Medo de quê?
Capítulo 1.
Não sei por que tivemos que nos mudar para cá. Isso aqui é o fim do mundo. Tá, não é o fim do mundo exatamente, mas está perto disso. Sabe, a idade de todas as casas por aqui varia entre 100 e 180 anos. E eu? Eu vivo em uma casa de 170 anos, não está caindo aos pedaços nem nada, mas ela é horrível. As paredes altas e o chão que faz barulho, e eu lhe garanto que há também, muitas passagens secretas por aqui. Não que eu esteja curiosa para descobri-las, mas com certeza serei demais ir da sala para o 5 quarto de hóspedes em um piscar de olhos. Eu devo ter mencionado a quantidade de cômodos aqui, ou não? Bom, pois bem. A enorme e horrível casa possui: 4 quartos, duas salas (de estar e de jantar), uma cozinha enorme, 3 banheiros, 5 quartos de hóspedes, um sótão, um porão e um gigantesco – e confesso, maravilhoso – jardim. Parece até uma daquelas casas de revista sabe? Com anuncio e tudo: “ Compre essa casa. Ela está velha, mas está inteira. Venha para o fim do mundo! ” Quem dera alguém tivesse visto essa casa antes do meu pai. Mas, infelizmente, ele sendo corretor de imóveis, conhece as casas antes de todos.
Antes de todos mesmo. Eu e meu irmão, Bem só vimos essa casa depois de nos mudarmos. Eu fiquei horrorizada quando descobri que mudaríamos e que, eu nem ao menos conhecia a casa. Fiquei sem falar com meu pai, por uma semana.
Minhas malas ainda estão quase todas fechadas, e as roupas a maioria jogada em cima da cama e o resto no chão. Não estava com muito pique de começar á arrumar minhas muitas roupas nessa casa. Eu escolhi o maior quarto da casa (depois de tanto que reclamei, meus pais me deixaram ficar aqui, para, sei lá, tentar me fazer gostar daqui. Uma missão impossível, com certeza.). Apesar da casa ser onde Judas perdeu as botas, e da mesma ser muito velha e feia, os quartos são maravilhosos. A cama do meu é de casal, e parece uma daquelas camas saídas diretamente de um filme da Audrey Hepburn. Tinha também uma poltrona que acomodava perfeitamente, duas de mim. A única coisa que realmente precisa ser mudada são as cores. É uma espécie de marrom escuro. Acredito que o quarto já fora de outra cor, mas sabe, com o tempo mudou completamente. E a poltrona que eu mencionei ainda á pouco é vermelha. Uma combinação perfeita, não é mesmo? Eu odeio essa casa.
Depois de muito observar o quarto, joguei-me na poltrona. Estava cansada. Foram seis horas de viagem, e meu irmãozinho não ajudou muito, cantando e fazendo brincadeiras idiotas.
– Jenny? Desça, o jantar está pronto. – A voz suave e firme de minha mãe invadiu meu quarto, assustando-me.
Levantei- me rapidamente, e desci as escadas em direção á cozinha.
- Como você conseguiu fazer comida nesse fogão pré-histórico?
- Não é pré-histórico Jen. E o Benji adorou a comida. – Será que existia alguma coisa que ele não comeria? Olhei para meu irmão. Ele devorava a refeição com tal desespero, que me lembrou aqueles cachorros vagabundos.
- Que horror Benjamin! Coma feito gente. – Disse-lhe nervosa, sentando-me.
- Jennifer, deixe seu irmão em paz.
- Mas mãe, olha só para ele. – Minha mãe virou-se para onde eu apontava. Ele continuava á comer feito um morto de fome, e parecia estar totalmente por fora da nossa discussão, sobre ele.
- Olha Jen, ele é apenas uma criança?
- ELE TEM OITO ANOS! – Gritei histericamente.
- Filha, você está estressada. – Meu pai havia chegado á cozinha. – Deixe seu irmão quieto e vá para o porão.
- Porão? O que eu faria em um porão?
- Eu terminei de limpar e encontrei algumas coisas legais lá. – Não dava para confiar muito no [i]legal[/i] do meu pai, então permaneci quieta. – Têm uns diários, dinheiro antigo, fotos, quadros... – Continuou ele colocando comida em um prato branco. – Você vai gostar. – Eu sorri. O que mais poderia fazer? Levantei-me – Não estava com fome, - e fui em direção á porta azul desbotada do porão. Desci as escadas, acendi as luzes e olhei em volta. Tinha tanta coisa lá. Coisas velhas, feias, apagadas, amareladas. E uma pessoa. UMA PESSOA? Como poderia haver alguém ali se, os novos moradores – além de mim – estavam á cima, jantando? Não era uma pessoa, claro. O ser, digamos assim, tinha uma luz em volta de si. Ele ou ela brilhava e me fitava como se eu estivesse fazendo algo de errado. Aproximei-se. Eu sei estupidez, mas eu precisava ver aquilo melhor e, sei lá, tocar. Era uma mulher. Ela me fitava nervosa, e antes que eu pudesse fazer algo estava no chão.
A mulher-fantasma havia me nocauteado. E doeu. Você pergunta, como doeu SE ELA É UM FANTASMA? E, sinceramente, eu não faço a mínima idéia. Naquele momento eu me senti em um dos episódios de Supernatural. Ao lado do Sam e do Dean...
Enquanto eu sonhava e suspirava, a mulher aproximou-se de mim novamente. Claro, isso é bem típico. Eu peço um Jared e um Jensen e ganho uma fantasma louca que, aparentemente me odeia.
- Hey Hey Hey! Que parar? Eu ainda não me recuperei do soco de antes. – Informei-a, fazendo caretas.
- Saia da minha casa agora, sua garotinha. – Tudo bem, eu só tinha 16 anos, mas aquilo me ofendeu.
- Sua casa? Ok, quem dera a casa fosse sua, querida. Assim eu teria mesmo que me mudar de volta para Nova York e ser feliz de novo. Mas, infelizmente essa casa agora é MINHA. E você, pelo jeito, morreu á muito tempo, julgando pelas suas roupas de Scarlett O’Hara.
- Quem? Eu, morta? Cale-se garota insolente!
- Olhe para si mesma, VOCÊ BRILHA, PELO AMOR DE DEUS. – Ela andou um pouco, e parou em frente á um espelho velho.
- Não vejo brilho nenhum. E essas roupas são minhas, não de uma tal de Scarlett. – Eu ri. Sério. Eu estava tendo uma conversa sobre as roupas das mulheres de “... E o vento levou” com uma mulher que estava morta há, digamos pelo menos 80 anos.
- Tá bom, está confirmado. Estou louca e preciso dormir. Uma escola desconhecido e alunos idiotas me aguardam amanhã. Tchau. E VÁ PARA A LUZ. – Saí do porão rindo ainda mais. Sempre quis falar isso, e a chance havia chegado. A mulher não entendeu, o que a irritou, fazendo-a me seguir até a escada, e parou. Ela não saiu junto comigo, ficou um tempo me encarando e depois sumiu. Assim, de repente, como uma luz á ser apagada. Saí dali correndo. Aquilo pode não ter sido real, mas cair no chão por um soco realmente me assustou.
Passei pela cozinha silenciosamente, minha mãe lavava a louça e cantarolava alegremente, nem ao menos notou-me passando por ali. Subi as escadas rapidamente, precisava dormir. Joguei-me na cama e dormi sem trocar de roupa ao menos tirar o calçado. O relógio em meu pulso marcava nove horas em meus últimos minutos consciente. Dormi por longas horas, e, de repente estava em uma floresta. As árvores inalcançáveis balançavam ao vento, muitas folhas caíam, e o belo local estava vazio. O vento forte e a escuridão – devido ás muitas árvores – davam ao lugar um ar sombrio. Assustada, eu comecei á correr. Uma atitude sem sentido, eu sei. Mas corri mesmo assim. De repente, ouvi um cachorro rosnar, parei de correr e por instinto subi em uma daquelas árvores. Em uma altitude que julguei estar fora do alcance do cão, sentei-me em um galho velho. Respirei. Estava á salvo. O cachorro parecia ter sumido, então, tranqüila encostei-me no ar, depois caí. O único som possível de se ouvir era minha voz, cada vez mais aguda, naquele momento, a única certeza que eu tinha era que eu iria cair e... Morrer, talvez?
Enquanto eu aguardava desesperadamente pela morte prematura, senti mãos quentes segurando-me. Não havia caído. Não havia morrido. Alguém me salvara. Olhei para meu salvador, porém não o vi. Seu cabelo comprido e perfeitamente encaracolado cobria-lhe praticamente todo o rosto. Pude ver, dificilmente, seus olhos. Eram castanhos, bem claros, quase cor-de-mel. Olhos sonhadores e distantes. [i]Obrigada.[/i] Agradeci gentilmente. Ele não respondeu, me largou no chão e foi embora, correndo. Fiquei paralisada e depois, acordei.