Crush
Parte I
Capitulo 1 – Sem despedida
Final de Janeiro de 1981
Estava chovendo desde antes do amanhecer.
Como eu sei? Não dormi.
Há semanas eu esperava por este dia, um dia mais que importante.
Hoje eu saberia se Anna iria embora ou não.
Devo confessar que não sei se quero que ela vá ou fique.
Como amigo pedi que ela fosse embora, seria melhor para ela. Afinal ela seria mais feliz junto com Albert.
Mas á quem eu enganei, o que eu mais queria é que ela o largasse e ficasse comigo. E talvez ela estivesse disposta a fazê-lo antes que eu a mandasse embora.
Nunca vou esquecer o que lhe disse. Muito menos sua resposta sem palavras.
-Eu não acredito nisso William!
Enquanto eu pensava e remoia minha ultima conversa com Anna. Minha irmã irrompeu da porta, sem dúvida com toda a raiva disponível em si.
-Do que esta falando Vivian?
Posso ter sido sínico nessa hora, mas eu realmente não sabia o que ela queria dizer.
-Não seja sonso! Anna foi embora e a culpa é sua!
-Isso é impossível. Ela não disse que iria.
-Ela foi embora ontem e você não fez nada.
Minha irmã estava irritada e com razão. Mas enquanto ela gritava comigo não tive nenhuma reação, se não abaixar a cabeça e ficar em silêncio.
Vivian assim como eu não sabia por que Anna tinha ido, ela estava decidida a ficar até pouco tempo.
O culpado sem dúvida era mesmo eu e Vivian sabia. Ela não quis que eu me explicasse simplesmente parou de falar comigo.
E nem mesmo a minha tristeza nas semanas seguintes fez com que Vivian voltasse a falar comigo depois daquele dia. Mas alguma coisa fez com que ela me perdoasse meses depois.
Penso que tenha sido o casamento de Noah. Sua esposa Beatrice era um verdadeiro anjo. Sua presença me fazia lembrar Anna, elas eram grandes amigas.
O que me torturava ainda mais em certas horas.
Capitulo 2 - Noticias
Setembro de 1981
Depois de meses sem noticias de Anna, as quais Vivian se negava a compartilhar e Beatrice não estava para me contar, fiquei sabendo de algo que me deixou ainda pior.
No inicio da primavera Noah e Bea haviam voltado de sua viagem a Inglaterra em visita a Anna.
Não soube como reagir quando Bea me contou que Anna havia tido um filho.
Eu devia estar feliz por ela? Ou continuar deprimido por ela ter me esquecido?
Sem resposta pra isso, apenas continuei vivendo.
Voltei á faculdade de medicina naquele verão e lá fiquei pelos anos seguintes. Dediquei todo o tempo de que dispunha para os estudos da medicina.
Terminei os anos que faltavam, mas não tive tempo de trabalhar como médico.
Logo depois de receber meu diploma, recebi também um telegrama de Vivian, foi quando soube do nascimento de minha sobrinha.
No telegrama ela dizia que a menina havia nascido no fim de julho, há duas semanas.
Não pensei muito antes de arrumar as malas e voltar pra casa.
Capitulo 3 – O bebe
Agosto de 1984
Depois de três anos longe da minha família voltei pra casa, agora formado em medicina e recuperado da falta que Anna me fazia. Ou quase.
Muitas vezes passava horas pensando em como ela estaria agora. Sem dúvida mais bonita e feliz.
Quando cheguei a minha casa quase não fui notado, estavam todos ocupados com o bebe.
-William!
Noah estava às voltas com alguma coisa quando nos encontramos num dos corredores.
Ele estava visivelmente cansado, provavelmente não vinha dormindo muito ultimamente. Mas seu sorriso de felicidade era enorme.
-Noah! Como está?
-Sou pai! De uma menina!
-Vivian me enviou um telegrama, onde ela esta?
-No quarto, junto com Bea e o bebe.
-E você o que faz aqui?
-Mamãe e as duas me expulsaram do quarto. Querem que eu leve esses presentes pro quarto do bebe.
Agora sei por que da cara de cansaço.
-Eu ajudo.
Larguei minhas malas ali mesmo e ajudei Noah com móveis, presentes, quadros.
Pergunto-me o que ele fez durante nove meses pra não arrumar o bendito quarto.
-Noah, estou curioso. Por que não fez isso em nove meses?
-Não tive tempo.
-Como não.
-Willian esqueceu que eu trabalho muito? Alem disso, Bea exigiu muita atenção, a gravidez não foi fácil.
Suas feições mudaram de felicidade para apreensão. Algo de muito ruim deve ter ocorrido durante a minha ausência.
-Mesmo assim. Por que outra pessoa não o fez? Vivian por exemplo.
-Viv passou os últimos meses muito ocupada.
O semblante de Noah era cada vez mais sério.
Achei melhor não perguntar mais nada. Com certeza Noah não me diria o motivo que manteve Vivian ocupada.
Mas de qualquer forma, isso não me preocupava. Mas sim a cara de cansaço de Noah. Devia ser o bebe.
Recém nascidos não dormem muito. E nem os pais.
Terminamos de arrumar o quarto algumas horas depois.
Se é que posso chamar o que fizemos de arrumação.
Bea certamente não ia gostar, o quarto da menina estava mais bagunçado que quando começamos. Por sorte ele só será usado daqui alguns meses.
Eu finalmente pude ir ver o bebe. Mas não sem que minha mãe me obrigasse a emergir numa banheira de água quente para segundo ela me livrar dos germes.
Acho que ela tinha esquecido que eu era um médico agora.
Depois de um banho demorado, cronometrado pessoalmente por minha mãe. Pude ver o bebe.
Quando cheguei ao quarto ela estava dormindo. E acreditem Noah também.
Talvez esse fosse o único momento em que ele dormia realmente.
O bebe estava no berço ao lado da cama cercado pelas mulheres da casa. Minha mãe ao lado de Vivia perto da janela e Bea de pé enquanto erguia a criança do berço.
-Aproxime-se Will.
Bea parecia estar mais feliz que qualquer outra pessoa, exceto Noah. Que mesmo dormindo estava sorrindo.
Ver a cara de bobo dele me fez sorrir também.
-Eu posso segurar o bebe.
-Por onde andaram suas mãos?
-Vivian, por favor. Mas que coisa. Eu sei o que estou fazendo.
-Tudo bem querida, eu me certifiquei de que ele estaria limpo.
-Desse jeito a criança não vai ter anticorpos.
-Obrigado Bea.
Depois da breve discussão eu finalmente pude pegar o bebe.
Era uma linda menina, se parecia com a mãe.
Não que Noah fosse feio, porque nós éramos muito parecidos.
-Ela se chama Minna.
-É um nome lindo.
-Quem diria, ate você com cara de bobo Will.
-Não entendi.
-Ate agora todos os que vieram visitar Minna fizeram essa cara.
Vivian zombando de mim, sem dúvida eu devia estar com a mesma cara de Noah hoje cedo.
-É mesmo. Ate o pequeno Nathan.
-Nathan?
-É o filho de Anna.
Anna.
-Ela esteve aqui há algumas semanas.
Então por isso Vivian demorou pra me avisar.
Anna estava aqui antes e depois de o bebe nascer, e com seu filho.
-Will?Querido esta tudo bem?
-Não se preocupe mamãe, eu estou bem.
Entreguei Minna à mãe e sai.
Não pude deixar de ouvir as vozes no quarto quando sai.
- O que será que houve?
-Não se preocupe Bea, eu vou falar com ele.
Assim que entrei no meu quarto, Vivian entrou também.
Não consegui evitar discutir com ela. Como ela pode me esconder isso?
-Por que não me disse que ela estava aqui?
-Pra que?
-Eu...
-Nem você mesmo sabe Willian.
-Ela veio sozinha de Londres ate aqui com o filho?
-Albert veio com os dois. Ele parecia muito feliz nas horas em que estava com o filho.
-Eles ficaram muito tempo aqui?
-Chegaram poucos dias antes da menina nascer.
-Como ele é?
-Um amor de criança. Se parece com os pais.
Era o que eu esperava que ela dissesse. O menino devia ser a cópia de Albert pela expressão dela.
-Sem dúvidas ela deve ser muito feliz.
-Devia se orgulhar. É graças a você.
Pela primeira vez desde o inicio de nossa conversa eu senti que Vivian era irônica. Mas por quê? Eu não via ironia nenhuma naquilo.
A curiosidade me fez virar e olhar nos olhos dela. Mas eles não me diriam nada.
Nos últimos anos eu havia me perguntado milhões de vezes se Vivian me escondia algo. Mas em nenhuma das vezes que tive a chance de perguntar ela me respondeu.
Nem mesmo seus olhos diziam algo.
No fim ninguém me dizia.
Minha mãe não teria como dizer, ela sabia menos que todos. Não teve conhecimento da minha paixão por Anna. A conhecia apenas como amiga de Vivian.
Noah sabia apenas o que eu lhe contei. Talvez Bea tenha dito algo. Mas ele guardou para si com certeza.
De todos Bea era a única alem de Vivian que sabia de tudo. Mas não me contaria.
Capitulo 4 – Reencontro
Julho de 1985
Quem diria que um ano passaria tão rápido.
Hoje era o aniversário de um ano da minha sobrinha.
Como era de se esperar minha mãe arrumou uma festa enorme. Vivian convidou todos os amigos da família e Bea apenas arrumou à aniversariante.
A festa havia começado há algumas horas quando eu finalmente consegui chegar.
Estava trabalhando desde a última primavera no hospital da cidade.
Agora sei por que papai se queixava tanto da profissão.
Não dava tempo de ser outra coisa.
Entrei pelos fundos, e levei uma bronca enorme da minha mãe que aparentemente sabia por onde eu entraria.
-William estavam todos a sua espera. Suba e se troque rápido, vamos cortar o bolo.
Subi as pressas e me troquei rápido antes que a senhora Wasen viesse me buscar.
Depois de me trocar desci para o salão de festas.
Estava cheio. E quem diria tinha crianças correndo nele.
Da ultima vez que isso aconteceu uma das crianças era eu.
-William!
Virei-me pra ver quem havia me chamado.
Tive uma grande surpresa.
-Albert.
Fiquei atônito ao ver que Albert estava aqui, e com toda certeza Anna também. Já que ele estava com o filho no colo.
-É bom te ver depois de tantos anos.
-Igualmente.
-Hora veja só, você não se parece nada com o Willian dos tempos de escola.
-Você também não. Este deve ser Nathan, certo?
Albert olhou para o filho antes de responder.
-Sim.
-Ele é... Enorme.
-Tem três anos. Esperava que tivesse que tamanho.
Hoje sem duvida era uma noite de surpresas.
Virei-me seguindo sua voz e Anna estava atrás de mim.
-É uma bela criança.
-Obrigada.
-Willian! Então ai esta você?Venha. Preciso de ajuda.
Noah me chamou do outro lado da sala. Estava em apuros.
Minna chorava em seu colo.
-É um prazer revê-los. Com licença.
-Venha querido. Vamos procurar tia Bea.
Antes de chegar a Noah pude ver Anna saindo com seu filho nos braços.
-O que houve?
-Ela esta nervosa e eu não encontro a Bea.
-Tudo bem. Eu seguro ela, e você procura a Bea.
-Certo.
Era engraçado ver Noah desse jeito. Todo atrapalhado.
Minna não parava de chorar. Devia estar sufocada nesse lugar cheio de gente.
-Quer dar um passei? Acho que sim.
Levei Minna até o jardim.
Ela ficou mais calma.
-Você gosta daqui não é mesmo? Pena que não sabe falar ainda.
Enquanto Minna brincava sentada numa das lajes do jardim eu apenas observava.
Ela parecia gostar de flores. Era a única coisa que ela não destroçava nas mãos.
-Nathan? Não se esconda atrás de arbustos querido, pode haver espinhos.
Levantei a cabeça para ver de onde vinha a voz de Anna. Ela estava a poucos metros dali. Mas onde estava o menino?
Devia estar se escondendo.
Voltei a olhar Minna ela ainda se divertia olhando os pequenos vaga-lumes.
Era engraçado ver como ela sorria e gargalhava com aquilo.
-Venha anjinho não pode ficar muito aqui, esta frio.
Peguei Minna e fui em direção a casa.
Anna ainda estava procurando pelo filho. Onde ele podia estar, até eu estava começando a me preocupar.
- O que houve Anna?
-Nathan, eu não o encontro e está escuro aqui fora. Ele pode se machucar.
-Ele não deve ter ido longe. Deve estar se escondendo atrás de algum vaso de planta.
Anna não pareceu se tranqüilizar.
Olhei em volta pra ver se encontrava o menino.
Teria sido mais fácil olhar em volta se Minna não tivesse se debatido no meu colo depois de ver alguma coisa.
-Minna estou procurando alguém.
Virei-me pra trás e vi o motivo de sua exaltação. Ela tinha encontrado Nathan.
-Nathan. Onde estava?
Anna agora estava fazendo o papel de mãe preocupada e brava ao mesmo tempo.
-Me escondendo. Ali.
Ele apontou na direção dos vasos de rosas.
-Não faça isso de novo, eu estava preocupada.
-Viu só. Eu disse que ele estava atrás de algum vaso.
São enormes. Da pra esconder até cavalos.
-Sem graça Willian. Ele podia ter se machucado.
E ela tinha razão ele havia se machucado. Os joelhos da calça estavam sujos. E ela parecia não ter percebido ainda.
-Anna, veja os joelhos dele.
Ela me olhou com desconfiança e depois olhou os joelhos dele.
-Estão sangrando.
Ela parecia mais preocupada agora.
-Fique calma devem ser apenas arranhões.
-Vamos querido temos que fazer curativos logo.
Anna levantou rápido segurando o garoto assustado pela mão indo em direção a cozinha.
Eu a segui com Minna no colo.
-Anna não é tão grave, são apenas arranhões.
-Tenho que cuidar disso logo ou vai infeccionar.
Anna continuou andando rápido segurando o braço do menino que havia começado a chorar.
Segurei seu braço por um instante fazendo com que parasse.
-Anna espere! Não vê o que esta fazendo?
Ela abaixou a cabeça e olhou pro filho que chorava.
-Desculpe querido. Deve estar doendo não é?
-Vamos segure Minna.
Ela me olhou por um momento, meio confusa.
-Vamos, pegue-a. Não posso levar os dois.
-Certo.
Entreguei Minna para ela e coloquei o garoto no colo.
-Venha. Minha maleta deve estar na cozinha ainda.
Ela não disse nada apenas me seguiu até a cozinha.
Capitulo 5 – A verdade
Entramos na cozinha e lá estava Bea conversando com a empregada sobre o bolo.
-O que houve?
-Ele caiu.
-Minna!Onde você estava princesa?
-Miranda onde esta minha maleta?
Sentei Nathan na mesa da cozinha enquanto a empregada trazia a maleta.
-Aqui.
-Vou levar Minna até o salão. Venha Miranda e traga o bolo.
Bea saiu da cozinha junto com a empregada. Deixando-me sozinho com Anna e Nathan.
-Levante as pernas da calça dele acima dos joelhos enquanto eu pego alguma coisa pra lavar os cortes.
Enquanto Anna acalmava o menino e fazia o que eu pedi, peguei uma bacia com água quente e um pano limpo.
-Pronto.
-Não sabia que você tinha virado um médico.
-Talvez seja o destino dos homens dessa família. Deixe-me ver seus joelhos.
-Vai doer?
-Não se preocupe querido, Willian é médico.
Depois de limpar e fazer um curativo em cada joelho. Guardei os instrumentos e olhei por um instante para o garoto.
-Me diga Nathan, como se machucou?
Ele olhou para mãe, que sorriu.
-Eu cai de joelhos quando desci de um lugar alto.
-Faz sentido.
Ele era engraçado.
-Podia me mostrar onde fica esse lugar alto depois, não vamos querer que outra pessoa se machuque por lá não é mesmo?
-Então você esta ai? O que houve? Estão todos sérios.
Vivian tinha entrado na cozinha.
-Nada demais. O pequenino aqui se machucou.
Respondi enquanto bagunçava o cabelo do garoto. Ele pareceu não gostar muito, o que me fez rir.
Não percebi que Vivian e Anna me observavam.
-Anna, Albert está... A sua procura.
-Eu já vou. Venha Nathan, agradeça ao Willian.
-Obrigado.
-De nada. E tome cuidado com lugares altos.
Acenei para o garoto enquanto ele passava pela porta.
-Obrigada Will.
Anna me agradeceu e saiu.
Fiquei observando ela e o filho.
-Uma ótima criança.
-É sim. Um pouco desastrado, mas muito esperto.
-Devia se olhar no espelho agora.
-Por que?
Vivian me observava apreensiva. Queria me dizer alguma coisa. Mas antes que respondesse, e eu sei que iria. Noah apareceu na porta.
-Vocês estão ai. Venham vamos cortar o bolo e a aniversariante quer ver o titio Will.
-Como assim ela quer me ver?
-Não disse a ele?
-Venha Will, eu conto no caminho.
-Espere Vivian, O que ia me dizer a pouco?
Noah parou a meio passo da porta e se virou.
-Vocês não vêm?
-Sinto muito Noah, mas tenho algo importante a dizer ao Willian.
-Tudo bem, mas Bea vai ficar meio chateada.
-Tenho certeza de que ela entenderá.
-Certo. Só não demorem.
Depois que Noah saiu, nós fomos para o Jardim.
Vivian ficou em silêncio por alguns minutos.
-Viv, você esta me deixando nervoso.
-Tudo bem. Antes que eu diga algo, você deve prometer que não fará nada.
-Certo. Mas conte logo.
-Se lembra de quando Anna foi embora?
-Vivian! Por que esta me perguntando isso?É claro que me lembro! Como eu ia esquecer?
-Deve se lembrar também das semanas em que não falei com você, pois bem. Eu tive um ótimo motivo.
-Mas é claro que teve, eu fui um idiota. Deixei que ela fosse embora e não fiz nada. Não fui atrás dela como devia.
-Will não é isso. É que...
-O que?
Eu não entendo o que é tão importante a ponto de Vivian não querer me dizer?
-Se lembra quando Bea falou sobre o filho de Anna? Que ele era muito parecido com os pais?
-Mas é claro que eu me lembro, mas o que não entendo é como puderam dizer isso, não achei nenhuma semelhança entre ele e Albert.
Respondi a sua pergunta com um riso nervoso.
Que logo desapareceu.
-Não há semelhança nenhuma. Não poderia ter.
Vivian respondeu a pergunta que eu fiz a mim mesmo, enquanto via o rosto do garoto em minha mente.
Por um segundo meus olhos perderam o foco, o ar faltou dos meus pulmões e eu me vi ajoelhado aos pés de Vivian, logo depois que percebi sua afirmação.
Enquanto eu estava em choque com a noticia ela apenas chorava e pedia que eu a perdoasse.
-Eu sinto tanto.
-Por que não me disse antes?
-Eu não podia, não sabia como contar. Qual seria a sua reação. Eu sinto muito. Devia ter dito.
Eu não conseguia nem mesmo pensar direito.
Aquilo doía tanto que eu nem mesmo percebi que Anna estava atrás de mim naquele momento.
De alguma forma eu havia parado de sentir o mundo a minha volta.
-Vivian não tem culpa de nada.
-Vivian deixe-nos a sós.
Vivian se ajoelhou para ver o meu rosto. Ela não queria sair dali.
-Willian, Você prometeu que não faria nada.
-Eu sei.
Alguma coisa nos meus olhos fez com que ela confiasse em mim e saísse.
Esperei ela se afastar para me levantar aos poucos.
Meus joelhos estavam doloridos pela queda.
-Por que não me disse?
Essa foi à pergunta mais dolorida da minha vida. A resposta talvez doesse muito mais, mas eu tinha que saber.
-Isso faria diferença, na hora de você me pedir pra ir embora?
-Você não faz idéia do que eu senti pedindo aquilo.
-E você faz? Eu esperava que você me pedisse pra ficar.
-E por isso não me contou sobre a criança.
Anna começou a chorar antes de se explicar.
-Me pediu que fosse embora, o que pediria se soubesse.
Acabei rindo daquilo. Ela não tinha como saber qual seria a minha ração.
-Do que esta rindo?
-Eu ia pedir você em casamento naquela tarde. Mas Albert teve a mesma idéia.
Lembrar aquilo me trouxe de volta o que senti durante meses, após a partida dela.
-Não há nada de engraçado nisso.
Ela estava tão ferida quanto eu. Até mais.
-Você não entende se tivesse me dito que esperava um filho meu eu não teria deixado você ir. Não sabe como eu me senti quando saiu daqui.
-Com certeza não se sentiu como eu.
-Tem razão. Me senti muito pior. Principalmente quando entendi por que estava tão magoado.
-Eu não...
-Tinha idéia? Como poderia. Você estava preocupada com outras coisas. Esperava ouvir algo diferente de mim naquele dia.
-Algo que você não disse e que é muito tarde pra dizer.
-Tem razão. Mas ainda assim, não é uma razão pra esconder um filho de mim.
-Também é tarde pra isso.
-Não. Eu sou o pai dele e não vou abrir mão disso. Eu errei deixando você ir embora e sofri por isso. Mas a dor que eu senti não é nada comparada a que eu sinto agora sabendo o que você me escondeu.
-Eu já disse que sinto muito.
-Isso não é o bastante.
Os olhos dela se estreitaram assim como os meus com o que eu disse.
-Você não vai contar a ele. Ele só tem quatro anos.
-Ficou louca, é claro que não. Seria demais pra ele.
Ela respirou fundo com a minha afirmação.
- O que vai fazer então?
-Eu não sei ainda. Preciso falar com Noah.
-Tudo bem. Contanto que não aconteça nada ao Nathan não serei contra.
-Certo. É melhor entrarmos, Vivian vai acabar mandando alguém chamar a policia se demorarmos.
Capitulo 6 – Medidas
Depois do que fiquei sabendo não consegui fechar os olhos nem por um segundo.
Estava sentando na cama quando Noah bateu na porta.
-Entre.
-William o que houve? Por que dormiu de terno?
-É difícil de explicar.
-Se precisa da minha ajuda é melhor explicar.
-É melhor se sentar. Meus joelhos são a prova de que é uma noticia forte.
Noah olhou pra minha calça manchada nos joelhos e se sentou.
-O que é tão grave?
-Eu tenho um filho.
-Isso não é grave eu também. O que?
Ele reagiu exatamente como eu pensei.
Contei tudo a ele.
-Então o que acha?
-É uma história e tanto. O que quer fazer?
-O que não pude fazer nos últimos anos.
-Aconselho você a falar sobre isso com Anna primeiro, não queremos afetar o garoto.
-É o que eu pretendo.
-Só uma dica, antes de descer tome um banho. Não vai querer ver seu filho com essa cara.
-Certo.
Noah saiu do quarto e eu fiz o que ele disse.
Desci pro café e todos estavam na mesa. Todos incluindo Anna, Albert e Nathan.
-Bom dia.
Sentei ao lado de Vivian, que estava calada.
-Nós adiamos nossa volta a Londres por alguns dias.
-Isso é ótimo.
A mesa estava silenciosa. E assim ficou até Minna se manifestar e atirar sua colher no bolo de chocolate que havia na mesa.
-Minna não faça isso.
-Bea ela é só uma criança não entende.
-Mãe é claro que ela entende se não porque estaria rindo.
-Se ele continuar fazendo bagunça como vamos comer?
-Eu a levo pra um passeio enquanto vocês terminam.
Levantei da mesa e ui em direção a Minna.
-Vamos lá anjinho, que tal quebrar algumas tulipas de manhã?
-Willian Wasen mantenha essa criança longe das minhas tulipas.
-Estou brincando Mamãe.
-Mãe eu posso ir?
Nathan pediu pra sair. Anna olhou pra mim e pensou por algum tempo.
-Claro. Mas você não terminou ainda.
-Ele também não comeu.
Quem diria, ele apontou pra mim.
-Willian voe esta dando mau exemplo, sente- se e coma.
-Mas e a Minna?
-Eu a levo pro passeio.
Vivian levou Minna ao jardim enquanto eu tomava café.
Pouco tempo depois Bea e minha mãe saíram.
Agora estávamos apenas eu, Anna, Albert, Nathan e Noah na mesa.
-Nathan você já pode ir.
-Mas eu não terminei tudo.
-Tudo bem querido.
Ele levantou e saiu meio desconfiado.
Ficamos em silêncio por algum tempo.
-Quando pretendem ir embora?
-Imaginei que essa fosse sua primeira pergunta.
-Então?
-Nós voltamos na semana que vem, tenho assuntos a resolver em Londres.
Albert respondeu serio a minha pergunta, com certeza ele já sabia.
-Noah uma semana é tempo suficiente?
-Para que? O que pretende Willian?
-Isso não é com você Albert. Não se intrometa.
-Fique calmo Willian. Ouça o que Anna tem a dizer.
-Obrigada Noah. Bem, se você o que você quer é trocar o nome do Albert pelo seu, em relação à Nathan isso não será necessário.
-Como assim?
-Nathan tem o sobrenome da mãe.
-Gostaria que assim permanecesse.
-Eu concordo.
Bom uma coisa já havia sido resolvida.
-Quando o verei de novo depois que você for embora?
-Pode vê-lo na Primavera quando faz aniversário.
-Só na primavera? Anna isso é tortura.
Não pensei que ter Noah como advogado Fosse adiantar muito em relação à Anna, muito menos que Albert fosse ficar do meu lado.
-Certo. Quando quer vê-lo?
-Não sei, no verão?
-Tudo bem.
-Quero mandar cartas pra ele, você vai deixar?
-Will você tem noção de que ele não sabe ler?
-Ele vai aprender. Enquanto não souber eu mesmo vou ler pra ele.
-Eu agradeço Albert.
-Não tem de que.
Nossa conversa não demorou muito nos entendemos rápido com a ajuda de Albert e Noah.
Na semana seguinte Albert foi embora, mas acabou convencendo Anna a ficar até o fim de agosto.
Infelizmente não seria dessa vez que eu passaria o aniversario de Nathan junto com ele.
Capítulo 7
Final de setembro de 1985
Noah e Beatrice tinham ido a Londres para o aniversário de Nathan, Minna havia pegado um resfriado e não pode ir por isso eu acabei ficando também.
Alguns dias depois recebemos a noticia de que eles haviam sofrido um acidente. Foi um choque pra toda família. Viajei as pressas ate Londres poucas horas depois de receber a noticia.
Quando cheguei a Londres Anna me levou até o hospital onde os dois estavam.
Infelizmente Bea não havia resistido, sofreu uma hemorragia interna e morreu horas depois de chegar ao hospital. Noah tinha alguns cortes e fraturas, mas estava bem. Os médicos haviam dado remédios para que ele não sentisse muita dor, o que fez com que dormisse por dois dias.
O mais difícil foi quando ele recobrou a consciência. Eu não poderia culpá-lo, era difícil pra todos aceitar que Bea tinha partido. Ele desmoronou por completo.
No mês seguinte voltamos para Endiburgo.
Noah ainda estava extremamente abalado, parecia não se importar com mais nada.
Os meses seguintes não foram nem um pouco fáceis.
Ele parecia estar dentro de uma caixa. Passou os primeiros meses sem falar quase nada, não se alimentava direito, passava os dias e as noites em seu quarto. Era como se o mundo a sua volta não existisse mais.
Vivian passou a tomar conta de Minna, não era como Bea. Mas Minna precisava de cuidados. E Noah não conseguia nem mesmo cuidar de si próprio quanto mais de uma criança.
No inicio de dezembro Minna começou a falar suas primeiras frases. Sem dúvida foi à melhor coisa nos últimos meses.
Ver que a filha estava bem e crescendo fez Noah voltar à vida e aos poucos voltar à rotina.
Mas ele sem duvida não seria o mesmo sem Bea.
Assim como eu não fui o mesmo sem Anna.