Os Cavaleiros - parte 4
Cap 4 – Começou
Logo depois de quase fugir da refeição, parei na pedra em que tinha sido abordada por um cavaleiro pela primeira vez.
Saudosamente comecei a observar o lugar. A noite já pairava com seu manto azul escuro sob a minha cabeça. As casas brancas da cidade eram iluminadas por lamparinas que me fizeram lembrar de pequenas estrelas. Existiam poucas nuvens a esconder os enfeites do céu e me peguei contando as constelações que estavam visíveis e comparando com as luzes da cidadela abaixo.
Não havia lua naquele horário que atrapalhasse o brilho intermitente e colorido dos pequenos pingos de luz que guiaram meu olhar para as casas zodiacais.
Olhei cada degrau que tinha que subir para chegar ao final do santuário. Notei cada construção. Havia uma seqüência de casas abaixo do palácio principal onde eu estava, eram alguns tipos de templos, eu acho. Eu via 12 templos que obedeciam a ordem dos 12 signos zodiacais.
O meu pensamento foi praticamente instantâneo quando olhei aquilo tudo:
- Claro! Essas são as casas do zodíaco representadas no relógio de fogo! – um turbilhão de perguntas vieram a minha mente.
Aquilo era fascinante... eu já sabia que a maioria dos cavaleiros guardiões dali conheciam meu rosto, entretanto eu não sabia quem eram.
- Não era justo eles conhecerem tudo sobre mim e eu não saber nada sobre nenhum deles! - Coloquei a mão no queixo pensando o que eu podia fazer. - Acho que posso tentar conhecê-los. – murmurei para mim mesma.
Não tinha idéia de quantas horas passei divagando sobre o assunto.
Tive um impulso de sair correndo para aquele lugar que eu olhava com tanto desejo. Mas antes de dar o primeiro passo levantei o rosto e olhei para o céu novamente... já era noite. Talvez tarde demais para começar uma jornada.
A lua nascia amarela e inchada no horizonte, quase tudo estava banhado em sua luz de prata. Agora as constelações cediam seu brilho para a esfera prateada.
- Deixarei a excursão para manhã. – estalei os dedos e apontei para o relógio e para as escadarias.
Coloquei as mãos no bolso do jeans surrado que usava e sai andando de volta para o alojamento em que estava hospedada.
Ao passar em uma determinada escada que dava para um salão de reuniões esculpido em mármore branco senti e vi algumas imagens. Hesitei por alguns segundos.
Uma sensação ruim alagou meu coração. Aquele lugar estava marcado energeticamente com uma imagem de luta. Eu vi sangue, gritos, discussão..... algo confuso, muito confuso vinha até a minha mente.
Balancei minha cabeça tentando espantar a mensagem mental que alguém estava me passando. Aquilo era uma impressão, eu não via nada na minha frente. Aos poucos as imagens se desfaziam como fumaça.
Em meio as imagens que eu recebia vi Aioros vestido com uma roupa dourada. Parecia estar fugindo. O cheiro férreo de sangue me subiu ao nariz. Um estalo me fez sair correndo em direção as escadas externas, assustada.
Já não sabia qual escadaria tinha que subir para chegar ao meu quarto.
Passei despercebida pela guarda que estava no portão local. Mas uma barreira de energia estancou minha corrida para o salão principal. Bati de frente com a testa em uma barreira invisível, porem, palpável.
- Ai..... me machuquei... – gemi quando o som oco de meu corpo batendo ao chão.
Desnorteada, sem saber se o que eu via era uma ilusão ou impressão mental ou fantasmas, permaneci olhando para cima, tentando entender em que eu havia batido com tamanha violência.
Ali havia um grupo de pessoas, de costas. E a barreira era formada por eles. A energia que brotava de seus corpos era tamanha que formava uma barreira. Na verdade a concentração de energia não formava uma parede física e sim uma parede espiritual.
Na minha frente havia umas oito pessoas que estavam em volta de uma espécie de luz dourada que brilhou mais intensamente quando bati meus olhos nela.
Observei mais atentamente o objeto que cintilava, eu já o conhecia. Aioros estava com ela na visão que eu tinha sentido há minutos atrás.
O chão rodou sob meus olhos de repente. Vi um clarão e senti algo queimar em minha testa.
O ruído dos pássaros me acordaram. Abri os olhos atordoada, segurando avidamente os lençóis com as unhas. O corpo estava banhado em suor, reconheci o teto do quarto onde estava hospedada.
O que eu vira era um sonho. Me sentei entre os travesseiros e olhei para a janela.
Galhos de um jasmineiro batiam no vidro derrubando flores no parapeito. Eu não me lembrava de ter ido para a cama aquela noite.
Levantei para olhar o lado de fora da janela e uma tontura me fez sentar na cama novamente. Passei as mãos na cabeça. Havia um corte profundo em minha testa.
- Onde consegui ele?? – pensei, passando a mão nos cabelos para levanta-los e olhando no espelho que ficava ao lado da cama.
Senti um leve som de batidas. Alguém estava na porta de meu quarto. Ouvi os passos cerimoniais de alguém entrando.
Engoli a seco quando senti o perfume doce e reconhecível. Era Saga, era a sua voz, entretanto ele me parecia muito diferente.
- Você atrapalhou uma reunião minha ontem, mocinha. – olhei para a mascara vermelha que escondia o rosto de quem estava parado no batente da porta.
- Eu estava voltando para cá, como você percebeu... – parei de falar quando olhei bem de perto para meu anfitrião.
Aquele não era a mesma pessoa que me recepcionou ontem! Levantei da cama, cheguei bem próxima dele e toquei a máscara que usava.
– O que houve? – fui repelida com uma tapa nas mãos.
- Em meio a uma corrida frenética você acabou batendo com a cabeça na armadura de um dos cavaleiros que estavam em minha sala! Tem idéia do que isso pode causar? Pior de tudo, ainda desmaiou na frente de todos! – com a voz alterada ele virou-se e saiu.
- Desculpe... – abracei o travesseiro sem entender o motivo da bronca que estava levando. Afinal, quem estava com dor, perdida e confusa era eu.
Ele deteve os passos no corredor e voltou a se virar em minha direção. Era visível a mudança no tom de voz.
– Agora você está bem? Posso continuar meus afazeres? – virou levemente a cabeça para direita mecanicamente enquanto falava em tom serio.
- Estou bem sim, obrigada por se preocupar – falei baixinho tentando entender aquela atitude avessa da que tinha presenciado ontem.
Olhei incrédula para o ser trajado de uma túnica branca bordada de dourado que me dirigiu as costas naquele momento.
As imagens de tudo que tinha visto e sentido ontem a noite estavam confusas em minha cabeça. Era como se alguém tivesse liquidificado meu cérebro e servido em um Milk Shake para um demônio.
Demorei para me vestir aquela manhã, estava com o estomago revirado e sentia a cabeça girar. Parecia o sintoma de ressaca.
Um vestido de algodão de cor indefinida com pequenas estampas de animais foi a primeira coisa que me veio a mão para vestir assim que abri o guarda roupa. Me enfiei no pedaço de tecido, soltei os cabelos despenteados e os molhei na torneira após escovar os dentes.
A janela havia aberto sozinha com o vento, e uma lufada de aroma doce de flores invadiu o quarto. Algumas pétalas pousaram em meus cabelos e ali as deixei presas.
Quando desci as escadarias para o salão principal para tomar café, havia o murmúrio de outra reunião a minha frente.
Mas dessa vez, todos estavam de frente para as escadas. Eram 7 pessoas altas e truculentas que eu não conseguia identificar, pois estavam de capuz que cobriam ate a altura de seus lábios.
Saga falava com eles do centro de um semi-circulo.
Me perguntei se era o Saga que estava ali mesmo e segurei firme no corrimão desviando o olhar para o outro lado do salão.
- Bom dia.... – balbuciei do topo da escada tentando não ser indiscreta e nem ser atingida por mais nada inesperado, como na noite anterior.
Todos se retiraram cerimonialmente sem me olhar, com exceção de um homem, que me olhou de rabo de olho. Por baixo do capuz escapava o detalhe dourado de uma cauda que me chamou a atenção.
- Droga!! Nunca vou poder ver esses caras desse jeito - resmunguei começando a descer pelos degraus assim que todos se retiraram.
Por um instante tive vontade de descer as escadas escorregando.
Sentei-me a mesa de café abundantemente coberta de frutas, bolos, pães, chás, doces e salgados.
Comi muito, pois estava faminta.
Após o desjejum, fui caminhar pelo santuário. Desci as escadas traseiras que davam para a cidadela. Estava decidida quando olhei para as doze casas acima de mim.
Eu entraria ali, mesmo que fosse proibido.
Sorri discretamente procurando por sentinelas.