A preocupação de Estela.
A preocupação de Estela.
maria da graça almeida
Estela acordou-se inda cedo,
pulou da cama sem medo
do frio que fazia lá fora.
Os pés miúdos, descalços,
folgados dos velhos sapatos,
correram o quintal sem demora.
Estela na horta adentrou,
abriu depressa o portão,
que rangeu sem má intenção.
O portão deu-lhe bom dia,
porém sua sintonia
denotou preocupação.
Estela olhou as verduras
com muito amor e doçura
e afagou-as com as mãos.
Julgou que a alface tão crespa,
mais ficara arrepiada,
por temer o vôo das vespas.
Acenou para os legumes,
que, revelando ciúme,
cobravam sua atenção.
Preocupou-se com o tomate,
julgando que a face corada
queimara-se na madrugada.
Achegou-se à berinjela,
que roxa pareceu a ela
ter a cor da aflição!
Jurou que um certo duende
houvesse pintado listrinhas
no corpo da abobrinha.
Isso assim era demais!
Voltou pra casa, correndo,
nem sequer olhou pra trás.
Na sala entrou sem demora.
Pediu à mãe nessa hora
de presente uma porta.
E durante a madrugada,
pelos amigos da horta,
trocou o portão pela porta.