O AMOR DUMA ROSA COM O UM LAGO



A tarde já rompia as esquinas nos altos-relevos, onde se podia observar a descida do sol por trás daquelas superfícies montanhosas que encobriam o grande Lago azul e verde. e num posicionamento, um painel de multicores na refração brilhosa que se estendia na mansidão. Os pássaros deslizavam voos rasantes entre o bosque e a extensão de águas cercadas pela coloração da vegetação, e se arrastavam no chão centrado das árvores de onde a pipira-azul deslumbrava seu cântico apressado dentre outras, além dos bem-te-vis que mergulhavam em belas acrobacias.

Eram tantos pássaros se instalando na vegetação a procura de seus ninhos e entre eles, podia-se contar o beija-flor - de peito-azul, curica, socó, sabiá, alma-de-gato, bico-de-brasa, joão-de-barro, papa-capim, chico-preto, curiatan, sibite e rolinha. Enquanto os minutos se apressavam nos compassos da vida, o martim-pescador lançava o seu bico nas águas do lago numa velocidade incalculável e macia, levando o peixe às alturas e ultrapassando os limites de suas observações náuticas.

As aves com suas vestes coloridas transmitiam no fechamento do dia, a mais flexível e tenra orquestra ao céu aberto numa felicidade contagiante no alívio sem obedecer qualquer ordem no espaço aéreo.

Naquela mesma tardezinha, uma roseira na coloração divina do amor, soluçava sem sobrestar na beira da margem direita do Lago, deixando escorregar gotículas incolores que respigavam nas águas. A tristeza invadia o coração mais popular do mundo e conhecida desde a antiguidade como Rosa, suas folhas suadas emitiam o silêncio de uma agonia arregaçada pela ventania das seis horas que derrubavam suas corolas perfumadas, e por isso, chorava. Outrora, atrelava-se em várias direções na proteção incondicionada das brisas. Era um desafio, uma batalha contra a própria natureza. O Lago ao perceber a flor mais antiga do planeta lançando gotas de água salgada no seu corpo e insatisfeito com tal situação, o Lago perguntou:

- Rosa! Ó Rosa! Por que estais a chorar?

Irrequieta, a porção mínima daquele líquido aquoso pingava em forma de esferas e com o olhar abatido, respondeu:

-Eu choro porque os homens só me apreciam quando estou nova, brilhante, bela e cheirosa. Depois, começa a cair as minhas pétalas levadas pelo vento. Assim,  todos me recusam. É doloroso sentir o bálsamo descer nas profundezas desse lago.

O Lago comovido tenta transpirar mais compreensão e candura, dizendo:

- Ó Rosa! Não choras! Vejas que outras rosas desabrocham no amanhecer, e logo, tu estarás feliz e toda airosa perfumando todo o meu interior. Não lagrimas! És querida no mundo inteiro. E não será por esse motivo que deves deitar as tuas preciosas lágrimas sobre mim. Tu sabes que a rainha Cleópatra banhava com as pétalas retiradas delicadamente do jardim com resplendor e beleza de amor.

Ela respondeu com um aceno balançando no ar o arbusto suave e melancólico.

-É verdade. Eu sempre enfeitei a nobreza e a pobreza que se espelham em mim, e fico triste quando perco uma pétala que o sol emagrece no entardecer de cada dia. Estou só. Os pássaros já estão nos seus ninhos, e a ventania me devora sem que eu pudesse agradar uma dama ou um cavalheiro.

Sem demora, o Lago disse arremessando um banho de água apertando seus olhos.

-Você é feliz, comunicando em vários tons a alegria nos beirais do meu sorriso. Você não pode chorar. Uma rosa não chora! E quanto a minha pessoa. O que sou? Apesar de alimentar o mundo inteiro, eu mato a sede de todos os seres vivos na terra.

De repente, a Rosa soltou uma grande gargalhada.

-Você também é feliz? E tudo isto me deixa completa neste entardecer.

Indignado, o Lago responde.

-Você não sabe nada sobre a minha vida. Eu estou passando por seriíssimos momentos. Você não sabe o quanto tenho sofrido ultimamente. Vejas por todas as minhas margens o que fazem comigo? Vejas o considerável volume de entulhos que os homens depositam no meu coração. São toneladas e mais toneladas de lixos jogados pelas pessoas. A minha respiração está frágil e sem compasso, mas ainda resisto porque a vida é a minha natureza.

Exclamou a Rosa com penúria do Lago.

Não acredito que fazem tudo isto contigo.

-Sim. Além dos audaciosos homens de negócios imobiliários que pretendem fazer um grande resort, cortando as minhas veias e erguendo no centro grandes área de lazer.

Afirmou a Rosa:

-Os homens são medonhos.

-Oh! Sim. Você me perfuma hoje, e não sabe a tristeza que levo em todo o meu curso d’água. Amanhã, posso não mais existir. Mas você Rosa, sempre existirá nesta face da terra.

Ainda entristecida, assentiu com a cabeça.

E na manhã seguinte, uma construtora internacional fora contratada para aterrar o lago, homens desembarcavam enormes quantidades de maquinários, tais como: os maiores do mundo em atividade com modernas caçambas, um trator de esteira D575A japonês com potência de 1150 HP  com um volume de arrasto de 45m³ ; uma cavadeira rotativa Bagger 288 alemã com 92 metros de altura, com capacidade para remover 76.455 metros cúbicos de material por dia, além da maior caçamba 797B, caterpillar com peso operacional de 200 toneladas, motor com 3.550 HP e tanque combustível de 6.800 litros com capacidade de carga de 380 toneladas.

Barulhos dos pássaros voando sem direção e sem controle, mergulhavam em volta do Lago como se fossem velas acesas em prol daquele manancial. E o Lago pressentiu os seus últimos momentos sem que nada pudesse fazer. Enquanto nos seus beirais transbordavam águas em prantos.

A Rosa atentamente indaga ao Lago.

-O que está acontecendo? É impressão minha tudo isto? Fale-me querido?

Rancores se espalhavam na superfície das águas com pontos negros e pontiagudos outrora avermelhados retorcidos por uma flâmula recortada ao meio na transpiração dos prantos, e o Lago retratado no centro de suas dores, agonizava silenciosamente.

Insatisfeita, a Rosa inquire com insistência balançando seu caule sobre o Lago;

-Fale-me Lago! Conte tudo e não me esconda nada! Eu não tenho a menor intenção de aborrecer você ao falar em seus olhos.

Respondeu o Lago murmurando por toda a sua superfície aguada numa aflição descontrolada.

-Estou partindo Rosa! Veja os maquinários que me vem soterrar em minutos. São as maiores máquinas do mundo já construídas. 

-Não chore! Tenha calma! Ainda que as minhas pétalas se abram no amanhã, pedirei ao Onipotente Deus que ordene uma tempestade avassaladora sobre este projeto, e transforme este local no maior lago do mundo.

Disse a Rosa condoída com a situação dos homens e suas máquinas gigantescas paralisadas ao lado do lago.

Imediatamente, o Lago implorou:

-Não faça isso, Rosa! Se houver uma tempestade dessas, você não sobreviverá.

- Não! Grande Lago. Você não viu que os pássaros e o vento? Eles já levaram a minha herança a outros horizontes.

-Sim. Respondeu o Lago cerrando os olhos.

A Rosa não mediu esforços para controlar a situação vexatória que se estendia nos olhos quando proclamou.

-Veja que eu posso fazer algo por você como já implorei que transformasse tudo isto no maior Lago do mundo, levando estas máquinas para o fundo do seu estômago.

Não tardou uma ventania com versão de um enorme ciclone assoprou velozmente o local com trovoadas e lançamentos de raios, afastando os homens que abandonaram tudo. Corrente de ar oriunda do lado norte encontrava-se com as colunas assombrosas do leste, refazendo um contorno no Lago enfurecido que inundou em poucos instantes todo o local. A Rosa partiu-se ao meio quebrando os seus galhos, caules e flores, arrastada sem horizontes.

Após a mudança temporal, a luz resplandecente iluminava num tom azul-prateado por trás das árvores acobertadas num mar de água doce e amena. O Lago sorria com a magia traduzida nas palavras da Rosa perfumada e toda airosa. Os resultados naturais ocasionados com a torrente chuva eliminaram por todos os lados a possibilidade do homem investir contra a natureza edificando naquela depressão o maior e mais belo lago do mundo, maior que o Mar Cáspio, melhor que o Lago Vitória, exuberante quanto o lago Michigan, e tantos outros existentes na terra.

Não demorou muito, o Lago fora a procura insistentemente da Rosa que isolada fora tragada pela furiosa enchente, as águas baixaram no seu nível normal, somente assim, o velho Lago e conselheiro teve o intento de juntar milésimos e milésimos pedacinhos da composição química e biológica da Rosa, nascendo em suas largas margens milhões de rosas de todas as espécies que o homem jamais conheceu.

E dizia entusiasmado o Lago sacudindo nas margens suas águas:

-É daqui que nasce a vida. É daqui que posso construir as mais belas flores do mundo com ordem expressa do Construtor do Universo. Faça-te Rosa num grande Rosário.

E tudo se transformou nas palavras mágicas do Lago. Uma Rosa brotou do caule cravado da margem esquerda num magnífico e clamoroso botão de Rosa na cor vermelha, tão logo abriu suas pétalas, lançando-se ao Lago, agradecendo o seu amor e sacrifício por tê-la salvado na comunhão universal.

Então finalizou esta:

-Ó grande Lago do universo! A gratidão de uma tristeza que se chore, às vezes fere a alma, e não se conhece quando bate nas portas das outras pessoas. Só o amor é capaz de revelar a proeza da magia inexplicável e abstrata.

O lago complementou em seguida:

-Ó Rosa! O amor de alguém que lhe queira bem pode fazer ou até mesmo transformar o amor desconhecido na revelação máxima da irmandade. A vida é assim, completamente bem planejada nos seus dias e horas por Deus. Ninguém é capaz de dar a sua própria vida se não for por amor, e o amor é a maior bênção entre nós. Ó Rosa! Veja que o teu sacrifício em morrer em minha causa, fizera renascer do pó e água a tua eterna vivência tão bela por todos os jardins da terra e dos céus.


ERASMO SHALLKYTTON
Enviado por ERASMO SHALLKYTTON em 13/02/2008
Reeditado em 03/10/2011
Código do texto: T857228
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