NUMA REUNIÃO DE PAIS E MESTRES
Era uma manhã fria e bastante chuvosa, mas como se tratava do início das aulas daquele período letivo, todos os pais se dirigiam para as escolas de seus bairros e vilas conduzindo os seus filhos.
Pé no Bolo não cabia dentro de si de tanta alegria. Olhava para todos os lados como se ele estivesse procurando algum objeto perdido. O pai dele mal conseguia segurá-lo pelos braços, tamanha era a inquietude daquele garoto.
Os professores e os demais pais de alunos chegavam aos magotes. Estes formavam uma grande fila na entrada principal, enquanto aqueles se dirigiam apressados para a entrada privativa buscando acessar o interior da escola.
Pé no Bolo continuava inquieto e desta feita um pouco mais que nos últimos trinta minutos após chegar à sua escola. Quis se desvencilhar das mãos do seu pai para abraçar alguns colegas, mas não conseguiu. Simulou que precisava ir ao banheiro, mas o pai dele demonstrou que iria junto para fazer-lhe companhia ou, quem sabe, para não o perder de vista.
Tocou a campainha anunciando a entrada dos alunos. Como se tratava do primeiro dia de aula, os pais ou acompanhantes também deveriam entrar para receber algumas instruções acerca das novas diretrizes relativas à sequência dos demais dias letivos daquele bimestre.
Naquele momento era o pai de Pé no Bolo que demonstrava certa inquietude. Não iria participar daquela reunião. Precisava ir embora logo, pois já estava ficando tarde para entrar no horário do primeiro turno do seu trabalho. Precisava falar com alguém da direção da escola para se desculpar da impossibilidade de continuar ali participando daquela reunião de pais e mestres. Ele não esperava por esse imprevisto bem como não estava com a devida coragem de ligar avisando que chegaria mais tarde, por ser novo de empresa, ainda no período de experiência. Faltar ao trabalho naquele estágio de sua trajetória profissional, nem pensar!
Depois de suar frio por alguns instantes teve a ideia de chamar um dos seus vizinhos e pedir para que lhe repassasse as instruções recebidas naquela reunião. Beijou o seu pimpolho, despediu-se do seu vizinho e foi embora.
No trajeto do caminho para seu trabalho pôs-se a pensar no futuro do seu primogênito. Imaginou o que estaria fazendo uma criança naquela idade, no seu primeiro dia de aula, apesar de não ser aquele o seu primeiro contato com as personagens de uma escola. Pensou por alguns instantes naquilo que poderia fazer pelo futuro do seu filho, mas tudo aquilo não faria muito sentido se, o seu garoto ao crescer, não lhe ouvisse e resolvesse seguir, arbitrariamente, os seus próprios passos.
Enquanto trabalhava no seu emprego não parou de pensar naquela cena de ter que deixar seu filho com estranhos e não poder participar da primeira reunião do ano letivo ao lado dele.
De volta para casa no fim do dia, encontrou Pé no Bolo bastante quieto, não estava sorridente como nos outros dias, dando a entender que estava muito preocupado e antes que fosse falar com o vizinho que ficou incumbido de fazer um breve relato da reunião, ele decidiu inquirir o garoto:
- Olá meu filho, você está lembrado do que os professores falaram durante a reunião? O que eles disseram para os pais dos alunos? Pé no Bolo fez um ar de espanto e retrucou, de modo bem calmo, em seguida:
- Eu ouvi tudo, mas não entendi muito, nem o vizinho que ficou me acompanhando. Só entendi que era uma reunião de pais e mestres e que os filhos deveriam participar em companhia dos pais ou de alguma pessoa responsável.
O pai dele logo deduziu o que poderia ter acontecido e, sem se sentir convencido, foi ao encontro do seu vizinho para averiguar tudo, detalhadamente.
Em princípio, agradeceu ao vizinho pela colaboração, por ter acompanhado seu filho durante a reunião, mas antes que terminasse a sua fala foi interrompido por ele, que assim se reportou:
- O senhor está de parabéns, pelo filho inteligente que tem. Imagine que depois de alguns minutos de conversa que tivemos ele acabou me convencendo a voltar mais cedo, alegando que em todo início de período letivo a reunião demorava muito e como eu tinha muitos afazeres pendentes aqui na minha casa, eu também não poderia esperar até o fim.
O pai de Pé no Bolo esboçou um sorriso meio desenxabido, despediu-se do seu vizinho e voltou para casa para ter uma conversa séria com o seu filho.
- Onde já se viu um garoto de pouca idade “fazer a cabeça” de um adulto – murmurou aborrecido.
Pé no Bolo, muito esperto que o era, temia uma reação um pouco mais brusca do seu pai, por isso deitou-se mais cedo, tendo o cuidado de deixar um pequeno recado:
- Meu velho, a maioria dos pais de alunos de minha escola também anda atarefada com os seus afazeres diários, da mesma forma que o senhor tem vivido ultimamente e foi por isso que eu dispensei o nosso vizinho. Por favor, não fique com raiva de mim. Eu amo muito o senhor, meu pai!
Nem é preciso dizer que assim que o pai dele leu aquele bilhete a suposta reprimenda mais severa que ele arquitetava foi, de pronto, cancelada e, daquele dia em diante ele fez de tudo para participar ativamente das reuniões de pais e mestres programadas pela direção da escola do seu filho.