Amor impossível*
Toda vez que ela o via, o coração disparava. Foi assim desde que fora a primeira vez à fazenda dos pais dela para negociar um bezerro nascido há pouco dias. Bastou um bom-dia do rapaz, sem nenhuma segunda intenção, para despertar nela uma sensação que lhe pareceu muito estranha, mas ao mesmo tempo muito boa. Acabara de conhecer o amor, e foi à primeira vista.
Ela se chamava Dorotéia. Tinha apenas 16 anos, recém-completados. Era uma mocinha encantadora, de pele bem branquinha e umas poucas sardas, que lhe davam certo charme.
Ele se chamava Orlando e aparentava ter uns vinte anos. Era moreno, alto, cabelos pretos lisos, músculos rígidos, com aparência de alguém acostumado ao trabalho pesado. Era peão da fazenda "Aurora", que ficava a alguns quilômetros da dela.
Orlando não percebeu nenhuma manifestação especial por parte da moça, mas os pais desta sim.
Ele veio outras vezes à fazenda dela e aí sim começou a notar os olhares e sorrisos que ela lhe dava e os cochichos com a irmã mais nova. Logo começou a interessar-se também por ela. Como era solteiro, achava que não havia mal nisso. Puro engano.
Os pais da moça, observando o comportamento da filha e do peão, decidiram proibir a vinda deste à fazenda. Para eles, sua filha deveria casar-se com o filho do compadre Eduardo Noronha, dono da próspera fazenda "Maringá", distante cerca de uma hora da sua. Dorotéia, porém, não tinha nenhuma atração por Armando Noronha. Aos olhos dela, o rapaz parecia feio, com uns óculos de lentes garrafais.
Como precaução, pediram ao fazendeiro vizinho que mandasse Orlando para o mais longe possível daquelas paragens. Dentro de pouco tempo, o rapaz recebe a notícia de que trabalharia em Goiás, onde ganharia o triplo do que recebia ali.
Tentou se comunicar com Dorotéia, mas não houve ocasião para isso. Partiu, mas com a convicção de que voltaria e, depois de se estabilizar, levaria sua amada.
Para Dorotéia, foi contada a história de que Orlando havia fugido com uma das moças da fazenda onde trabalhava, e que esta estava grávida do rapaz.
A moça não se conteve e chorou durante vários dias. Como Orlando pudera fazer aquilo com ela?
Ele ainda tentou corresponder-se com Dorotéia, mas as cartas não chegaram às suas mãos.
Os pais de Dorotéia tomaram conhecimento de que Orlando prometera voltar para buscá-la. Resolveram tomar uma atitude mais drástica.
Tempos depois, chega a notícia de que Orlando havia sido morto numa briga com um dos empregados da fazenda onde trabalhava. A versão era a de que um dos peões se engraçara da esposa deste e, para lavar a honra, Orlando foi tirar satisfações com o tal rapaz.
Dorotéia tinha assim a confirmação de que o namorado a havia abandonado por outra. Mas ainda assim chorou a morte do amado.
Diante desses fatos, ela, mesmo contra a vontade, aceitou casar com o filho do compadre Eduardo Noronha. Foram infelizes para sempre.
* COSTA, LAIRSON. Amor Impossível. In: Contando História. Belém: L & A Editora, 2006.