Crush - Parte II - Capitulo 1 ao 4

Parte II

Capitulo 1

Janeiro de 2000

Minha vida tinha mudado muito nos últimos anos.

Por incrível que pareça eu tinha me tornado alem de bom médico um ótimo tio e nas entre linhas um pai presente.

Anna e eu acabamos chegando a um acordo descente em relação ao Nathan, eu passava bastante tempo com ele.

Sem dúvida não tanto quanto eu passava com Minna, que agora tinha dezesseis anos. Bem difíceis eu diria.

Noah trabalhava o tempo todo e Vivian tinha assumido o papel de mãe por assim dizer.

Acabamos indo contra a vontade da minha mãe em relação a minha sobrinha.

Ela insistia que Noah deveria ter se casado de novo para que Minna tivesse uma mãe. Mas Vivian bateu o pé e disse que seria melhor mãe que qualquer madrasta mesquinha.

Noah concordou com a idéia, eu simplesmente apoiei.

Acredite não foi fácil vivermos os três numa casa enorme com uma criança.

Mas no fim das contas deu tudo certo.

Nos últimos tempos Noah vem dando surtos de pai protetor enquanto Vivian parecia tentar deixar a todos malucos com crises de mãe renegada.

Minna andava fazendo muita pirraça.

Eu tinha acabado de estacionar o carro na garagem quando meu celular tocou.

-Alo?

-Senhor Willian Wasen?

-Sim.

Quem poderia ser?

-Estou ligando em nome da senhora Anna Galle.

- Do que se trata?

O que estava acontecendo?

Anna não costumava mandar recados.

-A senhora Galle me pediu que avisasse ao senhor sobre qualquer coisa que acontecesse enquanto ela estivesse ausente.

-O que houve?

-Recebi uma ligação a poucas horas do hospital de Londres. Nathan sofreu um acidente.

-Como?Anna já sabe disso?

-Eu não sei como senhor, mas eles pedem que um responsável vá buscá-lo e a senhora Galle esta viajando, não conseguiu nenhuma passagem. E me pediu que o avisasse.

Que droga. Que tipo de acidente ele poderia ter sofrido?

-Tudo bem. Estarei ai assim que possível. Avise a Anna que eu irei e antes de tudo procure saber como ele esta.

-Sim senhor.

Entrei as pressas em casa, com certeza Anna havia ligado pra cá.

-Vivian!

-Estou indo.

- Anna ligou pra cá?

-Falei com ela há pouco. Ela disse que não foi nada muito grave. Mas não conseguiu nenhuma passagem para hoje.

-Certo. Eu irei a Londres.

-Foi o que pensei. Liguei para o aeroporto e reservei sua passagem. O vôo sai em duas horas.

Minna desceu as escadas correndo.

-Tio Will é o senhor? Pensei que fosse o papai. O que esta havendo?

No mesmo minuto Noah entrou pela porta.

-Will você esta em casa. Já sabe o que houve?

-Sim, Anna pediu que me avisassem e estou de partida.

-Aonde o senhor vai tio Will?

-Vou a Londres querida.

-Londres? Há essa hora?

-Desculpe querida, mas não tenho como explicar agora.

Subi as escadas e fui direto ao meu quarto arrumar uma pequena mala. Não sabia quanto tempo ia passar em Londres.

Capitulo 2

A casa estava uma agitação só.

Tio Willian era o mais nervoso, papai e tia Viv pareciam despreocupados. Mas eu podia ver claramente que estavam uma pilha de nervos.

-Tia Viv o que esta acontecendo?

-Não se preocupe com isso querida. Logo estará tudo bem.

Papai tinha subido logo depois que tio Will.

Agora os dois desciam as pressas.

-Vou levar Willian até o aeroporto. Minna querida não me espere para jantar, coma com sua tia.

-Certo. Mas será que alguém vai me dizer o que esta havendo?

-Agora não querida.

Por que meu pai sempre dizia isso?

Desde que tinha dez anos o ouvia dizer isso. Chegava a ser torturante às vezes.

-Adeus senhoritas.

-Tchau.

-Vá com calma Willian, seja o que for ele é só uma criança.

Criança?De quem eles estavam falando?

Então era esse o grande motivo da comoção?

Depois que papai saiu com tio Will fomos para a sala de jantar.

-Tia Viv o que esta havendo? Por que essa viagem tão repentina?

-Não se preocupe tanto querida. Logo seu tio estará de volta.

-Isso eu sei. Quero saber o motivo.

-Não fique emburrada.

-Então me diga o que esta havendo. Tia Viv você nunca me escondeu nada.

-Ai. Talvez esse tenha sido meu erro. Tudo bem eu direi.

Sorri com a afirmação. Finalmente eu ia ficar sabendo o que causou toda essa bagunça.

Capitulo 3

Não acredito que isso ta acontecendo comigo.

Estou num hospital há horas com a perna engessada apoiada numa cadeira e cheio de curativos, enquanto esperava alguém vir me buscar.

Como se não bastasse isso. Todos que passam ficam me encarando como se isso não fosse normal em um hospital.

Tudo bem que não era todo dia que alguém sofria um acidente e conseguia ficar todo esse tempo sentado sem reclamar.

Algumas enfermeiras me olhavam estranho como se não fosse pra eu estar ali.

Talvez eu esteja sendo até meio idiota, já que ainda não tive a chance de me olhar no espelho. Devo estar um verdadeiro trapo depois da queda que eu levei.

Com certeza não vou subir tão cedo em uma moto. Primeiro porque minha perna vai levar alguns meses pra melhorar, segundo porque minha mãe havia deixado claro por telefone que eu perderia a cabeça antes de fazer isso de novo e por fim, eu não seria burro de fazer isso de novo.

Não pelos mesmos motivos.

-Ele esta sentado ali senhor.

-Obrigado.

Olhei na direção da enfermeira que conversava com alguém, sem duvida falavam de mim.

É realmente falavam.

Willian estava de pé na frente dela e agora olhava em minha direção. Nada satisfeito por sinal.

Eu nunca tinha entendido bem porque Willian se preocupava tanto comigo. Desde que eu era pequeno lembro-me dele presente em minha vida, me acostumei a sua presença facilmente. Era uma pessoa fácil de se conviver. Mas ainda assim era meio estranho ter ele sempre por perto quando eu menos esperava.

Ele estava vindo em minha direção com cara de poucos amigos.

-Aqui esta você.

-É bom te ver Willian. Minha mãe com certeza pediu que viesse.

-Sim. Não entendi muito bem por que ela me pediu pra vir disseram que não era grave. Mas agora vejo que ela foi enganada.

Willian olhava pra mim como se já soubesse que eu tinha omitido alguns acontecimentos desta noite.

-Por que não disse a sua mãe que estava desse jeito?

-Ela iria se exaltar demais. Não estou tão mal assim.

-Acho que esta enganado. Você deve ter tomado muitos analgésicos, por isso não sente dor.

-Tem razão. Deve ser por isso que não vejo quase nada.

-Há quanto tempo esta ai sentado?

-Bom. Eu devo ter chegado aqui as sete, fui atendido. E estou sentado aqui desde as oito e meia. Como foi de viagem?

Os olhos dele ficaram semi cerrados.

Agora ele estava realmente zangado.

-Vou levá-lo pra casa. Conversamos quando sua mãe chegar.

-Minha mãe? Não me diga que ela esta voltando da França pra me por de castigo?

Isso era meio ridículo. Eu era quase maior de idade.

-Não desta vez.

Willian me ajudou a levantar. E logo eu percebi que estava sendo muito positivo em relação a minha situação. Assim que me levantei senti o efeito dos remédios passando.

Ele pediu um par de muletas e me apoiei nelas enquanto ele assinava alguns papeis.

Em seguida fomos pra minha casa.

Quando cheguei a minha casa tive que ouvir uma broca enorme da minha avó.

-O que você andou fazendo mocinho? Olhe só pra você esta todo arrebentado.

Depois de conferir se eu estava com todas as partes coladas ao corpo ela percebeu que Willian estava parado ao lado da porta.

-Willian, você esta ai. Vamos entre e sente-se. Acabei de receber uma ligação de Albert, Anna viajou há alguns minutos. Deve chegar pela manhã.

Albert. Há alguns anos eu diria que ele era meu pai, mas hoje tenho certeza que não é. Minha mãe fez questão de me contar quando eu tinha oito anos que ele não era meu pai.

Quando perguntei quem era ela simplesmente disse que era cedo pra saber.

Vai entender.

-Espero que o vôo não se atrase. Preciso mesmo falar com ela.

-Claro. Eu entendo.

Os dois olharam pra mim de repente. Como se eu estivesse atrapalhando os detalhes da conversa.

-Ah. Será que eu posso subir ou vou ter que esperar minha mãe chegar?

-Não é melhor você tomar um banho e descansar. Foi uma noite difícil.

-Isso mesmo. Suba se troque e vá dormir. Já esta muito tarde.

Olhei pro meu braço de impulso e lembrei que meu relógio não estava mais ali. Sem duvida foi à primeira coisa que eu perdi quando cai.

Olhei pro relógio na parede e eram quase duas da manhã.

-Boa noite.

-Quer dizer bom dia, certo?

Pelo visto Willian estava recuperando o bom humor.

Essa era uma das coisas que eu mais gostava nele.

-Bom dia.

Capitulo 4

Depois de pegar Nathan no hospital e levá-lo pra sua casa comecei a sentir o peso do cansaço.

-Willian você parece cansado.

-E realmente estou. A viagem foi longa.

-Descanse um pouco no quarto de hospedes, você pode conversar com Anna pela manhã.

-Vou aceitar a oferta.

Eu estava realmente muito cansada, a oferta de Maggie foi ótima.

Subi até o quarto de hospedes que eu já sabia muito bem o caminho. Minhas malas estavam lá. Mas não dei muita atenção a elas. Simplesmente me larguei na cama e adormeci no mesmo instante.

Acordei com batidas leves na porta. As reconheci facilmente como sendo de Anna.

Levantei sonolentamente e me dirigi aporta.

-Bom dia.

-Bom dia. O que houve com você?

-Horas como um médico ocupado, um avião e vida de pai.

-Claro.

-Que horas são?

-Quase duas da tarde.

Eu não acreditei quando ela me disse aquilo. Eu tinha dormido quase doze horas.

-A que horas você chegou?

-Às sete e meia.

-Certo. E onde esta o Nathan?

-Dormindo. Quando cheguei fui ver como estava e parece que os remédios fazem um bom efeito.

-Claro. Sua mãe deve ter dado a ele alguns analgésicos antes dele dormir.

-Acredito que não tenha sido isso. Ele é meio preguiçoso.

Anna parecia muito bem. Não estava nem um pouco nervosa pelo estado de Nathan.

-Bom vou deixar você se trocar. Espero lá em baixo.

-Claro.

Anna saiu do quarto e eu fui tomar um banho.

Se fosse dar uma bronca no meu filho tinha que estar com uma cara melhor.

Meia hora depois eu desci e vi que Nathan estava lá em baixo comendo alguma coisa.

-Bom dia.

-Quer dizer boa tarde, não?

O garoto tinha senso de humor.

Tive que sorrir. Éramos muito parecidos.

-É boa tarde.

-Willian sente-se e coma conosco.

-Claro. Seria ótimo.

Depois de todos terminarem de comer Anna e eu nos dirigimos até a sala.

-Então o que faremos?

-Não sei ao certo, ele parece estar se sentindo culpado de alguma forma.

-É claro que está ele tem uma fratura e diversos arranhões.

Vendo por esse lado Anna estava certa, ele não parecia arrependido.

-Será que antes de vocês quererem me mandar pra algum tipo de prisão eu poderia me defender?

-Tudo bem querido, diga algo a seu favor.

-Antes de qualquer coisa, eu realmente sinto muito e tenho consciência de que o que fiz foi errado.

-Eu sei disso Nathan, mas a questão não é mais essa.

-Me pergunto qual seria?

-Suba querido.

Nathan não parecia determinado a discutir o assunto, talvez já tivessem falado sobre aquilo.

Ele simplesmente obedeceu e subiu as escadas com a ajuda das muletas.

-Ele parece acostumado às muletas.

-Sem piadas Will.

-Certo. O que vai fazer?

-Não faço a mínima idéia.

Anna sentou-se no sofá e apoiou a cabeça nas mãos.

-Me deixe levá-lo para Escócia comigo.

Ela levantou a cabeça aos poucos e me observou por alguns segundos.

-Will, nós já falamos sobre isso uma vez.

-Isso foi há nove anos, agora é diferente.

Ela abaixou novamente a cabeça, o que me fez achar que estava pensando.

-Eu disse a ele.

-O que disse a ele?

A afirmação me pegou de surpresa, ela não poderia contar tudo a ele sem me consultar.

-Contei que Albert não era seu pai.

-Quando contou? Qual foi a reação dele?

-Contei da ultima vez que falamos sobre o assunto. Ele reagiu diferente do que imaginei.

-Como assim diferente?

-Ele não pareceu confuso nem abatido. Foi como se soubesse, sentisse isso.

Fiquei surpreendido com o que ela disse. Como uma criança de oito anos poderia agir assim a uma noticia dessas.

-Talvez devesse perguntar a ele se ele quer ir.

-Eu acho melhor falar com ele sozinha. Eu o conheço melhor.

A ultima afirmação foi como um tapa. Mas ela tinha razão.

-Tem razão.

-Quando pretende partir?

-Amanhã pela manhã. Não posso me afastar muito do trabalho.

-Certo. Também não posso ficar muito.

Em seguida a nossa conversa Anna subiu as escadas calmamente, a conversa com Nathan seria um pouco longa.