Quanto vale?

Por quanto quer comprar?

Se conselho fosse bom, não se dava. Vendia-se. Esta afirmação é mais antiga do que andar para frente.

Esta frase é o argumento que uma pessoa usa para criar um obstáculo entre ela e um amigo que pretenda lhe passar alguma orientação. É claro que nem tudo que recebemos de orientação é a expressão integral da verdade, pois cada fato está sujeito a muitas variáveis. No entanto não custa nada ouvir, filtrar, experimentar e adaptar alguns dados que podem ser úteis para uma existência com menos atribulações. Já bastam as situações de alta pressão das quais não conseguimos nos livrar, causadas pela competição agressiva diária e pelos elementos nocivos reinantes na natureza que agridem nossa sobrevivência por não sabermos conviver com eles.

O estilo de vida ocidental criou um distanciamento entre gerações onde o jovem naturalmente impetuoso, se deixa levar pela propaganda que o impele a tentar realizar o maior número de projetos com pouco planejamento (depois a gente vê como fica), parcos recursos (depois a gente faz um gatilho) e em tempo curto (amanhã mesmo já estará dando resultados). Neste cenário, seus ouvidos se fecham a algumas orientações que lhes são passadas pelos mais antigos da família. Alegam que hoje os tempos são outros. Esquecem de um pequeno detalhe: mudaram os equipamentos e as fórmulas para atender as novas necessidades, mas as características humanas são as mesmas de 100 séculos atrás (experiência, preguiça, inveja, inocência, ganância, pressa, etc).

E esta distância aumenta se o jovem deixa que sua perseverança ultrapasse os limites e se transforme em teimosia. Vejamos se a diferença básica pode ser compreendida com os exemplos abaixo.

Perseverança – quando uma pessoa se determina a adquirir um bem ou realizar um projeto, mesmo que seja algo inédito, ela terá como base estudos e práticas anteriores de outros que já fizeram algo igual ou bem parecido (se tiverem falhado, darão maiores subsídios). A perseverança não permite que ela desista de seu objetivo mesmo que um acidente de percurso ocorra. Se uma prateleira fixada na parede desaba por ter uma sustentação fraca para o peso mal calculado depositado sobre ela, o perseverante não se abate. Refaz a parede lascada, monta uma sustentação cinco vezes mais forte e realiza seu projeto. Se no ato não tiver meios para trocar a sustentação, coloca um aviso provisório alertando sobre o máximo de carga que a prateleira pode suportar no momento. E desta forma age para construir suas “estantes” para guardar seus “tesouros” de vida. E com o tempo atinge seu projeto com sucesso. E sente orgulho por ter superado os obstáculos paulatinamente com equilíbrio.

Teimosia – quando uma pessoa esclarecida coloca sua vida ou saúde em risco apesar de todos os alertas recebidos, demonstra uma falsa atitude de personalidade forte, que “não se deixa influenciar por opiniões alheias”. Não é vergonha declarar que apesar de tantos anos de vida aprendeu algo novo, até mesmo com alguém mais jovem. Um menino que trabalhou no campo dos 6 aos 20 anos, certamente terá boas condições de orientar um técnico em agropecuária que obteve um diploma na cidade aos 25 anos. Se uma pessoa fuma e alega que o tio morreu aos 90 anos fumando dois maços por dia, usa um argumento frágil, pois desconhece os prazeres perdidos pelo tio, as doenças que ele adquiriu, as dores que sentiu, os gastos que teve com médicos e remédios. Não há uma planilha arquivada sobre a qualidade de vida deste tio para ser consultada. E assim o teimoso segue impávido e de nariz empinado condenando seu pulmão (e outros órgãos) à falência em vida.

Carregar peso desnecessário quando nossas forças estão no auge, terão reflexos dolorosos na coluna depois dos quarenta anos, quando o esqueleto começa inclinar.

Escrever sobre dezenas de páginas com lápis (para ler depois é pior ainda) à noite provocará reflexos irrecuperáveis nos olhos depois dos quarenta anos.

Dormir diariamente menos de 4 horas certamente afeta os reflexos (por isto motoristas batem nas estradas e operários perdem dedos na indústria), reduz a memória, retarda o raciocínio. Isto ocorre em qualquer idade.

Os deslumbramentos com o namoro (principalmente sendo o primeiro) nos conduzem a atitudes desaconselháveis, quase irracionais. Quando dois namorados deixam de se ver por 3 meses, é possível entender uma conversa telefônica semanal de 90 minutos para colocar as novidades em dia. Quando se encontram 2 vezes por semana, 10 ou 15 minutos não bastam?

Numa semana de provas ou de trabalhos delicados na firma, estes encontros semanais devem ser reduzidos (não chegamos a sugerir suprimidos) de 6 para 2 horas. Tal atitude não deve ser encarada como sacrifício. É um investimento para que num futuro não distante sejam criadas condições para que os encontros passem a ser mais freqüentes e em maior tempo.

Neste texto, não existe fórmula mágica. E estas palavras não estão editadas aqui com o objetivo de suprimir liberdades, desvalorizar ações próprias, revelar a verdade total nem de forçar condutas. São meros relatos sinceros de quem já passou por algo similar (até absorveu e aplicou algumas das dicas recebidas). Certamente centenas de milhões de pessoas disseram isto nos últimos 77 séculos e alguns milhões dizem hoje pelo mundo a cada minuto.

Resta saber pelo menos quantos escutam e compreendem.

Se desejam experimentar em suas próprias vidas é outra questão.

Haroldo P. Barboza – RJ / Vila Isabel

Matemática (fundamental) e Informática (adultos).

Autor do livro: Brinque e cresça feliz.

Haroldo
Enviado por Haroldo em 03/05/2009
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