"Através do Tempo" Cap. 1 - 'Uma viajem nada confortável'

“Através do Tempo” cap. 1 – ‘Uma viajem nada confortável’

A centena de anos, o fluxo do tempo leva as coisas para onde elas devem ir, mas algumas vezes alguma coisa acontece e a frágil linha se dobra, criando algo que se pode chamar “anomalia”. E durante o tempo que essa dobra se manter, o tempo, o espaço e tudo que conhecemos hoje, podem mudar, criando uma nova realidade, um novo mundo ou até o fim do atual.

Poucas pessoas podem perceber o quando um destes eventos esta para acontecer, poucas ainda conseguem entender o que ele representa e um número mínimo de pessoas consegue participar deste evento, muitas vezes é a segunda chance que todos pedem tanto para que tenham a chance de mudar o destino de todos do futuro sombrio que os aguarda.

Uma manha fria iniciava, o gelo fino cobria a grama das colinas, o silencio da manha era cortado apenas pelo som dos passos dos viajantes que subiam a colina, as botas quebrando o gelo da grama, a passada firme fazendo marcas grandes na lama que se começava a formar por baixo da grama descongelada.

O grupo formado de sete viajantes encapuzados para se protegerem do frio da manha marchavam á algum tempo, o sol nem havia nascido quando a marcha começou. Logo chegando ao topo da colina o primeiro da fila encosta-se em uma pedra próxima para descansar.

- O que foi Natanael? – diz uma voz abafada pelo cachecol que cobria o rosto.

- Nada, só preciso pegar novamente o fôlego – diz Natanael retirando o cachecol do rosto para poder respirar melhor.

- Não estamos muito longe do que seria a “Grande Cidade”, provável que aquelas vilas lá sejam bem nas redondezas. – diz o outro viajante que chegava agora onde os outros dois amigos já estavam.

- Tem certeza disso Heitor? – diz Natanael olhando para a figura encapuzada.

- Não muita, afinal de contas... é difícil saber de tudo que aconteceu nos últimos séculos no mundo inteiro, não tenho como ter muita certeza, não sabemos ainda ao certo que ano estamos e o mapa que consegui copiar no porto não mostrava nenhuma vila.

- Quando o Joel pegou o mapa da mesa daquele despachante para copiarmos, nós vimos que não estava nem perto do que se possa dizer atualizado. Sobre o ano, nós podíamos procurar uma Igreja, afinal de contas, eles que começaram a marcar tudo a partir do ano um. – diz o outro viajante parando ao lado de Natanael.

- É uma boa idéia Kyle, mas não sei o quanto é seguro, dependendo da época que estamos, poderemos ter caído no período das primeiras caça as bruxas, não podemos nos dar o luxo de correr o risco de sermos presos e irmos para a fogueira.

-Podemos mandar só o Andrew então, ele parece um frade, pelo menos é gordinho como um. – diz Kyle começando a rir.

- Eu ouvi isso seu narigudo dos infernos – gritou uma voz mais grave que vinha no final da fila, Andrew era o de maior corpo do grupo, tinha os ombros muito largos e braços grandes.

-Que bom que ouviu, pelo menos não vou precisar repetir. – diz Kyle com um tom de sarcasmo.

- Kyle! Dá um tempo, por favor, o sol nem nasceu direito ainda caramba.. – fala Natanael se levantando prevendo outra confusãozinha entre o grupo.

Há alguns dias os jovens haviam saído de perto da costa e dês de então algumas dificuldades começaram a surgir, Andrew realmente sentia falta das coisas que tinha em casa e não estava muito receptivo ao fato de ter acordado em um local estranho séculos longe de seu tempo. Por outro lado Kyle alem de ser o mais jovem do grupo já estava animado assim como Joshua que era primo de Andrew, Heitor tinha ficado um pouco abalado no inicio, mas quando começou a usar seu conhecimento de história e RPG então se animou com a experiência.

Natanael logo começou a aproveitar para utilizar todas as pericias de sobrevivência que tinha adquirido de centenas de acampamentos e trilhas, Joel não tinha demonstrado muita animação assim como Andrew, mas logo todos os companheiros já estavam unidos naquela aventura que sempre imaginaram acontecer, mas principalmente, queriam saber o que estava acontecendo. Como dormiram numa noite no século XXI e foram acordar simplesmente séculos no passado?

Pelas leituras de Heitor, eles estavam por volta do século III ou IV, considerado auge da idade média por muitos historiadores. As desavenças rondaram o grupo quando Andrew, que sempre foi cabeça quente, não estava tão animado com tudo e tinha que suportar o humor animado e muitas vezes ácido de Kyle que estava a todo vapor. Heitor conseguiu apaziguar a confusão, Natanael ficava o máximo que podia entre os dois para evitar piadinhas de Kyle e a fúria de Andrew e assim começaram a sua jornada.

- Tá legal, parei, mas que é verdade é! – fala Kyle saindo do alcance dos braços de Andrew antes que eles o agarrassem.

- Kyle , Andrew, agora não é a hora para isso caramba, será que vocês podem dar um tempinho, só para variar? – dizia Heitor enquanto colocando a mão no peito largo de Andrew.

- Tá legal Heitor, já parei cara. Minha nossa... esse Mané fica nervosinho com tudo, ninguém pode dizer nada perto dele que já quer dar um murro na pessoa.

- VOU TE MOSTRAR QUEM É O NERVOSINHO POR AQUI! –Gritou Andrew, mas antes que conseguisse fazer alguma coisa Heitor, Joshua e Joel, que chegavam agora no topo da colina, já o seguravam.

- Quietos todos vocês! – ordenou Natanael – Tem cavalos se aproximando, devem ser a ronda da cidade, eles devem ficar de olho em tudo até esta vila.

- O que pretende fazer? – perguntou Joel largando Andrew que já se desistira de atacar Kyle.

- Joel! Você e Andrew ficarão por aqui e serão viajantes do sul. Joshua fica deitado no chão sendo o companheiro doente deles, Kyle e Heitor, vocês virão comigo, precisamos dar cobertura a eles caso seja preciso.

Todos tomaram seus postos, Joel já se erguia sobre a pedra que antes Natanael estava encostado, Joshua estava no chão tendo calafrios e gemendo baixo, Andrew permanecia sentado ao lado do primo, enxugando o suposto suor do rosto do doente.

- Lembrem-se, precisamos chegar a ‘Grande Cidade” se eles os levarem seguiremos vocês pela floresta, mas tomem cuidado com o que vão dizer a eles.

Com o ultimo olhar de aprovação os três companheiros se afastaram do restante do grupo e foram para a sombra das arvores que ficava a poucos metros dali. Logo os cavaleiros se aproximaram do grupo parado no topo da colina.

- O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI? QUEM SÃO VOCÊS? – gritou um dos cavaleiros em seu idioma já apontando a lança para o peito de Joel – DESCUBRAM O ROSTO!!- voltou ele a gritar.

Os dois companheiros descobriram os rostos, Joel tinha os cabelos curtos um pouco cacheados, tinha o rosto magro de pele levemente bronzeada e olhos verdes brilhavam como duas esmeraldas ao sol da manha. Andrew tirou o capuz que o protegia do frio da manha, seus olhos escuros e levemente puxados, os cabelos escuros, antes bem cortados, mas agora um pouco maltratados pela estada naquele século, a pele morena não lhe negava a leve descendência indígena que possuía, o rosto era forte, altivo e levemente rechonchudo.

- Somos viajantes, estamos vindo do porto Lithrin a procura do curandeiro da Grande Cidade. – Respondeu habilmente Andrew na língua dos cavaleiros.

- Forasteiros não são bem vindos nestas terras! – Retrucou o soldado que se aproximava agora de Andrew apontando também a lança como o outro apontava para Joel.

- Caraaa..realmente eles falam isso, achei que era coisa de filme – diz Kyle baixo o suficiente para só Natanael e Heitor ouvirem. – Forasteiros não são bem vindos nessas terras – imitava a voz do soldado com tom de deboche.

- Kyle, cala essa boca, se eles ouvirem a gente eu mesmo mato você! – falou o mais baixo que podia Natanael para o amigo.

- Mas precisamos.... nosso amigo... – tentou falar Andrew enquanto olhava para Joshua que tremia compulsivamente, uma interpretação surpreendente.

- CALADOS!! Ouvi alguma coisa! – disse o soldado que estava com a lança no peito de Joel.

O soldado tentou manter o cavalo parado, mas foi inútil, olhou com muita atenção para as arvores na direção que os amigos sabiam que estavam Natanael, Heitor e Kyle. Andrew tentou se manifestar novamente para tirar a atenção dos soldados, mas o máximo que conseguiu foi receber um pequeno corte nas roupas e no peito por onde a ponta da lança perfurava firmemente.

- O que está acontecendo?- perguntou Joel aos guardas. – O quê vocês estão vendo?

- Wahgs? – perguntou o segundo cavaleiro ao primeiro, que apenas acenou com a cabeça.

- PEGUEM SUAS COISAS E SEU AMIGO MORINBUNDO E VENHAM RÁPIDO! – ordenou o guarda.

- O ataque deve estar próximo de começar. – diz o primeiro cavaleiro para o companheiro, já virando o cavalo para o retorno a cidade – RÁPIDO OU DEIXAREMOS VOCÊS PARA A MORTE!

- Espere um pouco, quem são esses Wahgs?- Tentou saber Joel, mas recebeu um empurram com o cabo da lança do guarda que começava a fazer o caminho de volta.

Ambos os cavaleiros se viraram e começaram a galopar colina a baixo em direção da vila. Andrew e Joel fingiram ajudar Joshua a se levantar enquanto esperavam por instruções vindas dos companheiros escondidos, mas começaram a ouvir gritos de guerra vindos de todas as direções dentro da floresta, e conseguiram ouvir apenas um “Vão logo” abafado que parecia a voz de Kyle.

Os amigos juntaram suas coisas, apoiaram Joshua entre os ombros e saíram o mais rápido possível dali seguindo os cavaleiros que já estavam a vários metros de distancia.

A floresta estava calma quando os três companheiros entraram e se esconderam durante a encenação do resto do grupo. Natanael se escondera atrás de um arbusto grande na beirada da floresta, Heitor ficou próximo dele, logo atrás de uma arvore de grande largura e altura, Kyle entrou mais alguns metros na floresta e se entrara em um buraco que mais parecia uma trincheira natural que era protegida por duas pedras que formavam um grande “V”.

Logo que a cena foi se desenrolando Kyle começa a rir e a imitar os guardas, após a ameaça de Natanael ele se silenciou, mas era tarde demais, eles já haviam os ouvido. Heitor foi cuidadosamente duas arvores para trás, Natanael vinha engatinhando tentando fazer o mínimo de barulho nas folhas que estavam no chão.

Kyle ouviu passos, mas não eram de seus amigos, vinham de suas costas, cuidadosamente olhou por entre o V formado pelas rochas e viu guerreiros pintados para guerra, com espadas, machadinhas e arcos se aproximando rapidamente de onde eles estavam. Com um salto o rapaz saiu da trincheira a tempo de ouvir os soldados gritarem com seus amigos e agora ele sabia que a coisa iria ficar complicada por ali.

Heitor se aproximou de Kyle o mais rápido que pode, olhou para os guerreiros que já os avistara e corriam em sua direção gritando seu cântico de guerra. Natanael tentara avisar os amigos que estavam na companhia dos guardas, mas uma flecha cravou-se na arvore próxima a sua cabeça.

Os guerreiros se aproximaram com extrema facilidade e velocidades, os três amigos não tinham como reagir a aquele fato e principalmente a um ataque daquele tamanho, Heitor se jogou na trincheira e começou a lançar pedras contra os atacantes, Natanael corria para ajudá-lo, Kyle corria na direção oposta, rumo a beirada da floresta.

- Vão logo!- conseguiu gritar por entre o cachecol que ainda cobria sua boca e nariz. – Encontramos vocês lá! – mas este aviso desconfiava que os amigos não tinha recebido, pois um grande grito de guerra irrompeu da floresta, eram centenas de vozes gritando sua afronta ao inimigo que estava próximo.

O rapaz tentou voltar para próximo dos amigos, mas já via Heitor sendo carregados inconsciente, Natanael ainda se debatia enquanto era agarrado por 3 guerreiros fortes, armado apenas de sua vontade de salvar os amigos e uma adaga que ganhara em seus trabalhos no porto de Lithrin, Kyle avançou sobre os inimigos, mal havia chegado próximo de um deles e recebera um terrível impacto no peito que o fez rodar no ar e cair no chão expelindo sangue pela boca.

Olhando para cima via um outro guerreiro que estava atrás da arvore que antes Heitor havia se escondido, ele segurava nas mãos uma clava que mais parecia um tronco de um carvalho enorme, a tosse, o gosto de sangue na boca e a dor insuportável do golpe no peito começavam a fazer com que o rapaz começasse a perder os sentidos. Sentiu seu corpo ser levantado e depois carregado sobre os ombros para algum lugar.

E assim começava a trajetória dos amigos naquele tempo, divididos, perseguidos, capturados e feridos, realmente uma viajem nada confortável.

“Este é o primeiro capitulo dessa saga, espero que gostem e comentem sobre tudo que acharem que devem. =D”

Will K Almeida
Enviado por Will K Almeida em 16/09/2008
Código do texto: T1180910
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