Fiôrin Falcon e os Fantasmas de Sour-Pussh (Capítulo 1 de 19)

1o Capítulo – O Início

- Sorriam. Isso, assim, perfeito. Agora digam “xis”.

Clack. O fotógrafo se preparou para tirar mais algumas fotos. Enquanto se arrumava e tentava ficar confortável dentro daquele terno justinho, fez movimentos com as mãos que acabaram de tornando uma tentativa frustada de fazer com que todas as pessoas pudessem aparecer na foto.

- Você, Fiôrin, um pouco mais para a esquerda – ele disse, enquanto uma menina de pele clara e cabelos também dessa cor, dava passinhos para o lado.

- Ai, sai daqui – murmurou Fiona, a gêmea de Fiôrin. A maioria das pessoas as confundiam. Mesmo o cabelo de Fiôrin, encaracolado, sendo totalmente diferente do de sua irmã, liso.

As duas acabaram se apertando o máximo possível e quando todos estavam ancaixados dentro do espaço onde a foto iria capturá-los, o fotógrafo mais uma vez apertou o botão, emitindo um alto clack.

Na foto, olhando da esquerda para a direita, podia-se ver Fiôrin, no canto, seguida de sua irmã, Fiona, que estava com cara de emburrada. Logo após, a Sra. Lucy Falcon, uma mulher alta e esbelta com cabelos laranja-avermelhado. Estava tão bonita que quase ofuscava a beleza de Dakota, a noiva, que sorria exageradamente e estava abraçando sua prima, a Sra. Falcon. Dakota ainda era jovem. Seus 26 anos estavam disfarçados por baixo da maquiagem. Porém, seu recém marido, Carl, que estava do seu outro lado, aparentava ter mais do que apenas 28 anos. Por fim, ocupando o último lugar da foto, vinha o Sr. Richard Falcon. Um homem robusto e com expressão marcante. Seu rosto vermelho fazia com que seus olhos preto brilhassem.

Aquele era um dia muito especial para todos. O casamento de Carl e Dakota finalmente havia chego. Perto do Dia de Ação de Graças, Fiôrin e Fiona contavam os dias para entrarem de férias, enquanto a Sra. Lucy e o Sr. Richard esforçavan-se para não fechar o local onde trabalhavam. Por que sim, eles eram os donos dos tais estabelecimentos. Um de frente para o outro, o consultório de advocacia da Sra. Falcon era enorme e chamava a atenção de quem quer que fosse. O Sr. Falcon, todavia, era especializado em administrar empresas.

A cidade onde a família morava, Fourir Esther, era uma das mais importantes da Flórida. Os Falcon eram conhecidos por todos e tinham fama de serem uma família muito unida. Todos os vizinhos que moravam próximo deles no condomínio Snigeb Tab os tinham como um exemplo a ser seguido.

Neste dia, porém, parecia que havia algo de errado acontecendo. O Sr. Richard não parava de andar de um lado para o outro, ansioso, enquanto parecia estar a espera de alguma ligação importantíssima. Sua mulher, por outro lado, estava tranquila. Enquanto parabenizava sua prima pelo belo casamento, emocionava-se ao lembrar do seu próprio.

- Estava tudo tão lindo. Você se lembra, Dakota?

- Claro que lembro minha prima. Como poderia esquecer algo tão belo – ela mesma estava muito emocionada – Está vendo aqueles antúrios alí do outro lado? – ela apontou para algumas flores roxas que estavam todas amontoadas em um canto da Igreja, enquanto Lucy balançava a cabeça, querendo dizer que estava vendo – Então, não sei se você percebeu, mas optei por este tipo de flores apenas porque você as usou no seu casamento.

Mais lágrimas correram dos olhos da Sra. Falcon, o que fez com que Dakota corresse para pegar um lenço e ajudá-la a retocar a maquiagem. Enquanto isso, Fiôrin caminhava até o padre.

- Parabéns reverendo, foi amocionante.

O padre lençou um olhar de carinho para a menina e logo depois se retirou e sumiu por uma porta atrás do altar, que Fiôrin até agora não tinha percebido que existia. Carl pediu liçença para a família Rosilier e caminhou até onde o padre acabara de estar. Chegando lá, levantou os braços e pediu que todos o ouvissem.

- Queridos amigos. Muito obrigado por terem vindo e presenciado esta cerimônia tão importante para nós – neste ponto Dakota já estava ao seu lado, com seu vestido branco-violeta – É com grande orgulho que queremos dizer que amamos todos que estão aqui e pedimos que depois de deixarem a Igreja, nos acompanhem numa deliciosa celebração que ocorrerrá no restaurante aqui próximo.

Vários murmúrios percorreram o salão e Carl logo voltou a falar.

- Também quero lhes pedir que dêem uma salva de palmas para minha mulher, Dakota, o anjo dos meus sonhos e mulher de minha vida – todos que estavam presente puderam jurar que viram ainda mais lágrimas escorrerem do rosto da Sra. Lucy – E que se Deus quiser, será a pessoa com quem eu viverei minha eternidade aqui, e no céu.

Dakota soltou alguns gritinhos de animação e alegria enquanto sentia que algo dentro de sua barriga estava se movendo: seu bebê, de quatro meses, parecia estar celebrando também.

No restaurante, todos os convidados acomodaram-se nos lugares com seus nomes. A mesa dos Falcon ficava ao lado da dos noivos. Depois de todos terem servido-se e estarem conversando, Carl foi até o centro do salão do restaurante e começou a dizer.

- Senhores, peço mais um minuto de silêncio…- ele disse, enquanto tomava alguns goles de champagne.

Algumas das pessoas que ainda estavam de pé finalmente se sentaram e logo após, todos ali dentro prestavam total atenção no que o noivo tinha para falar.

- Estou aqui na frente… - ele parou por um instante e enquanto uma das mãos segurava uma taça, a outra chamava Dakota – Venha meu amor, quero que você esteja aqui comigo quando eu anunciar.

Dakota levantou sem jeito, ajustando o vestido e, sem parar de sorrir por nem ao menos um segundo, foi até seu marido e ficou ao lado dele, de braços entrelaçados. Ele tomou mais um gole de sua bebida e continuou.

- Então, quero anunciar o meu presen-ic, presente – várias pessoas no salão deram gargalhadas enquanto Dakota tirava a taça da mão de Carl. Sem nem ao menos ter forças para resmungar, prosseguiu - NÓS CONSEGUIMOS – gritou o noivo correndo entre as mesas e as cadeiras - NÓS CONSEGUIMOS! NÓS VAMOS!

Ninguém estava entendendo nada do que estava sendo dito. A felicidade repentina de Carl com certeza deveria ser algum efeito colateral da bebida.

- NÓS CONSEGUIMOS – ele continuava cada vez parecendo mais feliz – NÓS IREMOS PARA LÁ! SIM! IREMOS.

- O que você está falando? – quis saber Dakota que já estava começando a se preocupar com o estranho comportamento de seu marido.

- NÓS CONSEGUIMOS MEU AMOR!

- Pelo amor de Deus Carl – se zangou Dakota puxando-o pelo braço e apertando-o – O que está havendo?

- A nossa lua-de-mel... – começou ele, mas teve um ataque de riso e não conseguiu terminar de falar.

- O que tem a nossa lua-de-mel? – perguntava Dakota cada vez mais irritada – Para onde iremos?

- Você sabe – dizia ele tentando parar de rir – O nosso maior desejo.

- Mas você sabe que a única coisa que eu queria de lua-de-mel… – disse Dakota soltando seu braço e colocando-o na cintura.

- JUSTAMENTE! PARA A ILHA – dizia ele. Após isso, cochichou alguma coisa em seu ouvido.

- Eu entendi meu amor, entendi – disse Dakota tentando acalmar seu marido – Que bom que conseguiu!

A Sra. Lucy, que estava se sentindo envergonhada pelos prórpios noivos, decidiu fazer alguma coisa para que toda aquela algazarra acabasse de uma vez por todas. Levantou-se e perguntou.

- Sobre o que vocês estão falando?

- Lucy – Dakota começou a falar indo em direção à sua prima – Nós estamos vibrando tanto por que conseguimos fazer o que queríamos!

- O que vocês conseguiram? – perguntou a Sra. Falcon zangando-se mais ainda.

- Conseguimos duas vagas para o vôo de amanhã à tarde para a ilha - começou ela a explicar – Uma semana atrás, quando não tínhamos certeza se iríamos, haviam apenas mais quatro vagas, mas já estavam reservadas.

- Então – disse a Sra. Lucy –, como vocês conseguiram?

- Ele – disse Dakota apontando para seu marido –, no caminho para cá, recebeu a informação de que duas pessoas haviam desistido, então, eles ligaram para nós para saber se ainda estaríamos interressados pelas passagens.

- E... – começou a Sra. Falcon – para onde vocês pretendem... ah... quero dizer... para onde vão?

Parecia que Carl estava esperando que ela perguntasse isso, pois sua resposta foi tão alegre quanto seu “sim” no casamento. Alto e em bom som, Carl gritou.

- PARA A ILHA MAGNÍFICA DE SOUR-PUSSH!

Todos dentro do restaurante levantaram-se e começaram a aplaudir, até mesmo os garçons e funcionários. Em menos de cinco minutos já havia se formado uma grande fila indiana em frente a Carl e Dakota para lhes dar os parabéns pela viagem. As mulheres sempre davam um abraço em Carl enquanto os homens lhe davam tapinhas nas costas.

Mas ninguém parecia muito empolgado em cumprimentar Dakota. Ela sabia que não havia feito nenhum esforço para que a viagem se tornasse real, mas ninguém sabia disso. Apenas quando chegou o momento da família Falcon parabenizar os noivos, foi que Dakota se sentiu um pouco melhor.

- Meus parabéns – dizia o Sr. Richard com água nos olhos de tão emocionado – Com certeza será uma ótima viagem.

- Com certeza será – disse Dakota dando um abraço no Sr. Falcon.

Quando chegou a vez da Sra. Lucy lhe dar os parabéns, antes de tudo, elas se abraçaram. Emocionada, mas também um pouco preocupada, ela disse.

- Não acho que seria uma boa idéia, essa… viagem de vocês.

A expressão de Dakota mudou de felicidade para desapontamento tão rápido que parecia que alguém havia tentado enrrugar sua pele.

- Ora... – começou Dakota triste olhando para o fundo dos olhos de sua única prima – Porque seria uma má idéia?

- Bem... receio que você não deva... enfim. Por que Sour-Pussh?

- Hey! – gritou uma mulher que estava na fila um pouco atrás da Sra. Lucy – Você não é a única queridinha! – disse ela lançando um olhar severo para a Sra. Falcon.

- Espere um minuto, sim!? – ordenou Dakota olhando para a mulher e depois novamente para sua prima – O que você havia me perguntado?

- Eu lhe perguntei por que vocês escolheram Sour-Pussh.

- Ah... sim. Escolhemos Sour-Pussh por que fizemos uma pesquisa sobre ilhas e lugares exóticos onde poderíamos ficar. Pesquisamos o passado...

- O passado?! – perguntou a Senhora Lucy cortando-a.

- Sim – continuou Dakota surpresa pelo fato de sua prima ter-lhe interrompido – Pesquisamos e descobrimos que é nessa ilha que acontece o Campeonato Anual de Jet-ski. E quem comprasse passagens para a ilha durante essa semana, ganhava também um ingresso para o campeonato. Dizem que é muito divertido!

- Com certeza deve ser – falou a Sra. Falcon perecendo um pouco mais tranqüila consigo mesma e com sua prima – Mas com certeza devem existir muitos lugares melhores para se visitar.

- Lucy! – exclamou Dakota – O que é que você tem contra a viagem?

Ela não respondeu. Deu as costas para Dakota e caminhou até a porta de saída do salão. Depois de abriri a porta, viu que sentada no penúltimo degrau da escadaria que dava acesso a entrada do restaurante, estava uma mulher que ela não reconheceu, pois estava de costas para ela.

A mulher era alta e magra. Chorava como se sua vida estivesse à beira de acabar. A Sra. Lucy pensou em ir ajudá-la, porém não tinha certeza se deveria. Pensou durante alguns segundos e imaginou que aquela pessoa pudesse ser uma ladra ou qualquer coisa do tipo.

A Sra. Falcon ficou ali, sem dizer uma palavra, apenas olhando para a mulher, que parecia estar mais calma. Se a mulher visse a Sra. Falcon ali, olhando para ela, com certeza desconfiaria de algo. Sem mais demoras, a Sra. Lucy procurou um canto qualquer para se esconder. Logo atrás da mulher havia um pequeno pinheiro que seria o suficiente para abrigá-la.

Com um lance rápido e esperto, a Sra. Lucy agachou-se atrás da pequena árvore e ficou ali até que a mulher fosse embora. Mas parecia que ela não queria ir, de jeito nenhum. Ela não parava de olhar para o céu e parecia murmurar alguma coisa impossível de entender. O mais estranho de tudo era que aparentemente ninguém havia notado a sua falta no salão. Todos deveriam estar entretidos, e com isso não notaram que ela não estava mais lá. Mas aquela mulher... Por que não estava na festa?

A impressão da Sra. Lucy foi de que já estava lá no mínimo há uns dez minutos, mas nem haviam se passado três. E aquela mulher ainda olhava para o céu murmurando coisas. Pareciam ser palavras, mas outros tipos de palavras.

Seja o que fosse, os joelhos da Sra. Falcon já estavam latejando de dor. Nunca tinha visto alguém fazendo aquilo. Olhar para o céu e murmurar para ele. De qualquer maneira, Lucy não teve a oportunidade de pensar em muita coisa depois daquilo, pois logo em seguida seu marido apareceu diante da porta.

- O que você está fazendo aí, meu amor?

A mulher, que até agora pensava que estava sozinha, espantou-se ao ver que uma outra estava se levantando de trás de um arbusto que ficava a no máximo 3 metros de onde ela estava até agora. Sem pensar duas vezes, pulou e saiu correndo o mais rápido que pôde.

- Nossa, o que aquela mulher tinha?

- Como que eu vou saber Richard – ela dizia, tentando disfarçar o real motivo de estar alí fora por tanto tempo – Estava procurando meu baton que havia caído aqui no chão e finalmente achei.

O Sr. Richard lhe lançou um sorriso e os dois entraram novamente no salão.

Quando apenas a família Falcon e a família Cirrals ainda estavam na fasta, o Sr. Richard foi cumprimentar mais uma vez Carl.

- Então meu amigo – disse o Sr. Falcon com um ar de felicidade –, parece que vamos juntos para Sour- Pussh!

- Desculpe, Richard - falou Carl, engasgando-se com um gole de seu uísque – O que você disse?

- Que nós vamos juntos para Sour-Pussh.

- Vocês também vão?! – perguntou Carl surpreso

- Vamos, mas eu te peço – agora o Sr. Falcon estava com o tom de voz preocupado enquanto olhava para sua esposa que conversava com Dakota, juntamente com suas filhas. Depois murmurou para Carl –, não conte para elas, ninguém pode saber, nem mesmo sua esposa, quero que seja surpresa para todas, afinal, o aniversário de Lucy está chegando.

- É mesmo? – Carl perguntou por perguntar – Que dia?

- Daqui a duas semanas – disse o Sr. Richard virando-se e dando mais uma olhada em sua mulher

- Ah... sim... claro... como pude esquecer?

– Tenho certeza de que ela vai gostar desse presente, faz alguns meses que ela vem comentando que gostaria de viajar para algum lugar. Decidi que Sour-Pussh é o lugar perfeito – continuou ele orgulhoso – Tem trabalho de recreação para as crianças, SPA´s para os adultos, academia de ginástica e... Bem, muitas outras opções. E... – ele estava tentando arranjar um jeito de tranqüilizar Carl por ele não ter lembrado do dia do aniversário -, é difícil lembrar de todas as datas – falou o Sr. Falcon parecendo pouco sincero – Você ainda vai se acostumar. Não se preocupe.

- Espero que sim – disse Carl virando-se novamente e olhando para sua esposa – Acho que vou pegar mais um drinque.

- Ótima idéia. Vou pegar um para mim também.

Quando chegaram na mesa onde estavam às bebidas, perceberam que havia apenas refrigerantes, e não mais vinhos, uísques, vodcas e outras bebidas alcóolicas. Então, decidiram tentar pedir para os garçons na cozinha, afinal, Carl era o dono da festa.

Mas eles não sabiam onde era a cozinha. No salão de festas onde o casamento estava acontecendo havia cinco portas. Uma delas servia como entrada para o salão; outras duas serviam como porta de entrada dos banheiros masculino e feminino.

As outras duas portas eram exatamente iguais. Ambas eram de madeira escura e aparentavam ser velhas. A única diferença entre elas era a maçaneta. Uma era de plástico, e a outra era de alumínio. A maior semelhança entre as portas era a placa que ficava presa a elas, com grandes letras feitas com tinta, elas diziam: ÁREA PERMITIDA APENAS PARA FUNCIONÁRIOS. NÃO ENTRE!

Sem saber em qual das portas deveriam investir, tentaram naquela de maçaneta de alumínio. Quando estavam prestes a tentar abrí-la pela segunda vez, ouviram um grande gemido vindo do outro lado da parede.

- O que será que foi isso? – perguntou o Sr. Richard olhando para a porta e em seguida para Carl.

- Não faço a mínima idéia – respondeu ele com certo medo e desconfiança.

- Vamos até lá! – exclamou o Sr. Falcon fazendo a volta e indo novamente em direção a porta.

- Acho que não é uma boa idéia - disse Carl, parecendo nervoso – Podemos ficar sem drinques por um tempo.

- Ora Carl - falou o Sr. Richard empolgado –, deixe de ser medroso, a Dakota não casou com um homem assim. Casou?

Carl corou. Era óbvio que ele não estava com medo e, sim, apenas não queria entrar por precaução. Sabia que Dakota estava adorando tudo o que estava acontecendo e não arriscaria-se a arruinar tudo, apenas por curiosidade. Porém, imaginou que qualquer que fosse a razão daquele barulho, sabia que não deveria ser algo perigoso.

- Tem razão - agora Carl parecia encorajado – Vamos logo.

Os dois cuidadosamente foram em direção à porta, e pararam quando estavam a menos de um passo de abri-la. Um olhou para o outro, e com um sinal com a cabeça o Sr. Falcon deu a ordem, fazendo com que Carl a abrisse, jogando seu corpo contra ela.

A porta que antes estava emperrada, desta vez abriu com grande facilidade, o que fez com que os dois se olhassem com grande espanto e Carl dissesse que foi por causa de sua força. Com passos cautelosos, o Sr. Richard e Carl entraram no depósito sem fazer grandes barulhos.

- Você vai por ali – sussurrou Carl para o Sr. Falcon apontando para o corredor cercado de prateleiras que ficava mais perto do seu amigo.

O Sr. Richard fez que sim com a cabeça, e começou a procurar por alguma coisa que pudesse ter feito aquele barulho. Olhou todas as prateleiras a procura de algo, assim como Carl, mas não achou.

Os dois se encontraram novamente no final do corredor, que dava para uma pequena janela que ficava acima de uma estante de pouco menos de dois metros de altura.

- Só pode estar ali – agora foi a vez do Sr. Falcon sussurrar e apontar para cima da estante – Me ajuda a subir.

- Está bem – disse Carl nervoso – Suba nos meus ombros.

E com um pouco de dificuldade, Carl conseguiu dar apoio ao Sr. Richard para que ele pudesse observar a parte de cima da estante.

No momento em que viu o que tinha ali, levou um susto, fazendo com que quase caísse dos ombros de Carl. Ao ver a raposa olhando para ele com um ar de curiosidade, o Sr. Richard pegou-a, e rapidamente desceu dos ombros de seu amigo.

- Olhe só! – exclamou o Sr. Falcon rindo – Como que uma coisa tão bonitinha e pequena pode ter feito um barulho tão grande?

- Talvez por ter derrubado isso – Carl apontou para a resma de papel que estava estatelada no chão, e tornou a rir também – Como ela é bonita, não!? – ele parecia espantado com a beleza da raposa que estava no colo do Sr. Richard.

- É verdade – o Sr. Falcon olhou para ela, e ela devolveu o olhar carinhoso – Como vamos a chamar?

- Não sei. Primeiro temos que saber se definitivamente é ela.

E com um movimento cuidadoso Carl olhou e certificou-se do sexo do animal.

- Você acertou. É ela.

- Acho melhor nós levarmos para Fiôrin e Fiona darem um nome.

- Ótima idéia – disse Carl olhando desconfiado para o Sr. Falcon - Receio que você tenha pensado em ficar com ela, não é mesmo?

- Sim, quero ficar com ela – após ter dito isso o Sr. Richard lembrou de sua esposa Lucy, e não tinha certeza de que ela também estaria tão empolgada com a idéia, então continuou – Mas antes tenho que conversar com Lucy, não sei se ela vai gostar. Qualquer coisa você fica com ela.

- Bem que eu gostaria – falou Carl abaixando a cabeça –, mas Dakota não quer mais animais de estimação... ela tem seus motivos.

- Entendo. Então vou ser obrigado a ficar com ela – disse o Sr. Falcon feliz.

Os dois, carregando a raposa que mais parecia uma pequena bola de pêlos avermelhados, saíram do depósito e foram em direção ao salão. No instante em que entraram, Dakota veio correndo até os dois sem perceber a presença da raposa, e perguntou, brava.

- Onde você estava Carl?

- Eu...

E sem deixar Carl se explicar ela o cortou.

- A família Cirrals já foi embora e você nem estava aqui. Que impressão que você causou. Meu Deus do céu!

- Acalme-se Dakota – o Sr. Richard dizia –, eu o Carl fomos até o depósito ver o que tinha lá depois de termos ouvido um barulho estranho. Ele me disse que não era nada e que você ficaria preocupada se fossemos lá, mas mesmo assim eu insisti. Peço desculpas.

- Foi assim mesmo que aconteceu? – perguntou ela ainda brava, porém mais calma.

- Sim – disse ele rapidamente.

- E porque vocês demoraram?

- É que... achamos ela – disse Carl torcendo para que sua mulher não tivesse um ataque de gritos ao ver o animal.

- Ela quem? – perguntou Dakota confusa.

- Ela! – o Sr. Richard estava apontando para a raposa enquanto abria um largo sorriso.

- Oh meu Deus, o que é isso?! – Dakota agora estava com medo.

- É uma raposa! – exclamou Fiôrin correndo em direção ao animal – E ela aparenta ter uns... três ou quatro meses apenas – falou ela quando estava bem próxima ao animal observando-o.

- Como você sabe querida? – perguntou a Sr. Lucy que também estava se aproximando de todos.

- Estudamos raposas no mês... retrasado. Você lembra, Fiona?

- Lembro – disse Fiona, mas é claro que ela não lembrava. – Papai?

- Sim querida? – falou ele soltando a raposa no meio das pessoas ali presentes.

- Ela já tem nome?

- Ainda não – Carl respondeu pelo Sr. Richard – Queríamos que vocês duas dessem um nome a ela.

Após apanhar o animal que parecia não comer a no mínimo uns dois dias. Fiôrin olhou para se certificar se era fêmea e falou.

- É fêmea! Que ótimo! - Fiôrin parecia empolgada como nunca - Que tal...

- Kay – falou Fiona cortando a sua irmã.

- Por mim está ótimo.

- Kay... legal, gostei – o Sr. Falcon também estava empolgado.

- Podemos ficar com ela papai? – perguntou Fiôrin torcendo para que a resposta de seu pai fosse positiva.

- Por mim, sim - respondeu ele olhando para as meninas que já estavam comemorando antes mesmo de saberem a resposta – Mas... precisam perguntar para a mãe de vocês também.

- Por favor, mãe – pediram as duas juntas virando-se e olhando para a Sra. Lucy, que não pareceu ter gostado da idéia.

- Não acho que seja uma boa idéia, é perigoso – a Sra. Lucy era a única da família Falcon que não queria o animal.

- Ah, vamos Lucy – agora era Carl que tentava convencê-la.

- Carl, não se meta – falou Dakota, envergonhada pela atitude do marido.

- É perigoso meninas – continuava a Sra. Falcon –, mas se vocês querem... fiquem com ela.

- Oba! – Fiona e Fiôrin exclamaram e deram um beijo em sua mãe, uma em cada lado da bochecha, e correram em direção a Kay

- Mas ouçam uma coisa – era a hora da Sra. Lucy dar as suas recomendações – São vocês três que vão cuidar dela – falou ela apontando para o resto de sua família – Nem adianta pedir ajuda.

- Tudo bem - falou Fiona sorridente -, deixe com a gente.

- Vou confiar em vocês – disse a Sra. Lucy indo em direção da mesa onde tinham as bebidas e se servindo de ou pouco de água.

- Então – começou o Sr. Falcon –, acho que estamos sendo apenas um incomodo aqui a essas horas da noite. Acho melhor irmos embora – disse ele olhando para sua mulher agora sentada – Estamos todos muito cansados, e temos uma longa viagem pela frente – nesse ponto ele olhou para Carl que lhe retribuiu o olhar juntamente com um sorriso.

- Sim – falou Carl abraçando sua mulher e dando-lhe um beijo – Temos uma grande viagem pela frente.

- Mas... – começou Dakota, mas parou para pensar um pouco sobre o que iria dizer – Onde vocês vão dormir?

Isso era um grande problema. A essas horas da noite, com certeza nenhum hotel receberia alguém acompanhado de uma raposa. Mas eles precisavam ir para algum lugar. A casa em Fourird Esther era muito longe, e mesmo se fosse perto, o Sr. Falcon não conseguiria viajar a noite toda sem parar.

Pensou durante mais alguns instantes, e depois falou:

- Bem... na verdade não sabemos aonde iremos dormir... talvez achemos...

Não pode terminar sua fala, pois havia sido interrompido por Dakota que agora estava olhando para Fiôrin e Fiona.

- Vocês podem dormir em nossa casa! – disse ela meio incerta do que havia falado. Com certeza gostaria de passar essa noite a sós com seu novo marido, mas se sua única prima não tivesse lugar para dormir... preferia o bem estar de todos.

- Imagina – surpreendeu-se o Sr. Richard olhando para Dakota – Nem pensar. Não incomodaremos vocês nesta noite especial, afinal, é apenas uma que se tem na vida. Encontraremos um lugar, fiquem tranqüilos.

- Onde?! – indagou Dakota.

- Existem muitos lugares pelo caminho, paramos em um hotel e amanhã continuaremos a viajem.

- Isso não é necessário – falou Carl olhando para o Sr. Falcon – Poderemos ir juntos amanhã, seria divertido.

Com certeza seria muito mais divertido do que ter que procurar um hotel ou pousada.

Depois de pensar por um tempo, o Sr. Richard disse.

- Aceitamos o convite. Muito obrigado.

- Papai – chamou Fiôrin.

- Sim?

- Como assim “iremos juntos”?

Ele não sabia o que poderia responder. Achou melhor fazer um movimento com a cabeça, indicando que cometeu um erro.

- Sem problema – falou Dakota satisfeita por ter conseguido, afinal, precisava conversar urgentemente com sua prima, a sós.

- Então... – o Sr. Falcon disse olhando para sua mulher que conversava com suas filhas – Irei informar Lucy.

- Sim. Vá. Temos que sair logo – informou Carl.

Foi exatamente o que ele fez. Como ele, sua mulher também achava desnecessário e um pouco incomodo passar a noite na casa dos noivos, mas ela sabia, tanto quanto seu marido, que era a melhor coisa a se fazer.

Como haviam combinado, todos saíram juntos do restaurante e foram até a casa de Dakota e Carl.

A casa era muito menor que a dos Falcon, e com certeza, muito menos aconchegante e bonita. A sala de estar continha um grande sofá e uma mesinha de vidro ao centro, já a sala de jantar era equipada somente com uma mesa que cabiam no máximo seis pessoas. A cozinha, de acordo com a Sra. Lucy, era a melhor parte da casa, com uma pequena mesa para refeições rápidas e toda decorada com móveis e louças brancas. Já a parte mais reservada possuía um quarto para hóspedes, um escritório no qual Carl trabalhava, um banheiro, e a única suíte, pertencente aos noivos.

Porém, ao contrário da casa dos Falcon, esta possuía um pequeno jardim com flores, grama e bromélias.

Mesmo a casa sendo muito diferente, a Sra. Lucy falou:

- A sua casa é... maravilhosa!

- Adorei o escritório, Carl – disse o Sr. Falcon dando uma olhada no cômodo.

Enquanto seus pais apreciavam a casa dos noivos, Fiona e Fiôrin estavam ainda fora de casa procurando por algo em que pudessem aconchegar a pequena Kay. Acabaram encontrando uma caixa e um cobertor velho ao lado do lixeiro. No cobertor estava escrito o nome Ônix.

- Queridas, venham ver a casa, é magnífica! – exclamou a Sra. Lucy, chamando suas filhas.

- Já estamos indo – respondeu Fiôrin também por sua irmã.

E elas entraram na casa, não tão impressionadas como sua mãe demonstrava estar, passaram pelas salas, cozinha e chegando no escritório viram, que lá havia um computador. Imediatamente perguntaram a Carl se podiam usá-lo. A resposta foi positiva, evidentemente.

E entrando em um site de pesquisa, buscaram por alimentação de raposas, encontraram muitas coisas curiosas e úteis:

O peso de uma raposa bebê pode variar de 2,8 até 3,6 kg. São caracterizadas pelo seu forte e na maioria das vezes, agressivo comportamento. Seus olhos possuem pupilas ovais, além de quarenta e dois dentes (dentro do normal).

Quando vivem eu seu habitat natural (ou, de origem), podem chegar a viver até seis anos, mas, se criadas em cativeiro, podem alcançar um tempo de vida superior a dez anos. Na maioria das vezes, devido a sua alimentação.

Como raposas gostam de se alimentar de pequenos mamíferos, anfíbios, insetos, pássaros, peixes, grama e répteis, passam na maioria das vezes grande parte da noite buscando por comida. Elas também são ótimas pescadoras.

Desligaram rapidamente o computador e em uma fração de segundos já estavam novamente na parte de fora da casa levando Kay até a grama para que pudesse comê-la. Mas se decepcionaram ao ver que ela nem ao menos a cheirava. Levaram ela então, para dentro de casa, e enquanto Fiona ia até o freezer para pegar um peixe para dar de comer para a raposa, Dakota passou correndo pelo corredor, e ao ver uma luz acesa, parou instantaneamente, e deu meia volta. Ao perceber isso, Fiôrin largou a raposa em cima do sofá e correu até ela exclamando.

- Tia Dakota, é maravilhoso esse tom de verde que a senhora pintou a sala!

Dakota se virou, e nesse momento Fiona pegou um peixe, fechou o freezer delicadamente, e apagou a luz.

- O que foi querida?

- É linda essa cor, não é mesmo? – falou ela quando apontou para a sala onde tinha largado a raposa.

- É sim – disse ela enquanto se virava para garantir que a luz não estava acesa – Fui eu que a escolhi.

- Ótimo gosto, ficou lindo. Agora a senhora pode continuar o que estava fazendo, tenho que ir cuidar da Kay – e então ela pegou a raposa, que no momento já estava no chão, para sua felicidade.

Ao encontrar Fiona colocando o pequeno peixe na água para descongelar com mais rapidez, Fiôrin falou aliviada.

- Essa foi por pouco.

- Nem me fala, eu é que estou gelada, e não o peixe.

Enquanto às gêmeas cuidavam de Kay, o Sr. Richard achou que era o momento exato de falar para sua mulher sobre sua viajem. Ele a chamou para o quarto em que iriam dormir, e lá dentro, disse.

- Tenho que lhe falar uma coisa muito importante.

- O que? – perguntou ela parecendo estar com pressa.

- Sobre a nossa viagem...

- Não me diga que ela foi cancelada – falou a Sra. Lucy fazendo uma cara de desprezo.

- Não! – o Sr. Falcon apressou-se a falar – É sobre o destino.

- Ah! – exclamou a Sra. Lucy parecendo empolgada – Você nunca me disse para onde iremos.

- Iremos para Sour-Pussh.

A expressão da Sra. Lucy se tornou a pior possível. Parecia que havia levado uma facada bem no meio do peito. Começou a lhe faltar ar e somente por que estava sentada na cama, não caiu no chão. Parecia estar morta.

Link Golden Blade
Enviado por Link Golden Blade em 12/01/2009
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