A menina que não queria ser normal

Maria Silva era uma menina normal.

Que não gostava de ser normal.

Seu nome comum a perseguia sempre.

Na escola, sempre havia uma outra menina em sua classe que também se chamava Maria.

E ela não aceitava.

Quando algum estranho perguntava seu nome, ela dizia qualquer outro que fosse menos comum.

Seu objetivo era não ser Maria.

Buscou em si mesma a possibilidade de ser diferente.

Durante a infância não brincava de bonecas.

Bonecas eram coisas de crianças comuns. Maria queria ser diferente.

Maria escrevia poesias enquanto as outras meninas brincavam de casinha.

Maria lia livros enquanto as outras meninas aprendiam a usar batom.

Na adolescência, Maria era quem dava conselhos aos pais.

E foi nessa época que Maria percebeu que nem sempre pode-se fugir de tudo.

Maria de apaixonou. E revoltou-se contra si mesma. Pessoas comuns que amam.

Uma adolescente, pra ser diferente, não pode amar.

E Maria negou o que sentia.

Maria não usava as roupas da moda. Maria não amava. Maria não tinha amigos.

Mas assim se sentia completa, diferente.

Ela não era só mais uma.

Ela não era qualquer Maria. Ela era a Maria.

Maria virou uma polêmica autora de novelas.

Fez sucesso em todo o país, com seus trabalhos que criticavam o consumo em massa.

Que criticavam a cultura em massa, que impunha o ritmo de que ser igual é bom.

Aos setenta anos, Maria olhou-se no espelho e analisou sua história.

Ela não havia se divertido. Ela não havia amado. Ela não teve amigos. Ela nunca havia cometido erros.

Exceto o pior de seus erros.

Ela não viveu.

E pra ela só pessoas comuns viviam.

Então tinha realizado bem seu objetivo de vida.

Era diferente.

Enquanto isso um ataque cardíaco fulminante invadiu seu coração.

E Maria morreu.

Morreu feliz por não ter sido comum.

Morreu feliz por não ter vivido.

Mas qualquer pessoa comum morre.

E ao fim de todo o seu esforço de ser diferente, terminou de jeito comum.

Terminou morrendo.

E morreu comum.

Foi sepultada como uma pessoa comum.

E de onde sua alma estava, chegou à conclusão de que ao fim das contas, ficou comum.

Se sua vida foi comum ou diferente, não era mais importante agora.

E talvez viver comum poderia ter sido melhor.

Luma Beatriz Peril
Enviado por Luma Beatriz Peril em 17/12/2009
Código do texto: T1982991
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.