Diário de um Formando - parte I V

Ao fim do dia

Estácionamento, nunca imaginei que detestaria tanto um estácionamento. Após agumas horas de trabalho escuto passos e ao me virar vejo Daniel.

Que pena o que ouve. - diz ele meio triste

Pois é, nunca pensei que fosse fazer tanta besteira na vida.

Nada de ficar se lamentando, você ainda está na empresa.

É, mas por quanto tempo?

Até fazer outra burrice daquelas – diz Luiz chegando de surpresa.

Acidentes acontencem Luiz – diz Daniel

Acidente? Aquilo foi uma catástrofe, não sei como ainda está trabalhando aqui.

Se eu estou trabalhando – digo eu com tom de ironia – você o que faz aqui?

Vim almoçar no melhor local da empresa – diz ele

No estácionamento? - questiono eu

Não – diz Daniel – do outro lado, onde à um conjunto de palmeiras

Sinceramente – fala Luiz – você não devia estar trabalhando aqui, parece de outro mundo.

Antes que eu pudece revidar, ouço o voz mais bela do mundo, pouco ao longe, minha princesa e suas amigas do marketing, passam rindo e conversando, - é minha chance – penso eu, é só arrumar um pretesto para chegar perto, o esfregão em minha mão parece ser a solução, finjo que ele escorregou de minha mão e jogo-o na direção delas. Pois é, nesta cena vocês imaginam o que eu pensei, correr até lá, pedir desculpas, me apresentar, acompanha-la até o almoço, convidar pra sair, conhecer os pais dela, pedi-la em casamento e viver feliz para sempre, qualquer coisa assim, mas, acho que meu desejo foi atendido errado. Voltando a cena, ao arremaçar o esfregão, meu diretor que passava distraidamente entre os carros, pisa sobre ele e pronto, minha condenação assinada e carimbada.

Foi mandado que eu alem do estacionamento, limpasse também os banheiros, os carros, e os corredores do térreo. Tá bom, não sou nenhum morto de fome, ele disse em alto e bom som, ou isso ou a rua, Luiz estava presente, e disse-me:

Sai dessa, não é bem melhor tentar outra coisa em outra empresa? Afinal você não presta aqui mesmo.

Indignado, preferi ir para rua, saí da sala, bati a porta, passei pelos corredores em direção aporta da rua, dessa vez, passei pela minha princesa sem dar um sorriso siquer, afinal, ela é muito pra mim mesmo, esta empresa só me massacra, sou um escravo aqui, porem antes de por o pé na rua meu celular toca, é meu pai.

Filho, infelizmente sua mãe piorou – diz ele tristemente

Pois é, esqueci que minha mãe é adoentada, meu pai aposentado. Não posso fazer isso com eles.

Vai deixar que eles ganhem? - diz Daniel ao meu lado enquanto segura um esfregão.

Não – digo eu seriamente enquanto dou meia volta e pego o esfregão.

Pode até parecer impossível as vezes, mas a vida sempre mostra-se sorrateira, esperando você vacilar para poder lhe puxar o tapete. Penso, nas horas em que passo lavando privadas, quantos não estão aqui na mesma situação que eu, presos a um emprego de escravidão, não porque gostam, mas por necessidade, será que eles teem a mesma esperança que eu? Ou só estão vivendo por viver? Pois é, já nem sei mais o que digo ou penso, estou exausto, rasguei minha camisa nova, estou todo sujo, cheirando a um “macaco morto a tapa”. Sigo limpando os corredores, e lá pelo final do expediente, minhas mão já estão calejadas, ao contrario dos donos que só contam o dinheiro.

Já terminado tudo, sento-me ao lado do balde que carregava, e procuro algo que me limpe o rosto, quando um lenço branco cai no meu colo e uma suave voz diz:

Pode limpar que eu espero.

Olho para cima, vejo parada em minha frente nada mais nada menos que.....não, não é minha princesa, mas sim a Gerente do setor financeiro, a mulher mais comentada da empresa, aquela que os homens daqui se jogariam pela janela para ficar com ela. Eu seguro o lenço, a observo de cima a baixo, ela veste a mesma roupa de sempre, um decote de dois palmos, e uma mini-saia que de tão pequena com um simples espirro se vê tudo, - Que perda de tempo – penso eu e vou logo me levantando e dizendo:

Não se dê ao trabalho de sujar seu lenço - e lhe entrego o lenço – eu já vou embora.

Então é isso, você pode até estar pensando: mais que idiota, a mulher mais desejada da empresa dá em cima dele e ele ignora. Felizmente para mim, e infelizmente para ela, vejo mulheres deste tipo como sendo sem moral e sem caráter, coisas que não suporto, graças a minha querida mãe que tanto sofreu para me dar essa formação. Saio de lá ignorando-a, pego minhas coisas, passo no setor do Departamento Pessoal, vejo o que já sabia, está fechado, afinal, eles trabalham numa sala com ar-condicionado, possuem duas horas de almoço, ganham cafezinhos e sucos, nada mais justo do que irem para casa às 17:30hs.

Fim do dia, no placar, cansaço 10 motivação 0, vou caminhando para casa, não recebi dinheiro, logo, não tenho passagem para o ônibus, mal consigo levantar os braços, trabalhei feito um condenado, quebrei um computador, quase fui demitido, levei cantada de uma depravada e agora vou a pé para casa, aproveitando o frio da noite e os tão “gentis” assaltantes na estrada. Isso é que é vida.

EE Martins
Enviado por EE Martins em 28/04/2009
Código do texto: T1564714
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