As Aventuras de Nick James 3 - Nick James e o caso das casas
Nick James e o caso das casas
Já era madrugada quando Nick James recebeu um telefonema.
— “Seu” Nick, nóis aqui da vila Isperança pricisamo da sua ajuda. Arguém mandô dirrubá os nossos barraco.
— Peraí. Quem fez isso? Quando? Como?
— Nóis num sabemo quem é qui feiz. Mais fizéro isso na hora qui o pessoar foi na igreja de madrugada pagá promessa.
— Certo. Mas como é que o pessoal aí vai fazer para passar a noite?
— Ah! Tudo bem. A gente fica na rua memo. As nossas casa só nos abriga da chuva e essa noite não vai chuvê, não. Num si percupa não.
— Está bem... Se vocês já se acostumaram... Ah! Por favor, diga para o pessoal isolar a área derrubada, que hoje cedo eu estarei aí.
— Tá certo, “seu” Nick. Eu vô pidi pra eles não mexê im nada.
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No outro dia, Nick saiu bem cedinho do apartamento alugado, como havia prometido, e foi à Vila Esperança. Achou o senhor que havia falado com ele.
— O pessoal colaborô bastante. Ninguém mexeu im nada. Até botaro uma corda pra isolá a ária.
Nick analisou os escombros e chegou a uma conclusão:
— As máquinas que derrubaram esta área são de alguma empresa cujo dono já esteve por aqui. A destruição foi bastante rápida. O mandante com certeza já conhecia a área. Algum “doutor” esteve por aqui durante este mês?
— Teve, sim, senhor. — gritou um grande grupo.
Rapidamente, Nick chamou aquelas pessoas a uma roda e elas contaram-lhe sobre os “doutores” que viram. E, conforme suas características e outros detalhes, três “doutores” haviam estado ali: Washington da Silva, Robespierre de Souza e Helmut dos Santos.
Conforme os moradores, Helmut dos Santos não era suspeito, pois era candidato a vereador da capital e de maneira nenhuma iria demolir barracos no início de sua campanha; não é? Bem, temos agora dois suspeitos e ambos são donos de indústrias de construção (e demolição) civil.
Depois de descobrir o endereço dos dois senhores na lista telefônica, Nick James foi, de ônibus, até o escritório do Sr. Robespierre, que lhe atendeu prontamente. O velhinhho tinha uma cara simpática, uma conversa e uma atenção incríveis! Nick lhe expôs a situação.
— Senhor Nick James! O que o senhor me disse é terrível. Como alguém pôde fazer isso com os pobres miseráveis que moravam lá? Há pouco tempo fui para aqueles lados com meu sobrinho para lhe mostrar a situação da moradia no Brasil de hoje. Ficou horrorizado.
— É verdade, senhor. Essa situação é uma calamidade pública nacional. Obrigado por me atender. Até outro dia.
— Até mais ver, senhor Nick. Volte quando quiser. — Quando saiu, Nick se convenceu de que Robespierre era inocente. Portanto, era melhor se apressar, pois já eram cinco horas e a firma do Sr. Washington fechava às seis.
Quando chegou ao escritório do Sr. Washington e lhe expôs a situação da vila, notou que o empresário estava visivelmente nervoso.
— O Sr. já sabia dessa situação? — perguntou, cínico.
— N-não. C-claro que não.
NIck já tinha sacado tudo e ameaçou, mentindo:
— Posso provar que o senhor esteve na vila na madrugada do crime.
— Não pode não! Quando eu fui lá derrubar aqueles barracos imundos não deixei pista alguma!
Na mesma hora, dois policiais armados invadiram a sala e algemaram o empresário. Nick James lhe mostrou um gravador portátil e todos foram para a delegacia.
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Na delegacia, Nick expôs a prova ao delegado, que mandou encarcerarem o Sr. Washington rapidamente.
Depois, num interrogatório, forçaram-no a dizer a razão pela qual havia destruído um pedaço de favela, o lugar que resta aos pobres quando tentam realizar o seu sonho de morar na cidade.
— Ora! Aquilo é um lixo. Eu demoli porque queria construir ali um enorme prédio de apartamentos que me desse bastante lucro.
— Ora, digo eu! — era Nick que estava falando. — Onde já se viu um prédio bonitão ilhado por uma vila? “Bem feito pra você”. Quis ter lucro prejudicando as pessoas? Pois bem. Agora terá que construir casas novas e dignas para todos os prejudicados.
— Falô, “seu” Nick. Agora é só isperá o jurgamento, né?