A MULHER LAVADEIRA E O SOL


Uma mulher subiu ao topo de um morro, triste e bastante irritada pelo fato do SOL não ter secado as roupas estendidas no varal, cujas roupas lhe renderiam uma diária de trabalho. Observando o pôr do sol, proclamou no meio da caatinga o seu brado:

- Sol! Hei Sol! Por qual razão tu te escondes agora? Aguardei-te o dia todo e somente agora com mais raios brilhantes tu já não podes secar a minha roupa.

O Sol não escutara a reclamação da lavadeira, tendo a mesma insistido com as suas exigências.

-Sol! Por tua causa eu vou deixar de ganhar o meu pão hoje à noite. Porque me traístes? Depressa tu de ocultas no horizonte com raios cor de fogo. Por qual motivo não secastes a minha roupa? Respondas se tu és o imperador do universo.

Decidido, o Sol se manteve na direção do oeste no inverso do nascer, enquanto a lavadeira protestava arduamente.

-Sol! Não vais me responder? Nem mesmo mostrar o quanto tens valor na rotação da terra? Ah se eu pudesse outro sol eu faria em teu lugar.

A mulher no alto do penhasco, olhava atentamente na sua direção. Instantes, o Sol levanta-se um pouco a leste lançando fortes luzes em sua direção, e adverte a lavadeira.

-Mulher! Não será tu a única pessoa que me dizes isso. Porém, posso admoestá-la de que sou infinito e incansável. Saibas que todos os dias eu atravesso o teu céu de leste a oeste marcando o tempo que sombreia as noites, sem nenhum atraso. Mostrando aos teus olhos os compassos da vida. Assim, não poderás me culpar pelo ocaso. Antes de acordares, já enxuguei o orvalho das plantas, iluminei o ninho dos passarinhos, levei o rebanho aos seus pastos, abri vários caminhos escuros, coloquei os trens nas estações em funcionamento e os transportes de massa, dei de beber a todos os seres vivos. E com o meu farol já clareei as estradas, os bosques, os mares, os rios, os lagos, os córregos, os edifícios e torres. Hoje, já aqueci a tua atmosfera em vários lugares e por todo o continente. Mulher! Já acordei os tocadores de boiadas, já penetrei em muitos lares e fiz o dia ser mais belo para outras pessoas, sem dizer nada e sem cobrar o preço da minha luz, além de acender muito cedo a minha alma, já acordei todos os homens da terra. E muito cedo, funcionei todas as unidades de energia solar. Inclusive, até impedir os ventos assombrosos e os frios em vários lugares do teu planeta. Então, você não pode me culpar, pois todos os dias, eu viajo entre o círculo Polar Ártico e o círculo Polar Antártico, e jamais reclamei desta minha trajetória perpétua.

A mulher insatisfeita ainda contesta:

-De que adiantou tudo isso meu Sol, se o teu calor não secou as roupas que tanto esperava ganhar dinheiro. E agora? O que farei com elas molhadas quando a contratante vier cobrar. Não me convence as tuas fortes argumentações.

O Sol todo radiante aos olhos da mulher enfatiza:

-Vejo que a tua vida é desmedida e sem fronteiras, aliada sem qualquer apreço à natureza. Não espere que todos os dias eu venha iluminar e secar as tuas roupas no varal. Anteontem, tu não lavaste as roupas por completa preguiça e confiança de que hoje eu iria secar. Um grande engano! Ó mulher faça a tua parte que eu sempre fiz a minha. Não poderás suplicar o meu brilho somente para ti. Hoje, deixei-me cobrir pelas nuvens para que chovesse no prazo determinado e que as lavouras pudessem florescer e entregar as provisões e o alimento que faz a tua boca. Na verdade, uns pecam, e outros que é que levam o castigo. Não, não asseverei as tuas reclamações infrutíferas, verás que nas tuas vinte e quatro horas, eu já cumprir as missões em teu favor, sem cobrar nada, dando-te luz sem esperar o teu reconhecimento, assim é a vida e nela tudo se passa e se reclama quando não se tem a justeza plantada num direito.

A mulher conformada com as respostas do rei Sol, diz:

-Eu nada mais tenho a falar. Ò Sol! Perdoe-me! Aqueça agora as roupas no varal, por favor! Tenhas dó desta pobre e semi-analfabeta lavadeira. Agora, eu entendo tudo, pois eu preciso do ganho da lavagem pra comprar o pão dos meninos.

A mulher nascida e criada nos arredores de Caxias(MA) na localidade de Sambaíba, exercendo na vida desde criança a única profissão, chora na luminosidade do Sol. E este condoído pelas dores das crianças famintas em sua casa, diz:

-Mulher! Ó mulher! Arruma a tua trouxa de roupa na cabeça e venha até aqui no alto do morro, armas um grande varal entre as árvores.

A senhora desceu correndo o morro pegou todas as roupas molhadas e levou no ápice daquela elevação, após isso, cortou vários paus e fez um grande varal com as roupas abertas, e logo inquiriu o Sol.

-Sol! Ó meu Sol! Como tu vais esquentar as minhas roupas? Se tu já te escondes por trás dos horizontes?

Mais uma vez, aguerrido a estrela amarela responde;

-Ó Lavadeira do Rio dos Cocos! Mulher que trabalha debaixo dos meus olhos. Não sabes que eu tenho poder e posso modificar o tempo? Vejas que eu sopro uma brisa e aqueço em minutos as roupas.

Sem demora, as roupas estavam prontas e a lavadeira faz a trouxa, e diz:

-Obrigado Sol! Nunca pensei que tu podias acalorar todas essas roupas com apenas o teu vento. Jamais eu irei reclamar na vida a tua bondade incomparável que me faz agora feliz.

Intrépido, impõe-se o magistral e galante Sol:

-É verdade. Os que mais fazem críticas são sempre os que nada podem fazer para melhorar, propiciar ou entender o ciclo da vida. 

Ali por trás das longínquas montanhas escuras, ele mergulhou, trabalhando sempre em prol da humanidade, fazendo sempre um lindo pôr do sol.

Fim

ERASMO SHALLKYTTON
Enviado por ERASMO SHALLKYTTON em 02/05/2008
Reeditado em 25/11/2012
Código do texto: T972380
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