D & B - Parte II : pipocas e um filme de ação

Dora e Bernardo haviam se tornado vizinhos e,com isso,muito mais próximos que antes.Durante um mês,o primeiro de Dora no novo edifício,eles se divertiram muito juntos.

Sábados e domingos eles saíam com a turma ou sozinhos,iam a parques,cinemas,exposições de arte – embora desta última Bernardo não gostasse muito.

Durante a semana,eles se encontravam todos os dias na portaria do prédio e seguiam para o colégio a pé.Na sala de aula,sentavam na mesma fileira,Bernardo à frente de Dora,o que causava certa irritação na garota quando ele resolvia deitar a cabeça na mesa dela e ficar sorrindo,encarando-a,até ser chamado a atenção por algum professor ou ser beliscado pela menina.

No fim da aula,eles se encontravam ás vezes no portão e voltavam juntos.Porém,com pouca regularidade,pois três dias na semana Dora saía correndo do colégio para chegar em casa ,almoçar e se trocar para estar na livraria do centro da cidade ás duas da tarde,local onde trabalhava até sete da noite.Ela ia de ônibus,pois seu pai,José Carlos era tradutor e trabalhava em casa,no computador; apenas uma ou duas vezes na semana ele ia até a editora,que ficava no centro e então dava uma carona para a filha.

Bernardo não se conformava muito com ele,pois mesmo sendo um bom home,José Carlos sofria de um sério problema : não conseguia se controlar quando resolvia beber.O que o rapaz realmente não gostava era que Dora tinha que cuidar do pai nesses momentos críticos.Num momento,José Carlos estava alegre,conversando,se divertindo ou trabalhando.Dias depois estava trancado no quarto,com várias garrafas de vinho.

Algo de estranho acontecia com ele e Bernardo suspeitava que tinha a ver com a mãe de Dora,falecida há alguns anos.Porém,ele não poderia saber mais detalhes desta história,Dora não gostava de conversar a respeito.Quando um dia perguntou sobre,recebeu esta resposta seca :

- Olha,meu pai sabe o que faz,se ele quer beber isso é problema dele e eu não posso fazer nada,então páre de se meter,Bernardo!Ele vai ficar bem ok?Dê só alguns dias a ele.

Embora fosse convincente,Bernardo sabia que ela ficava muito abalada com isso,pois quando acontecia,seu rendimento na escola caía,ela ficava triste com muita facilidade e se afastava de todos a seu redor.

Esse era o assunto que a afetava.Mas fora isso,Dora era uma menina adorável,muito meiga,prestativa,dedicada e inteligente.Suas notas na escola eram altas e seu nível cultural também.Gostava de livros e música,basicamente.

É,Bernardo já sabia muita coisa sobre ela.O que mais gostava era de seu sorriso,emoldurado por finos lábios rosados.Seus olhos castanhoseram expressivos e seus cabelos longos balançavam facilmente com apenas uma leve brisa.O corpo,ele reparara bem,era magro,mas completamente dentro dos padrões de beleza.Ela era alta,porém mais baixa que ele.A pele morena clara contrastava com a sua,quando estava muito próximos e se encostavam.

Se encostavam…

Bernardo chegou na hora marcada : oito da noite de sábado.Bateu três vezes na porta e esperou Dora atender,anciosamente,segurando um DVD debaixo do braço.

Ao entrar,sentiu o delicioso cheiro de pipoca sabor bacon que estava impregnado em todo o apartamento.Dora,que estava vestida simplismente,com uma blusa rosa e uma bermuda jeans,segurava um copo cheio de refrigerante na mão esquerda.

Ela conduziu Bernardo ao sofá.

- Espere um minuto,eu vou levar esse refri para o meu pai no quarto dele,ok? Pode começar a colocar o filme e pegue refrigerante e pipoca lá na cozinha.

O filme de ação já estava pela metade quando aconteceu.

Bernardo estava deitado no sofá,com a cabeça recostada nas pernas de Dora.Ela acarinhava seus cabelos de tempos em tempos e jogava pipoca em sua boa aberta.

- Você é muito folgado,sabia? –

- Aham – murmurrou ele,atento à TV.

- Chega,não vou te dar mais pipoca! – exclamou ela,pois ele abrira a boca novamente,num sinal para que ela preenchesse o espaço vazio com mais pipoca.

Bernardo soltou um suspiro e sentou-se direito no sofá.

- Me dá o saco de pipoca – disse ele,estendendo os braços para o saco que estava nas mãos de Dora.

Ela entregou-lhe.

- Guloso,ainda fica com a pipoca só pra você! – disse ela,rindo.

- Deita aqui,Dorinha – disse Bernardo,dando um tapinha em sua perna,indicando a ela seu travesseiro provisório.

Ela o fez e começou a receber pipoca sempre que abria a boca.

Numa das vezes,de brincadeira,ela mordeu o dedo dele.

- Ai! – exclamou Bernardo. – Você é canibal ou algo do tipo?!

- Se fosse,você sairia correndo? – indagou ela,rindo do que disse.

Bernardo apenas bufou,mas não conseguiu conter seu olhar malicioso.

- Beleza,agora o carinha vai matar mais um – disse ele,voltando sua atenção para o filme.

- Mas antes disso ele tem que beijar a mulher,senão o filme perde toda a graça quando ele for preso - comentu Dora,olhando para a TV.

- Fala sério,ele não vai ser preso.Tipo,se isso acontecer o filme vai ficar muito sacado.

- Por quê?

- Ora,porque a bonitona lá vai visitar ele na cadeia e o marido dela vai contratar um detetive pra seguir ela e aí você já sabe o que acontece...

- Ai,é agora,ele vai matar o cara!!!

Dora tampou os olhos bem em tempo e soltou um gritinho agudo ao ouvir o berro que saiu das caixas de som do Home Theater.Bernardo não conseguiu deixar de rir.

- Você ficou com medo?! - exclamou,incrédulo. - Dora,você acabou de perder a melhor cena do filme,sua bobona!

E,dizendo isso,ele apertou as bochechas dela.

- Eu não fiquei com medo! - esclareceu ela,nem um pouco convincente,erguendo-se.

- Imagina se tivesse ficado! - disse Bernardo,sorrindo pra ela.

Dora parara de se mecher,ficando sentada de lado no sofá,de frente para Bernardo e ficou olhando pra ele - gostava do sorriso tímido que ele dava.

O garoto encostou a cabeça no sofá,sem tirar os olhos dela.Um lee vento entrou pela janela que ficava ao lado do sofá,refrescando o ambiente e afastando mechas do cabelo de Dora de seu rosto.

- Uau,seu eu tivesse uma câmera fotográfica aqui,esse seria o momento ideal! - exclamou Bernardo,chegando mais perto de Dora.

Ele passou os braços em torno da cintura dela e encostou a ponta de seu nariz no dela.Assim,seus olhares se tornaram mais fortes e eles nem piscavam.

Esse tipo de intimidade ainda não havia sido testado.

Talvez,se José Carlos não tivesse aberto a porta de seu quarto naquele momento e feito um barulho que praticamente os despertou de um sonho,eles tivessem se beijado.

Porém,Dora tinha a impressão de que não era exatamente isso que aconteceria.Para ela,Bernardo necessitava de carinho e atenção,apenas.Para ela,eles eram somente amigos.

Somente amigos...

F N do Carmo
Enviado por F N do Carmo em 19/10/2008
Código do texto: T1237268
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