MEMÓRIAS DE UMA PIPA -Parte Final
Quando despertei, o menino levava-me para casa.
Eu sentia-me por baixo.
AR-RA-ZA-DA!
Envergonhada tentei explicar à linha:
-Perdi o controle. Não me dou bem com alturas.
Ela nada respondeu. Estava decepcionada comigo.
-O que vai ser de mim agora?
Novamente não tive resposta. Aquele silêncio doía-me mais do que qualquer crítica. Eu preferia até que ela me xingasse.
Sentia-me tão imprestável que até pensei que melhor mesmo seria eu morrer.
Mas agora eu estava com medo. Morrendo de medo de morrer. Por certo o menino daria cabo de mim. Afinal pra que uma pipa que não voa?
Como enganei-me.
Tudo o que ele fez foi remendar-me , onde eu havia me ferido.
Depois acrescentou-me uma parte, dizendo:
- Com esta rabiola não vai mais dar cabeçadas.
E levou-me de volta ao campinho.
No caminho puxei assunto:
-Será que vai dar certo?
Foi o mesmo que falar sozinha. A linha não estava nem aí.
Fiquei magoada. Pô!... Eu é que não iria ficar a vida toda paparicando aquela chata. Afinal tinha meu orgulho. Não haveria de ficar me humilhando eternamente.
E mais!...Iria provar que eu não era uma fracassada, como ela estava achando.
Quando o menino correu pra dar-me impulso, subi com toda a minha força de querer. "Eu vou conseguir-pensava positivamente- Eu vou conseguir."
Lá em cima comecei sentir tonturas novamente, mas a rabiola me deu equilíbrio.
-Iuuuupi! Eu sabia que você conseguiria. Eu sabia! -Esclamou a linha toda feliz. Tão feliz que nem o menino lá em baixo com vontade de voar também.