Confissões de adolescente - Meu primeiro beijo.

A música tocava com muita intensidade; todos conversando e dançando ao meu redor. Não me sentia muito bem. Um misto de tristeza e insatisfação percorriam minha alma. Saí do meio das pessoas para não atrapalhar quem estava aparentemente feliz, dançando, trocando carícias, se conhecendo, flertando, beijando, enfim... vivendo.

As paredes naquele momento pareciam ser minhas melhores companheiras e decidi encostar-me em uma delas. Apoiei as costas, dobrando a perna e apoiando o pé esquerdo em uma de minhas amigas, coloquei a mão no bolso e fechando os olhos ergui a cabeça para puxar o ar e expirar o mais forte que pudesse. Parece que assim aquela dor iria embora.

A solidão me machucava tanto. Todos se encostavam em mim, mas ninguém me tocava de fato. As batidas constantes e ininterruptas faziam entorpecer meu corpo e eu já não sentia mais nada além da tristeza que insistia em me acompanhar. Um fantasma ou demônio que não podia ser exorcizado.

Minha sina, meu fado, meu carma, meu destino; como definir o que esperava de meu futuro só e triste.

Mal começara a festa e eu já queria ir embora, porém de repente ouço um - olá, como vai você? -, olhei e retribui aquele olá, totalmente sem vontade, conversamos um pouco, nos conhecendo melhor. Já fazia um ano que nos falávamos, mas nunca com nossos corpos tão próximos. Fez-se silêncio. Achei que ia ouvir algo como: - É isso ai, to indo nessa. A gente se fala -, olhei pra cima para puxar mais ar, quando percebo e me dou conta, já estava sem saída. Dois braços, já encostados na parede atrás de mim me cercavam. Um certo desconforto e temor se apresentaram junto com o calor e euforia que me fizeram suar, o que aumentou o nervosismo. Reação era a única coisa que me vinha à mente, - preciso sair daqui -, pensava, mas meu corpo não obedecia, minhas pernas não respondiam e minhas mãos permaneceram presas nos bolsos. Parece que estavam coladas. Pude sentir sua respiração próxima ao meu rosto, seus lábios tocaram os meus. As sensações eram todas novas para mim.

Nunca sentira o gosto de outra boca que não fosse a minha e tinha certeza, até aquele momento, que nunca sentiria. Queria fugir, escapar, ir para qualquer lugar, menos estar ali.

Que arrependimento ter ido àquela festa. Se pudesse voltar o tempo. Se pudesse ter ido ao banheiro alguns minutos antes aquilo não estaria acontecendo. Mas estava e eu não podia fazer nada para evitar, pois simplesmente não tinha forças. Pensei que ia desmaiar, pois tudo silenciou. Parece que ia morrer literalmente, contudo, como que por instinto, fui separando lentamente um lábio do outro, sentindo somente outros lábios quentes esquentando os meus. O encaixe aconteceu. Uma leve sucção me fez pensar um pouco que aquilo era real, e senti sua língua delicadamente procurar a minha que retribuiu a carícia. Nesse instante ela não queria elaborar outra linguagem que não fosse a da paixão e a única coisa que ela tinha que fazer era dançar no ritmo da dança estabelecida pela invasora. Meus lábios ficaram molhados envolvidos pela volúpia e sensações totalmente desconhecidas. Meu corpo todo reagia, lentamente minhas mãos saíram dos bolsos, mas ainda não sabiam para onde ir. Somente quando os braços que me cercavam me envolveram, e sentia a pulsação forte e descompassada de meu coração comprimido no meu peito que já sentia o calor de outro corpo me envolvendo, meus membros superiores timidamente abraçaram aquele ser que me levava aos céus. Aquele momento não podia terminar. Aquilo era a melhor coisa que podia acontecer. As paredes sumiram, as pessoas também. Estava tudo escuro, mas na minha mente a impressão era que o sol brilhava em uma praia deserta e eu estava só com meu amor ouvindo as ondas quebrarem e molharem nossos pés enquanto nos beijávamos.

Sim, eu estava beijando e ninguém jamais poderia tirar aquilo de mim. Uma vontade imensa de chorar me envolveu. Parei o beijo, mas não larguei minha redenção. Olhei dentro de seus olhos e queria que soubesse o quanto eu estava feliz. Mas senti sua mão carinhosa pegar minha cabeça e deitar-me nos seus ombros.

- Está tudo bem? -. Respondi que sim e chorei, então, escondeu meu rosto no seu pescoço e dançamos aquela música.

Everaldo Robson
Enviado por Everaldo Robson em 09/08/2009
Reeditado em 05/06/2012
Código do texto: T1745751
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