Meu filho e os coelhos
Sempre gostei de animais. Já criei cachorros, coelhos, cágados, jabuti, gatos, cabras, ovelhas, pássaros, galinhas, perus, guinés, patos. Mas quando casei, por viver sempre de malas e cuias na mão, deixei de tê-los em casa. Porém sempre esperava uma oportunidade que me levaria a usufruir das alegrias que o contato com animais trás.
A oportunidade foi um pedido do meu filho. Passávamos em frente a uma loja, onde em grandes gaiolas estavam filhotes de coelhos, de cores diversas. Escolhemos um casal, e levamos pra casa. A alegria foi imensa; porém novamente havia esquecido que criar coelho é uma trabalheira daquelas. Os bichinhos não param de comer. Parecem umas dragas. Conseqüência disso: não param de fabricar titica. E a urina fede pra chuchu.
Passei alegremente para meu esposo a feliz tarefa de conseguir alimento para os bichinhos, e também limpar o local onde eles viviam.
Um dia, logo cedinho, não agüentei ao ver a cara do meu esposo, que voltava com os braços cheios com aproxima refeição. Desolado me disse:
_Filha, já fiz um buraco muito grande no capim do vizinho, e os bichos não param de comer um segundo sequer! Desisto.
Era verdade, além do capim, eu colocava verduras e frutas inteiras. Os bichos traçavam tudo, e depois iam para a madeira da casinha.
Num momento de brincadeira, meu filho deixou cair a fêmea, e ela ficou paralítica, vindo a falecer dias depois. Meu filho não parava de dizer:
_Mamãe, sou um matador. Eu matei minha coelhinha!
Corri para comprar outro, pois ele se sentia culpado da morte do seu animalzinho. Temia que aquela primeira experiência o deixasse traumatizado.
Com a nova responsabilidade, fiquei com dificuldade para passar dias fora de casa. Não adiantava deixar comida pra três dias, porque em um dia os bichos comiam tudo; quando chegávamos estavam famintos e sedentos.
Meu filho já não estava tão apegado, ou pelo menos demonstrava que não estava; não ia mais perto da casinha brincar com os coelhos. Resolvi me desfazer deles. Um dia um apareceu morto. Aproveitei para tirar o outro, sem que meu filho visse. Fiz isso durante a noite. Dei para uma pessoa que já criava coelhos, e tinha espaço para deixá-lo solto.
Mas não previ a reação do meu filho. No dia seguinte, logo cedo, ele acordou e foi até o local onde ficava o coelho.
_Coelhinho, meu coelhinho?
Procurou por toda parte. Voltou com as lágrimas descendo, e me disse:
_Mamãe, ou o ladrão levou meu coelhinho, ou ele fugiu, e está agora sentindo muito frio!
Fiquei sem voz. Abracei aquele corpo miudinho, e tentei consolá-lo da melhor forma. Todos os dias que chovia, lembrava do coelho e dizia:
_Onde estará agora meu coelhinho? Será que ele lembra de mim?
Reconheço que errei, mas não podia ser de outra forma. Existem animais que só devem ser criados em lugares largos, ou então ter alguém que possa dá a eles o mínimo necessário para sua sobrevivência.
Hoje, meu filho já está mais crescido, e tem um cachorro. Sabe que é o único animal que podemos criar.