“A menina e o Monge”
Já se falou de amor.
Já se falou de saudade.
Falou-se muito de mentira.
E mais ainda da verdade.
Falou-se de traição,
De dor, de solidão,
De maldade e de bondade.
Tudo já foi falado,
Discutido, catalogado.
Tudo já foi escrito.
De tudo foi inventado.
Mas nunca se falou de Orion,
Nem de um monge maluquinho
Que por lá tinha habitado.
É que esse monge é diferente:
Ele caiu aqui na Terra
E bateu com a cabeça no chão.
Ta por aí pensando que é gente.
Não sabe que é um anjo torto
E que sua harpa é o violão.
Mas algo estranho aconteceu
Depois qu’ele aqui chegou:
É que de tanto conviver,
Meio terráqueo ele ficou.
Além de ficar mulato
Pois na Bahia aterrissou.
Não teve como escapar,
O anjo de Orion se apaixonou.
A menina nunca haverá visto
Um anjo tão bronzeado
E ficou a o admirar.
Ele tocou pra ela
Com sua “harpa” encantada
E ela deixou-se enfeitiçar.
Eles se emaranharam
E foi uma mistura louca
Essa de terráquea e oriano.
E eles viraram um só.
Só não se sabiam onde
Se aqui na Terra ou em outro plano.
Do pouco tempo que conviveram,
Souberam bem aproveitar:
Se ensinaram e aprenderam,
Quiseram muito mesmo se amar.
Mesmo sabendo logo, logo
Teriam de se separar.
Era engraçado de ver:
Um anjo de cachos longos
(Como haveria de ser),
Porém nada convencional.
E uma menina bonitinha,
Que cabelo quase não tinha.
Achando que eram normal.
Quem aos dois observava,
Ficava a se questionar:
Se podiam ser felizes,
Se juntos iam ficar.
Se ele voltaria a Orion
Se ela se deixaria levar.
E de fato se separaram.
Mas que fique muito claro,
Só os corpos estão longe.
Eles se encontram por aí:
Em Macondo, no Condado,
Na constelação de Gêmeos, ou Aquário.
A Menina e o Monge.
Kenia Diógenes