MENINOS DA ROÇA... continuação

Cap. XIV


Contavam também que ele não dormia. Vagava pelas noites fugindo dos pesadelos que o assaltavam quando adormecia. Suas lembranças do campo de concentração eram terríveis.

Da Polônia ele não se recordava, pois transcorrera toda sua vida na Itália. Há dois anos se instalara na região, na fronteira de Goiás com Mato Grosso e desde então, entrara para o folclore e conversas dos chacareiros vizinhos. Siá Doninha era uma das poucas pessoas que haviam conversado com ele, isto é, tentado conversar, pois o polonês só falava o próprio idioma e o italiano.

Menina e o irmão andaram um pouco pela mata sob a proteção das enormes árvores. Zico, desde o início, dera mostras de que não gostava nem um pouco daquela incursão:

_Moço! Este mato é grande. Eu quero voltar pra casa!

_ Você é muito medroso, Zico! E olha, o certo é dizer que o “mato é alto”. O mato não é grande...

_Moço, eu não quero aprender nada agora. Eu quero voltar pra casa. 

_ Ta bom, Zico! Espera só um pouquinho, nós já vamos ver a casa do polonês.

Depois de alguns minutos andando no mato eles ouviram latidos de cães. Menina orientou-se para aquela direção. A mata era espessa e alta. Dificilmente eles podiam ser descobertos. Andaram mais uns passos. Por entre o emaranhado de arbustos e cipós, então avistou a casa de madeira.

Parada onde estava, fez sinal para o irmão fazer silêncio. Zico aproximou-se dela e indagou preocupado, quase num sussurro:

_Moço, será que a gente vai saber voltar pra casa? Este mato é muito "grande". Eu acho que tem bichos aqui...

_ Não tenha medo! A gente vai saber voltar pra casa. Vamos só ver se ele aparece e depois a gente volta. Fica quieto agora. Vamos esperar...

_ Esperar o quê? Eu só estou vendo aqueles cachorros lá na porta. 


Continua...
Hull de La Fuente
Enviado por Hull de La Fuente em 15/05/2008
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