BASTA ESTALAR OS DEDOS

Em cada canto um outro canto

multiplicado...

em cada quadro quadrado

quatro lados iguais...

unidos em linhas retas...

e em minhas mãos dedos tão desiguais.

Em cada mesa, as pernas

que não se permitem fechadas

sustentam o peso, não reclamam

em seus pés não se calçam sapatos

pés descalços, sem meias, sem saltos

e no meu corpo duas pernas e peso tão desigual.

Para o meu corpo em equilíbrio

duas pernas, pés calçados

e nos meus atos peso que não suporto

suponho um porto, abro a boca, berro

para os cantos quadrados, em eco...

e na mesa o pão da partilha falta...

Eu canto os iguais tão diferentes

em cantos diferentes tão iguais

encantos que ferem a dor da gente

dor berrada ao vento como dor perene

em palmos espalmados, eu amo

a alma de estalos banais.

E assim como os dedos de minhas mãos

dedos tão diferentes estalados

busco a igualdade nas diferenças

em cantos quadrados em retas

porque a cada novo canto

a certeza de cantar sempre mais.