Trícia (parte 8)

O parque aquático Felhim era bem freqüentado, melhor dizer, freqüentado por pessoas de classe média alta! Ou seja, era difícil encontrar alguém ali que não tinha alta quantia em dinheiro na conta, rolex, filhos nos melhores colégios, e as esposas mais frescas, na idéia de Trícia, a mãe dela fazia parte, dessa última categoria!

Havia diversas piscinas, duchas, toboaguas e muito mais. Nas aulas de natação, Trícia sempre ficava na borda da piscina, molhando apenas os pés, segundo a professora de natação, era perigoso, se por acaso ela soltasse das barras da borda, poderia se afogar, pois seria difícil ela encontrar as barras de novo. O pai achava aquilo um exagero, já à mãe concordava fielmente e jamais dava ouvidos a outros comentários!

-Trícia, você vai junto com o Dean, porque a piscina é rasa! –Disse a mãe.

-Que? Mas por quê? Eu quero ir com você.

-Não dá Trícia, vou levar o Fabinho à piscina média.

-Como é? Por que ele não vai pra piscina rasa também.

A mãe parou indignada com a pergunta, e disse:

-O Fabinho sabe nadar, Trícia!

Ela entorta a cara e empurra o primo que ia dando a mão pra conduzi-la.

-Venho aqui sempre idiota! Sei o caminho!

E saiu irritada a caminho da piscininha vagabunda, intitulada assim por ela.

Dez e meia da manhã, em um parque aquático, sem quase nem poder entrar na água, é um tédio! Mas até que ia tudo controlável, quando:

-Trícia! O seu irmão deu uma ponta do mini trampolim, aquele de um metro e meio! Parece que um treinador o viu, e resolveu chamá-lo pra participar de um campeonato!

-Que coisa linda! –Dizia a mãe.

-Que coisa mais desagradável! –Murmurava Trícia.

-Hein filha?!

-Nada! –A fez disfarçando.

Ouvir uma notícia dessas ainda mais quando nem pode entrar em uma piscina de um metro e dez, é muito desagradável. Trícia não deixaria barato! Ela também podia fazer isso.

-O que é saltar de um trampolimzinho de um metro e meio?! –Fez irônica. –Faço isso, e mais! Vou pular do de dois metros! Ninguém me segura.

Em um momento de distração da família, ela aproveitou! Passou os primos que brincavam na piscininha vagabunda lentamente, passou pelos que estavam na piscina média. Não sei como, mas no momento que ela sentiu que ninguém a observava, correu até perto do trampolim. A tia que passava por lá, agarrou-a indagando:

-Onde está indo Trícia? Está perdida?!

-Estou indo ao banheiro.

-Fica ali, precisa de ajuda?

-Eu sei onde fica! Venho aqui frequentemente, não precisa de me tratar como uma doente!

Assim que a tia se distraiu, ela subiu no trampolim.

Depois de algum tempo, os pais deram falta dela, então aflitos olharam para todos os lados, até que Rony; o primo gritou:

-Olhem! Lá em cima!

Quando viram Trícia lá em cima, a mãe gritou:

-Desça daí! Você vai se machucar.

-Ela vai se machucar. – Afirmava as tias.

-Será que ela confundiu com algum objeto?-Indagava tia Ranna.

A garota não pensou duas vezes, fez pose, acenou, e deu uma ponta! Fabulosa na verdade, mil vezes melhor que a de Fabinho.

Primos e tios correram e saltaram na piscina para acudi-la. O que eles não sabiam, é que Trícia sabia nadar! E nadava muito bem. Vocês devem se perguntar, onde ela aprendeu? Não sei, tem coisa que a gente não sabe que sabe. Não é?

Agarraram-na afirmando a ela que estava tudo bem, que o susto já havia passado, e perguntando se ela se machucou ou se afogou.

-Parem! Me soltem, não machuquei coisa nenhuma! Não preciso que me socorra, eu fiz por querer! Eu fiz por querer! –Berrava ela.

Colocaram-na sentada na borda da piscina, e em exceção de Fabinho e a babá do primo contratada para cuidar dele durante o dia da festa, os parentes se reuniram em volta dela.

-Se machucou?

-Está ferida?

-O que houve?

-Ficou louca?

-Confundiu o trampolim com algum objeto?

-Você sabe muito bem que não deve nadar! –Berrava a mãe. –Você poderia ter se afogado! Queria nos matar de susto?! E fazer da comemoração do aniversário do seu irmão um caos?!

Trícia irritou-se:

-Não me machuquei! Não estou ferida!Não estou louca! Não confundi a droga do trampolim com porcaria nenhuma, sou cega! Mas não sou idiota! Se eu não devo nadar por que me trouxeram pra droga de um parque aquático?!

-Seu irmão, adora água! E Trícia, não fale conosco nesse tom! –Esbravejou a mãe.

-E eu lá ligo com o que aquele garoto mimado?! Ele pouco se importa comigo, tenho certeza de que ele está brincando agora! A senhora diz que eu não posso com água! Mas quem é melhor que eu pra saber?! Eu sei nadar a muito tempo! Nunca pratiquei na verdade! Mas resolvi arriscar, tudo nessa vida é perigo! Mas mais perigoso mesmo, é ter uma família como a minha! O perigo aqui é morrer de desgosto.

Disse assim, pegou seu celular e saiu já discando.

Senhor Gold estava encomendando o terceiro bolo de aniversário quando o telefone residencial principal tocou.

-Um minuto, por favor, retornarei em alguns minutos disse ele desligando um dos telefones e correndo para atender o outro.

-Residência da família... -Ia dizendo, mas foi interrompido.

-Senhor Gold, venha me buscar! Não agüento mais, esse parque é ótimo, mas a minha família está fazendo de tudo um inferno! Por favor, venha logo.

-Sim Trícia, irei imediatamente. –Afirmou senhor Gold.

Senhor Gold, pegou as chaves da condução, e quando estava indo para a garagem, escutou a campainha. Correu até a porta, e atendeu rapidamente.

-Sim o que deseja?

-A Trícia está?

-Não, estou indo buscá-la no parque aquático! Coitada!

-Não diga isso! Trícia não é digna de dó.

-Não, não digo nessa questão! É que me parece que a família fez do passeio dela um inferno, cheio de perguntas e afirmações humilhantes!

-Por isso ela pediu que o senhor fosse buscá-la! – Disse o garoto.

-Sim, mas como sabia?!

-Ela ligou pra mim há alguns minutos. Pediu que viesse até a casa dela.

-Ah sim! Você é garoto que acompanhou-nos ao médico, não?

-Isso.

-Qual seu nome filho?!

-Não queria ser chato, mas acho que a Trícia está um tanto desesperada lá, não?

-Tem razão. Quer me acompanhar? –Indagou o senhor Gold.

-Sim, seria um prazer.

(continua)

Meli Francis
Enviado por Meli Francis em 13/11/2008
Reeditado em 18/12/2008
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