Mundo Sombrio [Volume 01] - Capítulo 01 - Minha missão é...
Capítulo 01
Minha missão é...
Um viajante caminhava solitário por entre uma trilha na montanha. A brisa daquela noite era fria e seus cabelos lisos e semi-longos de cor lilás balançavam devido a isso. Havia também uma faixa vermelha enrolada na parte alta da testa que só podia ser vista na frente, já que seu cabelo a escondia atrás. Sobre a faixa, duas mechas se posicionavam ao lado dos olhos, próximos a cada orelha. Seus olhos na leve cor vinho fitavam uma curva logo a frente que adentrava na montanha ao lado direito. Suas sobrancelhas eram da mesma cor de seu cabelo. Vestia uma túnica azul forte com alguns detalhes em verde escuro na parte de baixo, além disso, usava luvas pretas para se proteger do frio. Caminhava sobre uma pequena bota de cor marrom, em que parte dela podia ser vista sob a roupa. E o último acessório era uma capa preta de bordas vermelhas.
O homem virou a curva da trilha para a direita e deparou-se com um extenso corredor entre duas colunas de pedras de grande altura. Ao olhar aquela imagem uma recordação passada foi acesa, como se aquele lugar fosse o mesmo de uma ocasião. O caminho à frente era temido e sua vontade de continuar parecia não persistir. Ele ficou olhando estático por alguns instantes sem se dar conta de quanto tempo havia ficado imóvel.
Ele movimentou a cabeça para os lados querendo se desfazer daquela impressão.
“Esse lugar não é aquele. Não é”. Dizia para si enquanto retomava sua coragem para seguir em frente.
Uma brisa gelada parecia vir da direção oposta do viajante, o que despertou sua curiosidade querendo saber o que poderia haver no fim daquele trecho. Há horas que ele decidiu subir a montanha como um atalho para chegar mais rápido a outra cidade. Houve ocasiões em que até queria desistir da subida, mas como já havia percorrido um bom pedaço, não faria sentido voltar e seguir pelo caminho mais longo.
Mesmo tendo decidido caminhar por aquele corredor a céu aberto, a estranha sensação ainda o perturbava. As duas paredes de pedra de cada lado, e o céu negro ao fim daquela trilha lhe traziam uma má recordação. Algo que evitava lembrar. Quando não agüentou mais, ele parou, fechou os olhos e respirou bem fundo. “Eu não posso parar aqui. Se o que estou perseguindo for verdade, um dia aquele passado retornará. Não posso temê-lo.”
Recuperando sua confiança novamente, ele pôs-se a caminhar até o final da trilha. Ao fim havia uma descida para a esquerda, mas antes de iniciá-la ele não pode deixar de notar a imagem abaixo. Um enorme campo de flores iluminado pela luz do luar. Se fosse de dia seria realmente uma linda visão, mas mesmo à noite, aquilo era notável pelo seu tamanho. Um pouco depois do campo, o viajante avistou um casebre, provavelmente da pessoa que cuida daquele lugar.
Logo após sua tranquila descida, o viajante caminhou por entre as trilhas gramadas do campo florido. A variedade de flores era bem grande, só que apenas o luar não era suficiente para enxergá-las com muita clareza. Foi por causa disso que o homem ergueu seu braço para frente e abriu as mãos como se pegasse algum objeto.
- Cajado! – proferiu.
Logo em seguida, partículas nas cores vermelha em maior quantidade e dourada em menor, apareceram formando algo semelhante a um cabo que passava em frente a sua mão. As partículas começaram a se juntar, e num certo instante elas brilharam num tom avermelhado para depois darem lugar a um cajado.
O homem possuía um cajado vermelho com uma esfera dourada em sua ponta. Ele ergueu- o para o alto e proferiu em voz alta:
- Luz do cajado!
Inúmeros feixes de luz provenientes da ponta de seu cajado que brilhava, atingiram o vasto campo florido. A luz no meio da noite era intensa e agora se podia ver o campo de forma mais bela. As borboletas pousavam e saiam das flores carregando o seu pólen. A beleza individual de cada espécie resplandecia na noite. A luz também atingia o casebre mais ao longe.
O viajante deu um sorriso ao ver aquela pequena área ser iluminada pelo brilho de seu cajado. O fato da luz se tornar presente sempre o fazia feliz. Ele desejava que o mesmo acontecesse com o mundo. Que cada pessoa tivesse sua própria beleza assim como as flores do campo, mas que ficassem unidas, mesmo sendo diferentes umas das outras. E que a luz reinasse sobre elas. Se isso era possível com essas flores, porque não com as pessoas?
Inesperadamente uma figura incomum cortou todo aquele cenário. Quando o homem percebeu o que era, girou seu corpo rapidamente junto com o seu cajado que no mesmo instante cessou a luz emanada. Uma flecha atravessava o imenso campo em direção ao viajante. Antes dela o atingir, o homem movimentou seu cajado e o fez chocar-se contra a flecha que girou para o lado e caiu sobre algumas flores.
- Um arqueiro? – perguntou ele depois do repentino ataque. O viajante olhou para a direção de onde a flecha veio, mas apenas notou o casebre bem distante.
Da única janela dessa residência, um homem com seu arco e flecha mirava no desconhecido no campo.
- Eu errei? Não pode ser. – disse ele não acreditando que não o tivesse atingido. Isso se confirmou ainda mais quando observou aquela sombra bem longe caminhando em sua direção. – Droga!
Mais uma flecha foi atirada e o viajante novamente a rebateu com seu cajado. O homem escondido na casa frustrou-se novamente. Ainda assim, ele não desistiu e atirou outra vez. Ao contrário de antes, o viajante ergueu seu cajado na direção da flecha, e com um olhar sério soltou sua magia.
- Rajada de vento!
Uma rajada foi atirada na direção da flecha que parou instantaneamente sua velocidade e caiu no chão sendo arrastada pelo vento. A rajada continuou seguindo em direção ao casebre, mas especificamente para a janela de onde o arqueiro atirava. Ele notou o incomum vento se aproximando e as flores de seu campo balançando em harmonia. Algumas até saiam do lugar devido à intensidade do vento. Abismado com o que vinha, ele se agachou sob a janela largando o arco e pondo as mãos sobre a cabeça, rezando para que não lhe acontecesse nada.
Por sorte, as duas partes de madeira que fechavam a janela estavam abertas para dentro da casa, e não foram quebradas quando o vento invadiu o quarto do indivíduo. Mas ambas as partes da janela se fecharam sozinhas depois da entrada da rajada. O vento colidiu com a parede do quarto causando um grande barulho ao mesmo tempo em que a ventania era dispersada por todo o cômodo. Enquanto isso, o arqueiro continuou agachado até a ventania cessar, o que demorou menos de cinco segundos.
O homem não passava de um camponês vestido como um. Suas roupas eram simples, usava uma calça marrom e uma camisa branca. O diferencial era um fino colete cinza que ele usava. O camponês abriu um dos olhos ao notar o silêncio e ao não sentir o vento atingindo seu corpo. Calmamente, ele se ergueu e olhou para a janela que agora estava fechada pelas duas partes de madeira. Abriu-a vagarosamente para espiar o lado de fora, e tudo o que podia ver era o deserto campo florido e tudo o que podia ouvir era um grilo cantando. Aquela figura misteriosa anteriormente em seu campo havia sumido.
O homem colocou a cabeça para fora da janela, e observou os arredores do campo. Sua vista não pode encontrar nenhuma sombra humana parada ou caminhando sobre ele.
- Sumiu? – perguntou-se surpreso. Ele tirou sua arma da posição de ataque e fechou a janela. Após colocar sua arma sobre a mesinha ao lado da cama, dirigiu-se para a porta do quarto. Este cômodo era bem simples, de paredes azuis, com um armário, uma cama e uma mesinha ao lado dela. Havia também alguns quadros de pintura na parede, todos com o tema de flores. Preso na parede, uma lamparina clareava o quarto iluminando levemente as paredes com feixes amarelos, que com a ausência da luz mostrava-se em um tom azul bem sombrio.
O camponês saiu do quarto e caminhou para a esquerda, encontrando-se num corredor de piso de madeira. Havia duas lamparinas em cada lado da parede, uma mais atrás e outra mais à frente, esta última do lado da entrada de outro cômodo: a cozinha.
Ao virar-se para entrar na cozinha, tomou um grande susto deixando seu rosto surpreso e seu corpo imóvel. A única lamparina do cômodo estava sobre a mesa, e um homem de costas tampava o brilho dela nos olhos do camponês, que via apenas uma capa preta sob os cabelos lilás semi-longos de um homem. O tom amarelado criado pela lamparina sobre o cômodo, e o contraste negro em frente deixou o camponês estático. Sem sua arma, aquilo era o que se podia fazer. Ele soltou um abafado grito de susto, e o intruso mexeu levemente sua cabeça, mas sem sair de sua posição.
- Q...Quem é você? – perguntou o camponês com os lábios tremendo. A figura do homem a sua frente começou a se virar. O coração do dono da casa bateu mais forte à medida que a face do desconhecido se revelava.
Após o rosto dele mostrar-se totalmente, a expressão do camponês permaneceu a mesma, mas sua surpresa foi sendo amenizada pela expressão que o outro demonstrava. O homem segurava uma maçã com a mão esquerda meio erguida expressando um gentil sorriso no rosto.
- Boa noite, senhor. – proferiu o viajante ao camponês que não esperava ouvir aquilo. Ele continuou a falar gentilmente. – Meu nome é Melvin. Sou um mago.
- Ma... Mago? – repetiu o camponês sem desmanchar sua expressão facial.
- Eu estava agora a pouco no campo florido aqui em frente quando percebi que alguém começou a atirar flechas vindas desse casebre. Então eu pensei se não poderia passar a noite aqui. É que estou morrendo de fome e até eu chegar à cidade aqui perto demorará mais algum tempo. – Melvin virou-se de lado para o camponês querendo que ele visse a mesa da cozinha. – Por isso, eu não resisti ao ver essa cesta de frutas logo de cara. – disse o mago se referindo as diversas frutas sobre a mesa.
- Deixe-me ver se entendi. – começou a dizer o camponês um pouco mais calmo. – Você é um mago, e era você quem estava no meu campo agora a pouco. Você me atacou com aquele vento e entrou na minha casa sem bater a porta. Aliás, como você entrou aqui?
- Ela já estava aberta. Você esqueceu-se de trancá-la, eu acho. – Melvin disse apontando com o seu dedão para a porta atrás dele. O camponês olhou incrédulo para ela.
- Mas... isso não lhe dá o direito de pegar minha comida. – retrucou o homem.
- E só porque alguém está passeando pelo seu campo, isso não lhe dá o direito de atacá-lo com flechas. – disse o mago calmamente. O homem da casa ficou um pouco calado e sua expressão mudou para proferir as próximas palavras.
- Desculpe. Não era a minha intenção atacar um mago. Eu pensei que fossem outras pessoas. – disse o camponês movendo o rosto para o lado.
- Outras pessoas?
Neste instante, a conversa foi interrompida por um chamamento vindo de fora da casa. O camponês arregalou os olhos ao escutar a voz chamando por um nome.
- Florisval! Está me ouvindo, seu idiota? – a voz de um homem adulto podia ser ouvida. – Venha aqui fora e confira o que lhe aguarda. Florisval!
- São eles! – disse o camponês chamado Florisval, num tom meio apavorado. – Essa não! – gritou já correndo rumo à porta. Melvin apenas o observou saindo da cozinha.
Logo ao sair, o camponês deu a volta na casa e parou ao se deparar com alguns homens à frente. Um deles estava a poucos metros sorrindo maliciosamente, seguido de mais dois homens, um de cada lado. Havia outros seis mais atrás, dentro do campo florido que seguravam tochas nas mãos. Os que estavam à frente, que eram os únicos sem uma tocha, soltaram uma risada e encararam Florisval. O do meio parecia ser o líder e o mais velho daquele grupo. Seus olhos eram negros assim como sua rala barba.
- Olá, Florisval! – proferiu ele.
- O... que vocês querem aqui? – perguntou ele, mas já prevendo qual seria a resposta.
- Não é óbvio. Nós dissemos a você que iríamos queimar seu lindo campo de flores. Só queríamos um pouco do seu dinheiro e você nos negou. Somos ladrões, afinal. – O homem olhou para o campo deixando o vento gelado bater em seu rosto – Vai ser uma linda visão.
- Não deixarei que faça isso! – gritou Florisval com os punhos em frente ao peito, mas sem muita confiança para lutar. O ladrão virou-se, fitou a postura e avaliou a expressão dele.
- E você acha que pode nos impedir? – perguntou subestimando o outro.
- Eu... mesmo que eu morra tentando, protegerei esse campo com a minha vida. – pronunciou Florisval, agora cheio de determinação nos olhos.
- E por acaso alguém aqui vai tentar lhe matar? Claro que não. – o homem virou-se novamente para o campo. – Queremos que assista as belas labaredas.
- Eu não vou deixar! – Florisval correu em direção ao ladrão que virou seu olhar. Ao vê-lo se aproximar, o homem apertou o punho esquerdo e acertou o lado esquerdo do rosto de Florisval com a parte de trás da mão. Com o choque, Florisval caiu para a direita.
- É inútil, floricultor! – disse o homem lhe encarando. Florisval ainda tentava se erguer. – Ainda vai tentar nos impedir?
- Eu prefiro apanhar mil vezes a ver o meu campo em chamas. – disse se levantando, raspando a mão na boca para tirar um pouco do sangue causado pelo soco de antes. Inesperadamente, o floricultor foi surpreendido pelos outros dois capangas que lhe seguraram pelo braço, um de cada lado. O corpo de Florisval ficou meio agachado.
- É mesmo? – o líder perguntou com um sorriso no rosto. Ele se aproximou de Florisval que não podia se mexer. – Então vamos ver se consegue.
O homem começou a socar várias vezes com a mão direita o rosto de Florisval, que nada podia fazer além de recebê-los, já que estava preso pelos outros dois capangas. Foram vários socos que o floricultor teve de suportar. Mas mesmo durante o ataque, na expressão perdida em seu rosto, a vontade de querer proteger o seu campo continuava viva. – O que foi? Ainda quer apanhar mil vezes? – perguntou o homem que aplicava os socos. A face de Florisval aos poucos foi ficando ensangüentada. O sangue escorria pelo seu nariz, e principalmente por sua boca, pingando em seguida em sua própria terra. O ladrão parou de bater e perguntou:
- Diga! Ainda prefere levar os socos a ver seu campo queimar?
- Não me faça repetir. – disse Florisval com seu rosto todo ensangüentado, mas mostrando um leve sorriso apesar de tudo. – Esse campo... é a minha vida. Queimá-lo, significa tirar a minha própria vida. Farei qualquer coisa para impedi-los de destruir a minha vida, mesmo que eu receba mil socos. – Florisval terminou com um derramamento de lágrimas.
- Huh. Então que se dane o campo e a sua vida. – disse o ladrão voltando a aplicar socos no homem. – Vamos! Pessoal! Queimem o campo! Queimem tudo! – ordenou ele aos seus homens. Os outros, esboçando cruéis sorrisos como se fossem de diversão, abaixaram suas tochas e rapidamente as chamas consumiram as primeiras flores. Logo em seguida, as chamas começaram a pegar duas ou três flores ao mesmo tempo.
- Olhe! – disse o ladrão, que dessa vez começou a socar o rosto de Florisval da esquerda para a direita para que o rosto dele pudesse ficar virado para o lado, e para que seus olhos acompanhassem a trágica visão do início do fim de sua vida. Além do sangue dos golpes, suas lágrimas caiam no chão mesclando com o sangue já sobre ele.
- Pai... – murmurou o camponês fracamente, vendo de relance o rosto de seu pai sobre o campo que começava a queimar. O outro homem aplicava os socos e ria da desgraça de Florisval.
Um homem de capa preta e cabelos lilás estava a um bom tempo sentado sobre o telhado do casebre observando a situação lá em baixo. Seu olhar sobre Florisval era sério, e suas palavras ainda lhe marcavam.
“Eu prefiro apanhar mil vezes a ver o meu campo em chamas.”
“Não me faça repetir. Esse campo... é a minha vida. Queimá-lo, significa tirar a minha própria vida. Farei qualquer coisa para impedi-los de destruir a minha vida, mesmo que eu receba mil socos.”
Os olhos de Melvin enxergaram através da realidade. Sua visão agora via partículas cinzentas emanando dos corpos dos ladrões que ateavam fogo no campo, e principalmente daquele que batia em Florisval, que por sinal também liberava essas mesmas partículas. Entretanto, no seu caso, a origem era diferente. Enquanto os outros ladrões emanavam maldade, ele emanava tristeza. Ambas despertavam a Energia Maligna dentro deles e a jogavam para o mundo.
O mago então se levantou e ergueu calmamente a mão para o alto. Do mesmo jeito que antes, partículas douradas e vermelhas apareceram e se juntaram para formar o seu cajado. Já com ele em mãos, apontou-o para o céu e proferiu uma simples palavra:
- Chova!
Água começou a sair da ponta de seu cajado e a subir preguiçosamente ao céu. Sem ninguém ainda perceber, o líquido foi se elevando enquanto mais e mais surgia do cajado. Em poucos segundos, uma pequena coluna de água de vinte metros de altura já estava formada. Ao chegar nesta altura, a água começou a esticar proporcionalmente em todas as direções. Sobre a coluna, um círculo de água paralelo ao solo crescia, e que em pouco tempo tomou a forma de um manto de água que cobriu toda a região.
Ao mesmo tempo, algumas gotículas começaram a se precipitar deste manto aquático, e foi só então que as pessoas em baixo perceberam o que estava ocorrendo. Quando uma dessas gotas caiu sobre a mão do homem que espancava o rosto do floricultor, ele cessou os golpes, e olhou para o céu se impressionando com aquela coisa anormal.
- O que é isso?
Florisval notou algumas gotas de água caindo. Ele intuitivamente olhou para o céu e arregalou forçadamente os olhos que estavam bem machucados na região em volta.
- Chuva... – murmurou ele.
O manto de água cobriu uma boa parte do campo. A água proveniente do cajado de Melvin continuava subindo. O manto parou de crescer e água dele começou a cair. Todos olhavam impressionados para o alto. A chuva começou a cair e ninguém sabia o que fazer, já que nunca viram algo como aquilo. As chamas das tochas se apagaram assim como o fogo no campo. A fumaça do campo que antes estava começando a ser queimado se elevava.
Os capangas largaram Florisval ao notarem aquela estranha pessoa em cima do telhado da casa. O ladrão que socava o camponês também notou aquele desconhecido.
- Quem é? – perguntou ele, abismado. Florisval caiu na terra já meio molhada por causa da chuva. Ele moveu lentamente seus olhos para o mago.
Melvin parou de jorrar água pelo cajado e fitou o ladrão logo abaixo. Ele pulou e antes de pousar no chão, seus pés liberaram um pouco de vento com o objetivo de amortecer o impacto. Todos olharam incrédulos para o homem de capa preta já com seus pés sobre o solo.
- Quem é você? – perguntou o homem que agredira Florisval.
- Eu sou aquele que lhe mostrará uma nova visão da vida. Mago Melvin. – respondeu ele.
Repentinamente, o mago correu até o homem que ainda assustado, permaneceu imóvel. Em poucos instantes, Melvin ficou bem próximo ao ladrão. Ele ergueu seu cajado e tocou a ponta dourada dele na testa do indivíduo. O homem ficou parado enquanto a ponta do cajado tocava em sua testa ao mesmo instante em que desse toque, uma luz começava a emanar. Enquanto isso, o mago proferia a sua técnica.
- O toque divino que abre a mente desiludida. A verdadeira pessoa sob as vestes da escuridão revela-se para um novo mundo. Técnica secreta: Purificação da alma! Liberte sua paz! – Neste instante, o mago puxou seu cajado, e uma energia formada por partículas negras começou a sair do local onde a ponta do cajado estava encostada. Essa região ainda brilhava. A Energia Maligna era vista por todas as pessoas em volta, e Melvin era o único que entendia o que realmente era aquilo. O homem que tinha sua Energia Maligna sendo expulsa gritava sem entender o que acontecia.
As partículas cessaram e o brilho foi lentamente desaparecendo. A expressão do homem era desolada como se estivesse fora da realidade. Aos poucos, seu olhar foi ganhando vida e a primeira coisa a enxergar foi a imagem do mago. Depois, olhou para o lado, e viu o rosto ensangüentado de Florisval, e por último, seus homens com as tochas apagadas sobre o campo.
- O... o que estou fazendo? – perguntou ele num tom de arrependimento. – Isso é errado. Por quê? Por que eu tentei fazer isso? – Melvin observava atentamente a ação daquele homem que antes demonstrava toda a sua crueldade. – Florisval! – chamou ele, arrependido. – Desculpe. Eu não sei o que deu em mim pra te fazer este mal. Por favor, me perdoe!
Florisval e os outros capangas olharam de forma abismada aquele homem que se arrependia e perdia perdão. O camponês não entendia bem aquela situação. Antes aquele homem era tão cruel, mas o seu olhar agora era de uma pessoa comum. Do tipo honesta e que não machucaria ninguém.
- Por favor, me desculpe! – pediu novamente.
- Sim. – disse o floricultor, mesmo achando aquela situação estranha e anormal. – Sem problemas.
Melvin se aproximou um pouco deles.
- Não se preocupe. O Florisval vai ficar bem, apesar destes ferimentos. – disse olhando para o homem. – Sugiro que a partir de agora recomece a sua vida do zero. Que seja o homem que deve ser.
O ex-ladrão assentiu e agradeceu. Em seguida, ele virou-se para seus colegas ainda próximos.
- Vamos embora. Não há nada para fazermos aqui. – disse ele de forma determinada.
- Mas chefe... – retrucou um outro.
- Vamos! – disse o homem sem parar de andar. Ele disse o mesmo para aqueles que estavam no campo.
Melvin e Florisval que se se levantou esforçadamente, observaram o grupo se afastando. O floricultor continuou com sua expressão confusa.
- O que foi isso agora? – perguntou ele para o mago, que sorriu ao responder.
- O nascimento de uma nova pessoa. – O mago voltou seu olhar para o campo onde o grupo ainda podia ser visto. – O mundo é responsável pela distorção no coração das pessoas. Por causa deste “Mundo Sombrio”, as pessoas se desvirtuam de quem realmente são, e guiados por um mal interior, elas agem de forma cruel e incompreensível para aqueles que são bons. Minha missão é abrir os olhos das pessoas para o que realmente devem fazer na vida. Minha missão é... – Melvin voltou-se para Florisval, e terminou ainda com um sorriso. - ...salvar o mundo.