A árvore esperançosa
A Árvore Esperançosa
A festa já durava horas. Os animais dançavam e brincavam, suados e cheios de energia. O macaco, como sempre, era o mais festeiro. Mas, ao longe, Dona Coruja, a lebre e a árvore observavam em silêncio, preocupadas. Algo pairava no ar.
Dona Coruja ajeitou os óculos, pensativa. Sua mente trabalhava rápido diante da possibilidade de algo grave acontecer. De repente, levantou voo, fez um sinal com a asa e pigarreou alto.
— Amigos! — gritou ela. — Parem um instante!
Todos congelaram. O macaco, com suor escorrendo pelo rosto, coçou a cabeça intrigado. A coruja continuou:
— Estamos nos divertindo, mas temos um problema sério. Se não agirmos agora, nosso lar pode ser destruído. E, sem a floresta, onde iremos viver?
A garça, altiva como sempre, ergueu o pescoço e balançou as asas.
— Talvez você tenha razão, Dona Coruja. Confesso que às vezes acho que Dona Árvore exagera, mas... pensando bem, isso pode ser grave. — Sua postura antes orgulhosa deu lugar a um semblante de preocupação.
A árvore, com lágrimas silenciosas em suas folhas, murmurou:
— Foi isso que eu sonhei. No meu pesadelo, ouvi o som das motosserras e senti a dor de cada golpe no meu tronco. Era insuportável!
Dona Coruja pousou em um galho próximo e falou com firmeza:
— Não estamos sozinhos, amigos. Vamos enfrentar isso juntos!
De repente, um som distante ecoou pela mata. O barulho das folhas denunciava a aproximação de alguém. Num voo gracioso, uma arara-azul surgiu entre as árvores e pousou perto do grupo.
Todos ficaram em silêncio, surpresos com a visitante. Era raro ver uma arara-azul, uma espécie tão ameaçada. Dona Coruja foi a primeira a falar:
— Seja bem-vinda, amiga! Estamos felizes em vê-la.
A arara-azul, com um olhar sério, respondeu:
— Obrigada. Eu sei dos problemas que enfrentamos. Vocês têm sorte por ainda terem essa floresta. Muitos dos meus já perderam tudo para as queimadas e o desmatamento.
Dona Coruja explicou o sonho da árvore, e a arara assentiu com tristeza:
— O que ela sonhou é a minha realidade. Perdi minha família para o fogo, causado pela ganância humana. Primeiro derrubaram as árvores, depois queimaram tudo.
Os animais ficaram em silêncio, sentindo o peso daquelas palavras. A lebre deu um pulo e exclamou:
— Não podemos só falar sobre isso! Precisamos agir!
Nesse momento, passos quebrando galhos secos chamaram a atenção de todos. Um ser de cabelos ruivos e pés virados para trás apareceu. Os animais gritaram em coro:
— É o Curupira!
O Curupira acenou, sério, mas sua expressão suavizou ao ver a alegria dos bichos.
— Vim porque senti que algo está errado — disse ele. — E estou aqui para defender a floresta.
De repente, uma densa fumaça começou a se espalhar. O cheiro de queimado invadiu o ar. A arara-azul voou para verificar e voltou alarmada:
— É um incêndio! Alguém está queimando a floresta!
Os animais entraram em ação. Liderados pelo Curupira, trabalharam juntos: os macacos carregavam galhos molhados, a garça buscava água nos rios, e a arara ajudava a coordenar os esforços. Enquanto isso, Dona Árvore fechava os olhos, sentindo a dor da floresta queimada.
Horas depois, exaustos e cobertos de fuligem, os animais retornaram. O incêndio estava contido. O Curupira, ainda ofegante, reuniu todos em volta da árvore.
— Hoje salvamos nosso lar, mas a luta continua. Sozinho, eu não consigo proteger toda a floresta. Preciso de aliados!
A arara-azul levantou voo, pousando num galho alto.
— Podem contar comigo. Vou mobilizar as crianças humanas. Elas podem nos ajudar a reflorestar e proteger o que ainda temos. Não podemos perder a fé!
Todos concordaram. A partir daquele dia, a missão ficou clara: conscientizar as crianças, promover ações de reflorestamento e nunca deixar de lutar pelo futuro da floresta.