Os Cavaleiros - parte 6

Cap 6 – Chifres de ouro

Dei alguns passos hesitantes para entrar, a luz do sol batia nas colunas externas desenhando formas geométricas no chão.

Parecia que poucas pessoas passavam por ali. Havia uma fina e quase imperceptível camada de poeira que deixaria rastros se alguém ali andasse. Dei uma volta na entrada da casa zodiacal e falei:

- Tem alguém por aqui? Estou entrando...

Caminhei pé ante pé, para não ser mal educada. Respirei profundamente a procura de algum aroma.

Não havia nada la dentro. Apenas paredes cinzas, cobertas de uma leve poeira.

Dei uma volta completa no recinto de pedra desenhada, me encostei em uma pilastra e desci escorregando ate esntar-me no chão.

- Nada??? Vim aqui e não vou ver ninguém? Ninguém?? – Falei comigo mesma de forma indignada.

Senti algo se movimentando atrás de mim. Prendi a respiração por um segundo para ouvir.... havia algo ali sim, mas não era bem dali de dentro que vinha a energia que sentia.

Algo se modificou no ar, uma pequena brisa, leve demais para mover as folhas de uma planta que estava a minha frente se manifestou atrás de mim.

Um pequeno clarão me fez piscar repentinamente e uma pessoa surgiu na minha frente.

Cocei os olhos para entender o que via. Um rosto nada estranho estava ali. Olhei de cima a baixo, para ter certeza, pois ainda estava sentada no chão.

Aquele homem a minha frente tinha o semblante calmo, pacifico e uma aura de paz em volta de si.

Me levantei em um pequeno sobressalto sem apoiar as mãos no chão. Parei com o rosto há centímetros do nariz dele.

- Você é o sacerdote que conheci na Índia...- eu estava quase engolindo a língua de nervoso.

Sorri e baixei o olhar sentindo o rosto inflamar de vergonha. Ele me deixara ler sua mente. Uma pessoa tão meiga não podia ser um cavaleiro de ouro! Feito e treinado para matar.

Ele sorriu. Era como se lesse minha mente da mesma forma que eu.

- Sim. Sou Mu, o cavaleiro de Áries. – cruzou os braços diante de mim. Cada movimento que ele fazia sua armadura tilintava.

- Ah que alívio... pelo menos você não tem cara de quem quer me fritar. As pessoas me colocaram medo danado de vir ate aqui.

Ele riu baixinho.

Levantei a mão direita para tocar o peitoral da armadura que vestia. Estava boquiaberta para cada detalhe em que pousava os olhos. Aquilo era uma armadura vestida em uma pessoa! Deveria pesar muito.... era de ouro mesmo!

Como quem lesse os gestos e pensamentos de uma criança Mu respondeu calmamente:

- Sim, é de ouro de verdade – o sorriso maroto brotou no rosto dele

- É linda demais .. - eu ainda estava com os olhos presos nos chifres dourados que pendiam enrolados em seus ombros, a ponta do indicador estava próxima do afiado final do chifre.

O homem pacifico enrugou a testa de forma curiosa e olhou ao redor após responder.

- Pelo menos dessa vez você não derrubou nada por aqui em seu transporte e ainda não caiu. - gesticulou para o vazio do salão – A não ser que estivesse sentada ali por ter levado um escorregão nesse salão bem limpo que vê!

Rimos novamente. As sombras no chão de pedra polida se modificavam conforme o tempo passava.

Conversamos umas boas horas. Na verdade, tinha muitas curiosidades sobre as armaduras e ele sabia sobre todas.

- Pesa muito andar com isso? - falei levando uma das mãos ao capacete que estava ao lado de nós, sobre um móvel.

- Quase nada... é quase viva. – Mu aguçou o olhar diante de minha curiosidade.

- Posso? – espalmei as mãos para encostar as mãos juntas próximas ao peito dele.

Antes que ele sorvesse o ar para me responder, eu havia tocado com certa pressão com ambas as mãos em sua armadura. Um estalo surdo acompanhado de um clarão me afastou um pouco de Mu. A armadura simplesmente se projetou fora de seu corpo e remontou ao meu lado, na forma de um velocino de ouro fazendo ruído de metal jogado ao chão.

O rapaz trajava naquele momento apenas calças bem justas e uma regata verde musgo, que não combinavam com seus cabelos mas que destacavam seus olhos verdes.

Mu olhou para mim com calma e com uma ruga de duvida em seu rosto lívido. Comentou tocando no topo da figura de um carneiro:

- Curioso. Isso nunca ocorreu antes. Você sente algo estranho? – pegou minha mão e a colocou na fronte da peça dourada.

Fechei os olhos por um segundo a procura de alguma coisa estranha vinda daquele objeto.

- Ah...não. Acho que... – tirei a mão meio assustada com a aquilo - eu imaginei como seria vê-la montada e isso aconteceu... Desculpe... a cabeça fala mais alto! - fiquei vermelha novamente.

Uma armadura era feita para obedecer a um único dono. Aquele acontecimento estava fora dos relatos que qualquer pessoa havia visto.

- Pelo menos você tem uma arma contra qualquer cavaleiro que queira te fazer mal..... eheh. – acariciou meu cabelo e olhou para o relógio aceso com as formas zodiacais. - Boa sorte nas próximas casas.

Eu não tinha reparado, mas o relógio de pedra com chamas nos símbolos zodiacais fora aceso. A primeira chama estava apagada.

Olhei para Mu com um sorriso nos lábios e agradeci.

- Valeu! - puxei suas mãos estalei um beijo entre elas unidas.

Mu, em seguida, estalou outro na minha testa. Pisquei sorrindo. Amei aquilo! Estava me acostumando com aquele gesto.

Ao sair dali senti uma imensa massa de proteção ao meu redor. Voltei a olhar o rapaz que me encarava na saída da construção de pedra esculpida.

- Estranho isso. – toquei meus braços que formigavam levemente

Com aquela armadura nem parecia o sacerdote que me deu água naquela construção na India.