Uma normal cerimônia anormal

O noivo esperava no altar a chegada da futura esposa. Futura esposa que estava do outro lado da cidade, dentro do carro alugado rumo à catedral.

O noivo estava com muito calor na igreja. O teto alto não era suficiente para refrescar aquela noite de dezembro. E a noiva... que não chegava! Suando frio de tensão, o noivo segue até uma sala ao lado da sacristia, liga o ventilador na direção do rosto e bebe água gelada. Ainda bem que o salão de festas terá ar condicionado.

No carro alugado, a noiva, seu pai e sua sobrinha e também dama de honra ouvem um estrondo e fumaça começa a sair do capô do carro. A noiva se desespera porque se atrasou mais do que devia. Em uma hora e meia, haverá outra cerimônia na mesma igreja. O motorista sai do carro e olha o motor. “Sem chance”, e diz algumas coisas que a noiva não entende. “Vou chamar outro carro”, ele termina. “Não posso esperar”, a noiva é enfática. “E o que podemos fazer?” é o que o homem em sua roupinha de chofer solta no ar.

Na igreja, o noivo sente um mal estar ainda pior. Seu estômago vibra. Ele tira o terno e abre a janela da sala em que se encontra. Se ele não tivesse fazendo um jejum desde cedo para comer o máximo possível do buffet da festa, talvez estivesse melhor. Ou pior.

A noiva, ainda no carro quebrado, usando seu vestido gigante e cheio de rendas, pega o celular do pai e liga para a sua futura sogra, avisando que vai se atrasar.

Na igreja, uma senhora vai falar com o padre. A noiva vai se atrasar devido ao carro de aluguel que acabou de quebrar. O padre é firme: “ a cerimônia deve começar em dez minutos ou vai entrar no horário marcado por outro casal.”

A noiva recebe o recado do padre. Desesperada, sugere que peguem um táxi. “Minha filha não pode chegar à igreja num táxi”, é o que seu pai diz. Mesmo assim, cinco minutos depois os três estão num táxi. O problema agora é o trânsito.

O noivo pede que tragam alguma comida. Seu irmão traz um saquinho de pipocas salgadas que comprou do pipoqueiro da pracinha em frente à catedral. Mas na hora em que finalmente vai comer, é avisado da chegada da noiva. Ele corre ao altar.

A jovem anda normalmente ao som da marcha nupcial. O problema é que é “normalmente” como um office boy sabendo que o banco fecha em três minutos. A dama de honra não consegue acompanhá-la. Incrédulos, todos assistem à cena.

O padre começa seu discurso, mas é interrompido pela noiva. “Nem vem, padre. Meu carro de aluguel quebrou, cheguei num táxi depois de 25 minutos presa no trânsito. E o senhor ainda vem me perguntar se aceito o Tony como esposo? – ela estava vermelha devido ao estresse, e não ao blush. – “ Se isso fosse palhaçada, eu não teria gasto tanto dinheiro nisso. São DOIS anos de economia, padre.” – ela ergue dois dedos- “DOIS anos!” – repete.

Não se sabe o motivo, espanto ou fome, mas o fato é que o noivo, que já sabemos ser Tony, desmaia no momento do fim do discurso.

Definitivamente, essa cerimônia não é muito normal. Talvez esse casal não seja muito normal. Afinal, quem é normal?

Luma Beatriz Peril
Enviado por Luma Beatriz Peril em 23/12/2009
Código do texto: T1993077
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