A Coleção Desfeita
Que orgulho! Que prazer! Minha dona olhava para aqueles exemplares e sentia que uma parte de sua vida estava encaixada ali. Arrumados com esmero todos os dias, ela podia olhar, manusear, ler. Ela sabia que todos eles estavam ali, e isso lhe bastava.
Quando cheguei, mudei tudo. Pulos e latidos, verdadeiros momentos de amor canino expressei do meu jeito. Nas primeiras vezes que fiquei só não gostei, mas, pensei que minha dona teria se enganado. Porém esses desagradáveis momentos voltaram a ocorrer com uma freqüência cada vez maior, por isso optei por um meio de chamar sua atenção e assim dizer-lhe que não estava gostando nada daquilo.
Numa noite, decidi que seria o momento de soltar os cachorros. Ela está se aprontando pra sair. Será que quando minha dona chegar vai entender minha mensagem? Ela vai deixar-me só? Tenho que agir e por isso mesmo, não pensei duas vezes: Assim que ela saiu, peguei as adoráveis revistas e rasguei um bocado. Minha alegria estava completa. Mas quem acha que não sabemos de nada, está muito enganado.
Portão se abrindo, chaveiro balançando. Olhei com ansiedade para a minha dona. O que vi não me deixou nenhum pouco feliz. Seu olhar passou do chão para a prateleira onde sua amada coleção estava... Pedaços de papel amontoado... Ela não me bateu, não me gritou. Percebi sua tristeza ao juntar os pedaços das revistas.
Nunca mais esqueci o mal que lhe fiz. Porém fiz uma grande descoberta: minha dona me ama de verdade.