MENINOS DA ROÇA


continuação...
 

_Se lá não tem tatu, mesmo assim eu queria ver o japonês quando ele vir o tatu entrando pelo telhado da casa dele. O japonês vai sair correndo quando olhar a cara de rato, do tatu canastra...

_ Tatu tem cara de rato? Onde você viu um tatu?

_ Tem sim! Até o bigode de rato ele tem. Tatu é um rato grande com um casco que parece uma sanfona nas costas.

Zico ficava de queixo caído diante da sabedoria de Menina. Mas, por outro lado, às vezes, ele também duvidava de tanto conhecimento e, quando isto ocorria, a pergunta surgia na ponta da língua.

_ Onde você viu o tatu canastra? Quem disse que ele fura a casa do japonês? Você já viu um japonês?

Duvidar de suas estórias era coisa que Menina não admitia. Dando asas a imaginação, a garota respondia tudo, nada ficava sem resposta.

_ Você é pequeno, Zico! Gente pequena não sabe de nada. Eu já vi tatu canastra, sim. Foi lá na casa do “seu” João, o caçador. E ninguém nunca viu um japonês*, por que eles moram em baixo do chão. Mas eles existem, o papai falou que vai trazer uma revista que tem fotografia de gente japonesa.

Zico ouviu a explicação da irmã e continuou protestando:

_ “Moço”! Você também é pequeno como eu. A gente nem pode ainda ir pra escola.

_ Tá bom, Zico! Eu sou pequena, mas você é menor do que eu.

A garota resolveu dar por encerrada a questão e voltou sua atenção para o outro lado do terreno. Avistou uma carcaça de porco espinho, que só foi reconhecida por causa dos espinhos em volta da ossada. Ela e Zico fitaram a ossada e penalizados se entreolharam em silêncio.

continua no próximo capítulo...

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(*) à época, os japoneses só ficavam em São Paulo e Paraná. 



Hull de La Fuente
Enviado por Hull de La Fuente em 04/05/2008
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