A GATA PITUSCA

Era uma vez dois meninos russos, a Natália e o Alexandre. Os familiares e os amigos chamavam-lhe Natacha e Alex. Eram irmãos e muito amigos um do outro. A Natacha tinha 12 anos e o Alex tinha  10.  A Natacha tinha os cabelos castanho claro e olhos azuis. Alex era moreno de cabelos pretos e olhos negros.

Um dia a Natacha perguntou à Mamãe:
—Mamãe, porque é que eu tenho olhos azuis e pele clara e o Alex é moreno e de olhos pretos?
—O Alex sai ao Vovô e à família do Papá. Eles são morenos. E têm olhos negros.
—E quando é que vamos outra vez à quinta do Vovô? Eu gostava de ir ver as vacas, os cavalos... e os cabritinhos... e a gata Pitusca, lembra-se?
—Lembro. Os cabritinhos já devem ter crescido. Agora, a gata Pitusca...
—Quando é que lá vamos, Mamãe, outra vez? Eu tenho saudades do Vovô!
—Olha se vocês tiverem bom aproveitamento na escola, vamos passar as férias à quinta do Vovô.  Só é preciso tu e o Alex terem boas notas... Vejam lá.

Natacha foi logo a correr dar a notícia ao Alex que estava a jogar um jogo na televisão.
—Alex, Alex, Olha, se tivermos boas notas vamos passar as férias, ao campo, à quinta do Vovô. A Mamãe prometeu.
O Alex estava tão concentrado no jogo dele que nem prestou atenção à Natacha. Ela teve de gritar:
—À Quinta do Vovô!... Na férias!... A Mamãe prometeu!...
Alex parou o jogo e prestou atenção a Natacha.
—As férias na quinta do Vovô? Quem disse?
—Mamãe prometeu!
E Alex pôs-se a saltar de contente como um cabritinho: mééééé... méééé...
—Mas temos de ter boas notas, senão...
—Então explica-me aquilo dos quilómetros e dos hectómetros... tenho um teste amanhã e ainda não percebi bem.
E a partir daquele dia Natacha e Alex estudaram juntos ajudaram-se um ao outro e tiveram sempre óptimas notas. Quando chegaram as férias, lá foram eles todos contentes passar uma temporada à quinta do Avô.
Foi uma alegria. Foram todos. Papai, Mamãe, Natacha, Alex... Só Papai não pôde ficar porque ele não tinha férias. Só ficou o fim-de-semana e voltou para a cidade.

 


Os primeiros dias foram para matar saudades dos cavalos, das vacas... dos cabritos. Só que os cabritos eram outros, mas eram tão alegres, tão brincalhões como os do ano passado, corriam, saltavam, marravam uns nos outros a brincar. A gata Pitusca é que andava diferente. Passava o tempo escondida. Só aparecia, às horas das refeições, comia e ia-se embora.
—Para onde é que a Pitusca vai, Vovô? Ela some todos os dias...
O Avô não sabia, Mamãe também não, e as duas crianças resolveram investigar:
—Vamos segui-la — propôs o Alex — quando ela vier comer a gente segue-a.
E seguiram-na. Mas não adiantou nada. A Pitusca correu para detrás do granel, eles seguiram-na a correr, mas a gata era mais rápida e quando eles lá chegaram ela já tinha sumido. Chamaram por ela, bichaninha... bichaninha... bichaninha... e nada. Não apareceu. A Natacha ainda se meteu por entre as árvores da quinta a chamar Pitusca! Pitusca!... mas nunca mais viu a gatinha.
Ao voltar para casa, desiludidos e tristes,  Alex entrou no granel atrás duma borboleta que voou lá para dentro. Não apanhou a borboleta, mas ouviu uns miauzinhos fininhos:
miu...miu... miu... Meu Deus, que seria aquilo!
—Natacha, Natacha, anda cá! Eu estou a ouvir qualquer coisa.
Natacha veio a correr. Alex estava parado no meio do granel de ouvido à escuta...
—O que é? — perguntou Natacha.
—Ouve! Acho que é lá em cima! Ouve!
Natacha prestou atenção e, de facto, ouviu também os miaus. Mas eram tão fraquinhos que pareciam vir de muito longe.
—É lá fora na quinta — disse Natacha — não é aqui dentro.
—Não! Não!... é lá em cima no sótão. Ouve bem!
—Parece que é gatinhos pequeninos...
—Eu vou lá a cima!
—Não, que tu cais. Não vás!
Mas Alex não quis ouvir a irmã. Subiu uma velha escada de mão que, encostada à parede dava para o sótão do granel onde o Avô guardava feno para os cavalos.
—É a Pitusca! Ela tem três gatinhos! Anda cá ver! São lindinhos. Anda, sobe, Natacha.
—Tenho medo de cair! A escada é velha! Vai quebrar-se.
—Não quebra nada. Anda, vem ver! São lindos os gatinhos. Pitusca está a dar-lhes de mamar.

E Natacha subiu também. Pitusca tinha feito um ninho no feno e lá tinha os seus lindos gatinhos. Eram três e ainda não andavam. As crianças trouxeram leite da cozinha e puseram num prato perto do ninho da Pitusca.
—É para tu poderes ficar com os teus bebés todo o dia! Assim não precisas de ir lá abaixo para comer — disseram as crianças à Pitusca.
Mas a Pitusca não bebeu o leite e o Avô disse que era melhor não deixar lá porque se estragava e cheirava mal. Mamãe também concordou e disse que era bom que Pitusca descesse para vir comer e para descansar dos seus cuidados de mãe.
Foram o Alex e a Natacha que passaram a visitar todos os dias a Pitusca e os seus bebés. O Avô arranjou uma escada nova e eles tiveram as melhores férias da sua vida!
Embora sentissem muitas saudades de Papai que só ia à quinta nos fins-de-semana.