O Bendito
Nome estranho para um menino, ou melhor, apelido, mas era desse jeito que ele era conhecido no bairro. De bendito não tinha nada, pois parecia que tinha um cotoco que não o deixava ficar parado um minuto sequer.
A mãe bem que escondia a maior parte das travessuras que Bendito fazia, porém muitas vezes o pai descobria e mandava o sarrafo pra valer. E Bendito não aprendia a lição. Não ouvia ninguém. Presentes, castigo, cascudo, cinturão, paulada... Nada surtia efeito.
Um dia, ele e outros colegas resolveram entrar num carro pipa que estava estacionado numa rua principal do bairro. O que realmente queriam era tomar banho naquela água fresquinha, mas perceberam que o carro estava vazio. Não havia água nenhuma. Resolveram fazer uma brincadeira. Desejaram por à prova quem era o mais corajoso do grupo. Para isso teria que ficar dentro do carro pipa, com a tampa fechada, em plena escuridão.
Claro que Bendito não iria ficar por baixo. Aceitou o desafio, e brigou para ser o primeiro, mas nem era preciso, pois os colegas não queriam mesmo entrar naquele breu. Bendito entrou, os meninos fecharam a tampa e foram embora. Passou-se uma hora, duas, e o calor foi aumentando, o ar faltando... Bendito começou a passar mal, e quando pensou que havia chegado sua hora, um clarão surgiu, e arrastando-se Bendito gritou por socorro.
Um dos meninos voltou, pois uma voz dizia que seu coleguinha estava morrendo. Foi o Gaguinho que o salvou. Gaguinho, o menino mirrado que ninguém dava nada por ele. O Gaguinho que tinha um coração maior do que suas limitações.
Bendito voltou pra casa todo desconfiado, e desde esse dia, mudou da água pro vinho.