No fim do Verão, a borboleta amarela, depositou cuidadosamente os seus ovos num ninho de seda.
Extenuada, fechou as lindas asas e adormeceu.
Nem sentiu aproximar-se o frio.
Ficou muito quieta, mesmo quando as manhãs surgiram vestidas de branco e um raio fininho de sol, seu amigo, lhe tocava no ombro avisando:
- Cuidado!
... Ela nem sentiu.
Estava muito cansada, por uma estação inteira de luta, ora doce, ora amarga, buliçosa e ligeira, voando de flor em flor, multiplicando a vida.
Imobilizou-se.
O seu sangue deslizava mansamente... parecia uma borboleta de âmbar, esquecida pelo tempo, sem sentir o vento, as gotas de chuva, o aroma da terra...
No ninho, as larvas acordaram, famintas de vida.
Roeram o caule da planta onde a mãe adormecera... a planta caiu, e nem assim a borboleta acordou.
Saciadas e prontas, por sua vez, imobilizaram-se as filhas: cada uma num sarcófago perfeito de seda.
Aparentemente, nada existia... mas quanta coisa acontecia!
Entretanto, o sol voltou, e novas flores encheram de perfume o campo.
As crisálidas moveram-se um nadinha: abriram os olhos no lusco fusco e estavam de novo esfomeadas... a pouco e pouco, começaram a roer o casulo, com pouca força mas muita persistência.
E uma porta se abriu... e uma ânsia cresceu!
Saíram húmidas, tenras, indefesas, exauridas.
Pararam um pouco, sentindo que já não eram as mesmas... à medida que a brisa as beijava, as escamas endureciam, o sangue pulsava pelas finíssimas veias.
Agitaram a medo as asas e sentiam o vento levantá-las... encantadas!
Imitavam as estrelas.
Fulgiam e riam, riam, lá no alto!
Mas no chão, a borboleta mãe não mais acordou.
Multiplicara-se em fulgor, em energia, em luz iridescente!
E muitas borboletas amarelas rodopiam no campo, semeiam pólen, multiplicam de novo o ciclo da vida.