A VIDA COMO ELA É

— Pô, Chico, se você não pregar essa tabua melhor não vai agüentar o peso.

— Se liga Tico, esta ótima. Afirmou Raquel.

Enquanto Chico e o Tico construíam as rampas vários garotos ensaiavam manobras com seus skates.

— Olha só quem ta vindo ai! Disseram em conjunto.

— Pedrinho bacana!

— E ai, legal? Cumprimentou todos com um olhar de satisfação, mas com um jeito de censura.

— Já pedi para não me chamarem assim.

— Tu e gente boa mesm. E depois quem é que esta sempre com grana para pagar um refri? Perguntou um dos garotos para ele.

— Hoje não! Tô sem grana! Essas rampas vão ficar baixas e pequenas demais.

— Não tem madeira. Falou o Chico asa.

— Lá em casa tem vamos pedir para o meu pai.

O pai dele estava sempre de paletó e gravata, mesmo nos fins de semana, era um empresário bem sucedido que tinha na disciplina seu sucesso, estava em pé e ao lado de seu carro quando eles foram falar com ele.

— Agente precisa de madeira para terminar um lance seu Augusto.

— O único lance que vocês precisam é estudar para enfrentar o futuro de braços abertos sem temer as adversidades.

— Pô pai agente só quer madeira. Falou de cabeça baixa.

— Essa visão imediata e que limitam as coisas.

— E a madeira? Pediu Raquel abraçando-o carinhosamente.

— Vocês querem e obscurecer o horizonte que lhes aguarda. Disse acenando impaciente para cima.

— Hoje é sábado seu Augusto. Dá um tempo. Falou Chico asa.

Ele passa o braço sobre o ombro de seu filho e diz com voz firme.

— O topo é o limite na idade de vocês eu trabalhava duro de sol a sol sem hora para perder com tolices. Olhem o meu carro, casa e tudo que tenho não perdi o meu tempo com.

É interrompido.

— Seu Augusto. Tenta falar Raquel...

Que é interrompida por ele.

— Peguem o que precisar, mas lembrem que só com muito trabalho e dedicação e.

E antes que terminasse o grupo se vira.

— Tchauuu, Valeuuu.

Pedrinho dá um beijo em seu pai em sinal de agradecimento e este o puxa para perto de se e lhe pergunta:

— Ate quando você vai perder tempo com essas tolices eu já estou ficando velho e você se recusa a crescer.

— Eu só tenho 14 anos. E sou um dos melhores do meu colégio.

E interrompido por ele.

— O tempo é o senhor de nosso destino. O que desperdiçarem, hoje, jamais conquistaram amanhã, vão e pensem no que estou dizendo e isso vale para todos vocês.

E saíram em silencio para buscar a madeira e quando chegaram na rua Raquel falou.

— Tem que pagar sapo até no sábado.

O topo e o limite, diziam caçoando de Pedrinho, que se afastou pensativo para executar algumas manobras enquanto isso as rampas iam tomando forma e a turma conversava.

— Pô, o quarto dele é irado, falou o Tico.

— Tem um puta som, zerado, lembrou Raquel.

— O bom mesmo é o computador, é o bicho, falou o Tico.

Os sons frenéticos dos martelos faziam o ritmo da moçada. Pedrinho se aproximou de uma das rampas, olhou bem sério deu dois passos para trás e disse: ainda estão baixas!

— Ele falou, baixa? Falaram quase em coro.

— Tem que ser o dobro!

— Caramba! Vai ficar irada. Falou o Tico.

— Ta maluco? Perguntou Raquel.

— Claro que não! Sempre a mesma coisa, tem madeira, prego, sem essa, gente, vamos fazer as melhores e as mais bonitas. Quem topa?

E todos gritaram.

— Agente é claro!

Aumentar as rampas foi uma festa, mas o tempo esse era implacável e ao romper a tarde Raquel brincou.

— O que perderem hoje jamais conquistaram amanhã. Imitando o pai do Pedrinho.

— Vamos ver! Inauguramos amanhã. Falou Chico asa.

Pedrinho se afasta e observa os grafiteiros que também queriam participar pintando a rampa. E um semblante de alegria toma conta de seu rosto, e combina com todos de avisar as tribos da inauguração pela Internet, e no outro dia de manhã chegam apavoridos, Raquel e Tico gritando na janela de seu quarto.

— Acorda rápido e vem ver como ela ficou de dia.

Ele se arruma da um oi seguido de tchau para seus pais e sai correndo para se encontrar com os amigos e quando chega lá.

— Ficou linda! Gritando yes e dando um soco no ar, e na mesma hora pegou seu skate e tentou fazer uma manobra, mas foi impedido por Raquel que lhe disse olha para rua. Estava tão empolgado que Raquel teve que virá-lo para que a observasse.

— Que é isso? Perguntou espantado.

A rua estava ficando pequena para tanta gente. A rapaziada atendeu o convite e compareceu em peso com seus skates, bikes ou só com a vontade de participar. Andavam de um lado para outro se cumprimentando. Muitos nunca tinham se visto pessoalmente só pelas suas webcan, esbanjavam alegria quando se reconheciam dando beijos e abraços, carros de todos os tipos esbanjavam potencia em seus sons fazendo a galera dançar freneticamente.

— Vamos inaugurar as rampas. Falou Raquel.

— Agora! Falou Pedrinho.

E quando subiu na rampa pode ver seu pai de pé ao lado do carro, olha a rampa e desce fazendo manobras espetacularmente ousadas e perigosas, levando a galera ao delírio quando em um movimento rápido pega seu skate em pleno ar e o levanta fazendo um gesto de vitória, arrancando gritos da platéia extasiada.

— Vai acabar se machucando. Falou o tico.

— Ele esta querendo provar o que? Perguntou Chico asa.

— Ele esta no topo do mundo olhem a cara dele. Falou Raquel.

— Isso não vai dar certo, vai se dar mal. Falou Tico.

Enquanto isso seu Augusto olha para a rua e desiste de sair de carro entra em casa e olha pela janela no segundo andar para ter a dimensão exata do que fizeram. Orgulhoso do empreendimento, coloca uma bermuda, tênis e boné para ver seu filho e o encontra sendo aplaudido, por uma multidão vidrada com suas manobras radicais que o fizeram errar e ter uma queda fantástica. Quando recobrou do susto viu o semblante preocupado de seu pai e lhe dá um sorriso para lhe e acalmar.

— Pô pai to legal, não se preocupa, tô legal mesmo.

E na mesma hora seus amigos o levantam e sob os gritos de valeuuu Pedrinhooo o carregam nos ombros em meio à rapaziada como um heroi, Raquel sente seu Augusto preocupado e lhe diz: ele é fantástico. E a multidão o aplaudia e gritava seu nome Pedrinho, Pedrinhoo, Pedrinhooo.

E seu Alceu.

— Esse é o meu garoto, yes, e deu um soco no ar.