Diário de um Formando - parte I I I
Nada de Dinheiro
Mais um dia, mais um dia, mais um dia, pode ir se acostumando com essa fraze, foi o que meu pai me disse, pois bem, já me acostumei e já cancei dela. Já faz um mês que estou na empresa, e agora, finalmente, receberei o reconhecimento merecido, meu salário. Passo por todos e vejo que a maioria já recebeu, Daniel vem em minha direção e como sempre da-me um tapinha nas coistas dizendo:
Bom dia meu caro, finalmente, hoje é o dia do reconhecimento.
É claro – concordo com ele sorridente – e o que vou receber já tem destino certo.
Ao me virar, olho para minha princesa, aquela eu me enlaçou desde o começo, pois é, não sei o nome dela ainda, mas sei que ela trabalha no setor de Marketing, apenas 10 andares acima do meu, coisa pouca, um dia chego lá, mas agora é hora de receber, pelo menos é o que eu pensava até dar de cara com Luiz, que vai logo dizendo.
Como vai meu rapaz, tenho algo que preciso que você faça.
Mas, estou indo no Departamento Pessoal
Pois é, mas o dinheiro não vai fugir, e você tem o expediente inteiro pela frente.
Ele me leva até o elevador, em meio a minhas reclamações, me dá um esfregão, um balde e diz:
O serviço é na garagem, divirta-se
Caramba, a garagem da empresa é enorme – penso eu desiludido enquanto encosto-me na parede e desso ao chão escorregando por ela. De repente, um luz no fim do túneo, antes da porta fechar, Daniel entra no elevador e aperta para subir, começo a me levantar, e ele diz:
O serviço da garagem é seu?
É, pois é – digo eu desiludido.
Pode deixar para depois, preciso que primeiro você vá até o marketing, porque todos da fachina estão ocupados.
Ao dizer isso ele desse no 5º andar e ao fechar da porta do elevador, minha ficha finalmente cai. No marketing, no marketing, fico paralizado. Meu cabelo, minhas roupas, minha cara, vou finalmente ficar frente a frente com a mulher dos meus sonhos, procuro um espelho, me viro rapidamente e por descuido acabo derrubando o balde com água e sabão, a porta do elevador se abre, e começa a minha desgraça. Num escorregão épico digno de um oscar, caio no chão, bato a cabeça contra a mesa da secretária, e ao olhar para cima vejo o computador cair da mesa, e neste instante minha vida passa toda diante dos meus olhos, e o pior é que ela é muito chata. Fim do dia. Fim da vida. Fim do meu salário nos proximos meses.
Pois é, aqui estou eu ouvido gritos do chefe da limpeza, logo depois de já ter ouvido do Diretor, do Gerente, do Chefe de Setor e do Supervisor. Mas devo ver pelo lado bom, deixaram todo o estacionamento para eu limpar sozinho, quanta bondade, onde mais eu poderia treinar meus músculos, desenvolver minhas habilidades de fachineiro, e morrer de calor no sol sem ganhar nenhum vintém? Afinal, escravidão não existe mais, hoje chamam de trabalho.