemitério dos cavaleiros. Somente os cavaleiros de Atena podem ser sepultados neste local. Ele fica a beira de um imenso desfiladeiro repleto de tumbas de cavaleiros que morreram a serviço de Atena, os túmulos do local são demarcados apenas por lápides de pedra onde jaz talhado o nome do cavaleiro e sua constelação
- Levarei flores para aqueles que ali jazem, assim que eu terminar essa peregrinação. – bati no ombro direito de Aldebaran – Obrigada pelas explicações.
Ele é um cara legal, muito divertido. Energeticamente era oposto da calma do Mu. Mas muito gentil! Nunca pensei que fosse ser recebida assim por um ser do tamanho dele.
- Menina, se passar por lá, encontrara um local onde existem cavaleiros debilitados. Faça uma visita. Sua energia é capaz de renovar todo um exercito, sem duvidas.
Este local que ele havia contado tratava-se de um pequeno templo no meio de um bosque. Fazia parte das lendas locais de que qualquer um que passasse por ele, teria suas doenças curadas.
Dizem que uma estátua de Atena verteu uma lágrima que caiu no lugar que agora ficava as arvores.
Em tempos mitológicos os cavaleiros que estavam à beira da morte eram levados para esse templo para que tivessem uma morte tranqüila. Desde então, o local passou a ser utilizado como uma espécie de hospital para cavaleiros feridos.
Um sorriso maroto surgiu em minha face e ele logo fechou um dos olhos em duvida imaginando minha pergunta.
- Estou gostando de conhecer vocês... então por que as pessoas têm tanto medo de conhecer os “douradinhos” então?
Ele deu de ombros.
- Sei lá..... criaram tantas regras para o povo comum se afastar de nossas vidas, que viramos lendas. Você entenderá depois de ver todos os cavaleiros.
Coloquei o indicador em meus lábios fazendo cara de quem pensava seriamente.
- Bem... só vou conhecer se sair daqui, então, vamos lá! – sorri e me despedi.
Dei um abração no amigo taurino e sai em disparada para a próxima casa.