A CASINHA PERDIDA

Era uma vez, no reino do Alfabeto, uma letrinha “A” que andava a procura de sua casa.

- Você viu a minha casinha? Ela tem o formato de uma palavra cuja porta sou eu.

- Não vi! – exclamou a letra “T”, alta e magra como um poste, que quis saber como uma porta pode perder a sua casa.

- Sabe! Foi por causa da letra “V”. Ela se transformou num vendaval, arrancando-me da minha casinha.

- Ih! Vai ser difícil, no meio de tantas letras e palavras, você encontrar a sua casa.

Mas a letra “X”, que tem o formato de tesoura, resolveu ajudar a letrinha “A”. E saíram as duas em busca da casinha perdida. Procuraram por todos os cantos do reino do Alfabeto, subindo e descendo, e nada encontraram. Cansadas, sentaram-se num “Travessão” (-) para descansarem. “A” e “X” estavam de olhinhos fechados, quase dormindo, quando um barulho as despertou.

- Será que encontraram a minha casinha?

- Amiga, não fique ansiosa! – avisou a letrinha “X”.

A letrinha “A” nem ouviu. Saiu correndo para o local de onde vinha a algazarra, seguida pela amiga. Chegaram e foram logo perguntando numa só voz:

- Acharam a casinha?

- Nada de casinha. – respondeu uma letra “D”, gorda como ela só.

É que o soberano do reino do Alfabeto havia feito um decreto doando todas as palavras que foram perdidas durante o vendaval.

- Procure sua casinha no meio desta bagunça! – disse a balofa letra “D” soltando forte gargalhada.

As demais letras começaram a escolher as palavras perdidas. Umas queriam a “fortuna”, outras a “beleza”, todas elas de significado vazio. Em pouco tempo o reino do Alfabeto ficou limpo. Todas as letras levaram as palavras perdidas para organizar o mundo da leitura. Mas e a letrinha “A” e a letrinha “X”? Coitadas. Estavam sentadinhas, lá no último parágrafo de um texto, quando a letra “M” avisou:

- No fim deste reino encantado,

Dorme num emaranhado,

Umas letras jogadas pelo vendaval

Dar uma espiada não faz mal.

E as duas letras correram para lá. Ao chegarem, as letras, que estavam dispersas, juntaram-se formando a palavra “MOR”.

- É a minha casinha! – gritava a letrinha “A” – É a minha casinha, e eu sou a sua porta. Encontrei, encontrei...

A letrinha “X”, emocionada, viu a porta se unir à casa, formando a palavra AMOR.

- Amiga letra “A”, a sua casa é tão linda. Agora eu entendo a sua aflição para encontrá-la. E também aprendi que AMOR é uma casa de aparência pobre, mas de um riquíssimo interior. Quando a letra “V”, do vendaval da vida, separar a porta da casa, todo esforço é válido para uni-las. Quero morar ao seu lado, amiga letra “A”.

Foi aí que a letra “X” teve uma ideia: formou o termo “AUXÍLIO” e convidou a gorda letra “D” a formar a palavra “CARIDADE” para viverem, sempre, ao lado do AMOR.

É por isso, crianças, que devemos seguir o exemplo da letra “A”. Procuremos sempre a casinha do AMOR porque é dentro dela que existe vida real.

24/02/08.

(histórias que contava para o meu neto).

(Maria Hilda de J. Alão)